Covid-19 atrai novatos na bolsa, mas valor médio investido cai 58% em dois anos

Segundo a B3, redução no valor aportado pode estar atrelado a questões como diversificação de carteira, compra de ações fracionadas e mais educação financeira

Com os juros chegando a mínimas históricas e os efeitos da pandemia de coronavírus derrubando o preço dos ativos, cada vez mais brasileiros têm considerado o mercado de ações como uma opção de investimento. Nesta terça-feira (19), a B3 anunciou que o número de pessoas físicas na bolsa de valores do país continua crescendo, depois de bater a marca dos 2 milhões, em abril.

Só no primeiro trimestre de 2020, o número de CPFs na bolsa aumentou em 400 mil – mais da metade do crescimento de todo o ano anterior, que fechou com saldo positivo de 700 mil – chegando aos 1,7 milhão de investidores na B3. As três ações mais procuradas por quem inicia neste mercado são as da Petrobras, Itaú e Via Varejo – gigante do setor varejista, responsável pela operação de Casas Bahia e Pontofrio.

“Houve muito movimento de compra justamente nos dias de maior volatilidade. Nas ocasiões em que foi acionado o circuit breaker, houve uma média de compradores acima do comum”, diz Felipe Paiva, diretor de relacionameno com clientes da B3.

Mas, se a combinação entre a maré baixa e juros em patamares mínimos históricos aguçou o interesse dos investidores me renda viarável, o valor aportado por eles, porém, passou a cair consideravelmente. A análise elaborada pela B3 demonstra que, apesar da entrada numerosa de novos investidores na bolsa, a representatividade em termos de capital não é tão expressiva. 

Segundo a B3, o valor médio aportado caiu quase 60%. Isso porque, em 2018, por exemplo, o saldo médio de aportes era de R$ 19 mil. Já em março deste ano, a quantia caiu para R$ 8 mil — representando a queda de 58%.

Entre os motivos que explicam o tombo no valor médio aportado, estão: diversificação de carteira e pessoas físicas menos ‘endinheiradas’ – mas que também querem investir. Entre os novatos, os pequenos investidores, que operam com contas de até R$ 10 mil, foram os que mais cresceram.

Em 2016, 78% das pessoas físicas investiam apenas em ações. Em 2020, esse número cai para 54%. Atualmente, 48% das pessoas físicas tem cinco ou mais ativos na carteira e menos de 25% da base tem apenas uma aplicação.

Educação financeira

Na análise de Paiva, a queda no valor médio investido e o aumento de pessoas físicas aportando em renda variável traz uma notícia positiva ao mercado: educação financeira. Isso porque, com mais acesso à informação, a população tem entendido que não é preciso muito dinheiro para entrar na bolsa. Pelo contrário: as opções de ações fracionadas, por exemplo, permitem que aportes pequenos e uma diversificação maior na carteira. 

“Informações vindas de corretoras, bancos e influenciadores sociais têm sugerido que esse momento seria uma boa oportunidade para os investidores se posicionarem na bolsa, que oferece rendimentos maiores”, afirma Paiva. 

Perfil dos investidores

Sobre o perfil dessa nova base, a maior parte ainda é formada por investidores do sexo masculino, que atualmente representam 75% do total. E, embora esteja crescendo, a participação das mulheres aumenta em ritmo lento. Em 2013, a parcela feminina na base de CPFs era de 24%. Hoje, sete anos depois, elas representam 25% — apenas um ponto percentual a mais. 

Ao longo dos últimos anos, também houve um rejuvenescimento desse grupo de novos investidores. Em 2017, as pessoas entre 25 e 39 anos que investiam na bolsa, representavam 28% do total de pessoas físicas. Atualmente, os jovens formam 49% dessa base. “Os investidores jovens também estão mais preparados, chegam com mais informações sobre o mercado”, avalia Paiva.

Em termos de aporte, a tendência das pessoas físicas continua sendo aplicar com cautela. Dos 223 mil novos investidores que entraram na bolsa em março, 20% fez a primeira operação com menos de R$ 500. No panorama geral, os day traders – investidores que realizam pelo menos uma operação por dia — também são minoria.

“O que podemos observar pelos gráficos, é que os investidores têm uma tendência de aguardar e observar o mercado, realizando movimentos pouco recorrentes”, observa Paiva.

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