Bolsa fecha em queda com aversão a risco em meio à pandemia
Cenário de incertezas permanece em abril, após índice acumular queda de quase 30% em março


A bolsa brasileira fechou em forte queda nesta quarta-feira (1), sem sinais de alívio nas preocupações quanto aos impactos da COVID-19 na economia global.
O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em desvalorização de 2,81%, a 70.966 pontos.
O clima de aversão ao risco continua dominando os mercados diante da falta de sinais de arrefecimento do ritmo de contágio do novo coronavírus e, consequentemente, das medidas de confinamento. Assim, permanecem as dúvidas sobre o tamanho do efeito que a pandemia provocará na atividade econômica mundial.
Para o chefe de produtos da Monte Bravo, Rodrigo Franchini, a aversão reflete, sobretudo, as incertezas sobre os efeitos do vírus na economia dos Estados Unidos.
“Apesar dos planos e pacotes, a questão de saúde é um problema maior porque pode levar a um ‘lockdown’ por mais tempo do que se previa anteriormente”, afirmou Franchini, que também é sócio na empresa de assessoria de investimentos.
No caso do Ibovespa, contudo, ele avalia que o pior pode já ter passado, com o índice no patamar dos 70 mil pontos ficando “atrativo”. “Dificilmente vai perder mais do que isso.”
Na visão do estrategista Dan Kawa, sócio na TAG Investimentos, enquanto não houver uma visibilidade sobre quando países ocidentais irão achatar a curva de contágio do vírus, não se saberá a dimensão da quarentena e os impactos econômicos.
O cenário nebuloso à frente se refletiu em cautela nas estratégias de ações para abril.
“Com um cenário incerto à frente, nós decidimos aumentar a qualidade e o perfil defensivo do nosso portfólio, além de deixá-lo mais diversificado”, escreveram Carlos Sequeira e Osni Carfi, do BTG Pactual, em relatório a clientes.
Para a equipe da BB Investimentos, o mercado financeiro está vivendo momentos de pânico, apoiados no cenário recessivo da economia global, cujos impactos começam a ser calculados, mas ainda sem uma clara definição do real choque econômico.
Março desastroso
Na véspera, o Ibovespa caiu 2,17%, a 73.019 pontos. Em março, acumulou desvalorização de 29,9%, a maior desde agosto de 1998.
O mês foi marcado por uma sequência de seis circuit breakers, quando a B3 precisou interromper diversas vezes as negociações, dadas as perdas vertiginosas.
Além dos temores sobre os efeitos do COVID-19, pesou também a disputa pela produção de petróleo entre Arábia Saudita e Rússia, que intensificou a volatilidade nos mercados.
Destaques do pregão
Azul PN e Gol PN recuaram 15,38% e 12,23%, entre as maiores quedas do Ibovespa, sem sinais de alívio no ritmo de contágio do Covid-19 e de perspectivas de cancelamento das restrições à circulação de pessoas. A valorização do dólar em relação ao real era mais uma pressão negativa para o setor, que têm custos na moeda.
CVC ON perdeu 15,32%, com o setor de turismo entre os mais afetados pela pandemia. A alta do dólar ante o real também pesa, assim como divulgação recente sobre evidências de erros contábeis pela empresa. A operadora de turismo adiou a divulgação de suas demonstrações de resultados referentes a 2019 sem marcar nova data.
Via Varejo ON caiu 11,93%, tendo de pano de fundo comunicado da XP Gestão de que reduziu participação na companhia. A carteira recomendada da XP Investimentos para abril também excluiu os papéis. No setor, Magazine Luiza perdeu 3,87% e B2W ON subiu 0,17%.
Itaú Unibanco PN e Bradesco PN recuaram 7,24% e 4,38%, respectivamente, contaminados pela aversão a risco, além de preocupações sobre os efeitos no setor bancário em razão dos reflexos da epidemia de Covid-19 na economia brasileira. Banco do Brasil ON caiu 4,23%.
Petrobras PN subiu 2,22%, mesmo em sessão marcada pelo declínio dos preços do petróleo no exterior em razão de preocupações com a demanda e após valorização relevante na véspera. Petrobras ON avançou 0,5%.
JBS ON fechou em alta de 7,03%, em sessão positiva para o setor de proteínas no Ibovespa, com Marfrig ON subindo 3,95% e BRF ON em alta de 3,45%. Minerva ON avançou 3,77%.
Vale valorizou-se 0,35%, entre poucas ações com sinal positivo. A mineradora disse que poderá haver impacto no volume de produção de finos de minério de ferro em 2020 se falhar em elevar a capacidade de produção em sua mina de Brucutu.
*Com Reuters