Dólar sobe e fecha a R$ 5,82 com ruídos locais, na 2ª maior cotação da história
Câmbio foi afetado por incertezas do lado fiscal e também pela expectativa da divulgação da ata do Copom, que trará detalhes sobre o corte da Selic à 3%


O dólar subiu forte e fechou na segunda maior cotação da história nesta segunda-feira (11), na casa dos R$ 5,82. O câmbio foi afetado por incertezas do lado fiscal e também pela expectativa da divulgação da ata do Copom, que trará detalhes sobre a decisão do Banco Central de cortar os juros e sinalizar mais afrouxamento monetário.
A moeda norte-americana encerrou o dia em alta de 1,47%, a R$ 5,8242 na venda.
A pressão no câmbio fez o BC anunciar leilão de até 10 mil novos contratos de swap cambial tradicional já perto do fim da sessão no mercado à vista, com colocação do lote integral.
O dólar subiu contra boa parte de seus rivais nesta segunda. Mas a moeda brasileira recorrentemente tem sofrido mais do que as de outros países emergentes, por conta do risco em torno da deterioração das contas públicas.
“Por mais que se pense que o real está fora de seu equilíbrio — com alguns falando que seria perto de 4,75 (reais por dólar) –, não dá para começar a ir contra o movimento de depreciação cambial sendo que podemos entrar em um cenário no qual a visão sobre a dinâmica fiscal está longe de ser animadora”, disse Cleber Alessie, operador da Commcor DTVM.
O Itaú Unibanco piorou nesta segunda-feira sua estimativa para déficit primário em 2020 de 8,0% para 10,2% do PIB, para o equivalente a R$ 735 bilhões. O banco vê resultado nominal — que inclui os juros da dívida — negativo em 14,2% do PIB neste ano, contra déficit de 5,9% do PIB em 2019.
“O risco de deterioração fiscal maior, a contração mais intensa da atividade econômica e os juros mais baixos nos levaram a revisar o nosso cenário de taxa de câmbio”, disseram os economistas do Itaú na expressiva revisão de cenário divulgada nesta segunda-feira.
O banco passou a ver dólar em R$ 5,75 ao fim de 2020 e em R$ 4,50 ao fim de 2021. Antes, as projeções estavam em R$ 4,60 e R$ 4,15, respectivamente.
Mais cedo, analistas consultados pelo BC voltaram a reduzir a expectativa para a taxa básica de juros neste ano e passaram a prever contração econômica de mais de 4% em 2020.
O mercado comentou ainda nesta sessão ruídos em torno da possibilidade de o Senado votar na semana que vem aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre instituições financeiras, num momento em que o governo aumenta gastos contra a pandemia.
Clima político
O clima de incerteza política também esteve entre as pressões sobre o real nesta segunda.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello decidiu no sábado levantar por ora o sigilo do vídeo de uma reunião ministerial, especificamente para os envolvidos no inquérito do STF que investiga as acusações do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro estaria tentando interferir politicamente na Polícia Federal.
“Localmente, o mercado aguarda que o barulho político do fim de semana não atrapalhe os rumos dos vetos do presidente, em especial do aumento do funcionalismo, essencial neste momento de pandemia”, acrescentou a Infinity Asset.
Bolsonaro afirmou na quinta-feira que vai vetar parte do projeto de auxílio aos estados aprovado pelo Congresso, atendendo a recomendação do ministro da Economia, Paulo Guedes. O trecho desaprovado é o que excluiu algumas categorias de servidores de regra de congelamento salarial.
Investidores citam ainda expectativa em relação à ata do Copom, que deve esclarecer o cenário visto pelo Banco Central para justificar o corte dos juros básicos à nova mínima de 3%.
Cenário externo
No exterior, mercados internacionais observaram com cautela a reabertura gradual de grandes economias. A alta nas infecções por coronavírus na Alemanha após o relaxamento das medidas de isolamento pesava sobre as análises, minando as esperanças de uma retomada rápida das atividades.
“(…)A detecção de novos casos de vírus elevou os alertas e fez com que a retomada da atividade sofresse novos reveses”, disse em nota a Infinity Asset.
“Isso pode não evitar o retorno das atividades em algumas localidades do hemisfério norte, porém, dá o sinal de que o tratamento vacinal continua sendo a única solução crível para o vírus no curto prazo, e, enquanto isso não acontecer, o ‘vai e vem’ pode ser mais constante.”
Na última sessão, na sexta-feira, o dólar fechou em queda de 1,71%, a R$ 5,7401 na venda.
*Com Reuters