Indicadores de serviços devem ter piora nos próximos meses com o avanço da Covid
O setor de Serviços de Hospedagem e Alimentação — que foi o grande destaque de fevereiro com alta de 8,61%, pelo aumento da circulação de pessoas — deve recuar


O volume do setor de serviços do Brasil cresceu 3,7% em fevereiro em relação a janeiro na série com ajuste sazonal, retomando níveis pré-pandemia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número surpreendeu até mesmo os analistas, mas será que a tendência positiva deve se manter nos próximos meses?
Segundo especialistas consultados pelo CNN Brasil Business, a resposta é não. Espera-se uma nova queda no setor, já que houve endurecimento das regras de distanciamento social. “Tanto é que o PMI de Serviços referente a março, publicado na semana passada, mostra uma queda de 47,1 para 44,1”, diz Marcus Macedo, CIO do Andbank.
Isso deve ficar explicito nos números do setor de Serviços de Hospedagem e Alimentação, o grande destaque do mês de fevereiro, com alta de 8,61%. “O setor vinha se beneficiando do aumento de circulação de pessoas, na esteira de medidas restritivas mais brandas e do próprio relaxamento da população com medidas sanitárias. O recruscimento da pandemia, com o consequente aperto das medidas restritivas, terá relação direta com a queda no volume de vendas deste setor”, explica.
Segundo a Secretaria de Política Econômica, o desempenho positivo do setor de serviços em fevereiro consolidou cenário de crescimento da atividade no primeiro trimestre do ano, mas os dados de março serão afetados pelo agravamento da crise da pandemia no país.
“O recrudescimento da pandemia, a grande quantidade de brasileiros infectados pela Covid-19 e o aumento das regras legais de distanciamento afetarão negativamente o setor no mês de março, com efeitos para o PIB do 1T21. No entanto, a desaceleração será bem menor do que a ocorrida no início da pandemia”, disse a SPE em nota.
Para a secretaria, a retomada consistente dos serviços se dará com a vacinação em massa — que abriria espaço para uma recuperação dos serviços prestados às famílias, que seguem bem abaixo do patamar de fevereiro de 2020 — e a continuidade da agenda de reformas e consolidação fiscal.
Então, o que explica essa melhora dos dados de fevereiro? Um dos motivos foi o aumento da circulação de pessoas no segundo mês do ano. Mas não só. “Alguns setores, como o de serviços prestados às famílias, partiram de uma base muito baixa por conta da pandemia do novo coronavírus. No entanto, houve um avanço superior ao esperado, puxado pelo feriado de carnaval”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Por causa dessa base fraca de comparação, todas as grandes categorias apresentaram resultados positivos. Destaque para a atividade de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que acumulou ganho de 8,7% no ano, superando em 2,8% o nível de fevereiro de 2020.
Os serviços profissionais, administrativos e complementares (3,3%) e os serviços prestados às famílias (8,8%), por sua vez, encurtaram o distanciamento frente ao período pré-pandemia, com -2,0% e -23,7%, respetivamente. Outros serviços (4,7%) e informação e comunicação (0,1%) se encontram 1,0% e 2,6% acima do nível de fevereiro de 2020.
No entanto, é preciso ter cuidado ao analisar os números, já que o ajuste sazonal demonstrou dificuldades para capturar o movimento de fechamento da economia. “O ajuste sazonal teve algum tipo de quebra estrutural desde a pandemia”, disse Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE.
O pesquisador ressalta que não há nada de errado com o modelo de ajuste sazonal e que “está certíssimo”, mas comportamentos atípicos de consumo ao longo da pandemia podem explicar, por exemplo, quedas intensas nos serviços prestados às famílias nos meses de julho, dezembro e janeiro, tradicionalmente meses de férias escolares.
“E essa taxa mais positiva no mês de fevereiro pode ter tido a ver com uma dificuldade do modelo de entendimento”, apontou Lobo. “Páscoa, carnaval, todos esses pontos estão inseridos e não podem ser expurgados na série. Esse é o modelo que foi proposto, a gente segue com ele”, completou.
O pesquisador sugere que a série histórica da Pesquisa Mensal de Serviços seja lida sob uma perspectiva de mais longo prazo ou em outro tipo de comparação, como a da média móvel trimestral ou a que se refere ao mesmo mês do ano anterior. “Nesse modelo de ler um contexto absolutamente atípico que a gente está vivenciando, a melhor leitura dos dados é aquela num prazo mais alongado”, defendeu.
Comparação com fevereiro de 2020 (sem ajuste sazonal)
Tanto é que, sem ajuste sazonal, o volume do setor de serviços recuou 2% em relação a fevereiro do ano passado, a 12ª taxa negativa seguida deste indicador. No entanto, foi a queda menos intensa desde março de 2020 (-2,8%). Houve retração em três das cinco atividades e crescimento em 38% dos 166 tipos de serviços analisados.
Trata-se de um resultado ruim, mas a expectativa era de número ainda pior. “O resultado foi melhor que o esperado por nós (de -2,7% a/a), pela mediana do mercado (-3,7% a/a) e que o teto das projeções do mercado”, disse o Banco Safra em relatório enviado aos seus clientes.
“As categorias mais resilientes à crise mostraram um desempenho bastante positivo, o que pode ser um sinal de queda menos intensa dos serviços em março, mês em que as medidas de distanciamento social foram adotadas em larga escala no Brasil.”
No acumulado dos últimos 12 meses, o setor manteve a trajetória descendente iniciada em janeiro de 2020 e apontou o resultado negativo mais intenso da série histórica, iniciada em dezembro de 2012, recuando 8,6%. A queda dos serviços prestados às famílias, indicador que mais sofre no período, foi de 28,1%.
(Com Reuters)