Surto do novo coronavírus afeta resultado da balança comercial brasileira
Empresas do país que dependem de insumos chineses dão férias coletivas oas funcionários por falta de material para trabalhar


Na terceira semana de fevereiro o Brasil ganhou U$ 3,969 bilhões com exportações e gastou outros U$ 3,446 bilhões com importação, o que resultou um superávit de U$ 520 milhões. Apesar dos números positivos da balança comercial, no acumulado de fevereiro, houve queda na importação, resultado que foi impulsionado pela diminuição dos gastos com equipamentos mecânicos, produtos farmacêuticos e eletroeletrônicos. Isso ocorre devido ao surto do novo coronavírus, que afeta bolsas de valores e a cotação das moedas pelo mundo nos últimos dias.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil, tanto para exportações quanto para importações. Com várias fábricas chinesas fechadas por conta da doença, empresas brasileiras que dependem dos insumos produzidos pelo gigante asiático estão dando férias coletivas aos funcionários por falta de material para trabalhar.
Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), explica: “42% de tudo que nós importamos vem da China, outros 38% do que é importado vem da Ásia. Não é fácil fazer uma substituição rápida desse componente até porque é preciso qualificar produtos e fornecedores. Acredito que só houve situação parecida durante o período da 2ª guerra mundial, quando havia uma dificuldade no transporte de mercadorias que vinham da Europa para o Brasil”.
Mesmo com o atual cenário, o presidente da Abinee continua otimista em relação ao crescimento do setor de eletroeletrônico para 2020. “Se em março as fábricas chinesas retornarem as atividades, o crescimento para este ano em termos de venda continua sendo o que já era previsto: 5%. Portanto, nós acreditamos, sim, que conseguiremos reverter o quadro em abril”, afirma Barbato.
No entanto, Antônio Lanzana, do Conselho de Economia Empresarial (Fecomercio-SP), afirma que, com a desaceleração mundial da economia, principalmente com a chegada do coronavírus na Europa, a expectativa de crescimento do Brasil deve cair. “Acho que vamos ter um crescimento fraco novamente. O cenário da doença ajuda a dificultar, porque a incerteza é maior, e os investimentos começam parar”, diz.
Para Lanzana, a maior arma que o Brasil tem para combater os reflexos do novo coronavírus na economia é dar continuidade às reformas. “Sinalizações claras por parte do Congresso de que as reformas vão evoluir e sinalização clara da equipe econômica de que o ajuste fiscal vai ser muito aprofundado. Acho que isso minimizaria os impactos do contagio sobre o Brasil”, conclui.