Após intenso sobe e desce por incerteza, dólar fecha em alta, a R$ 5,83
Na semana, o dólar à vista acumula valorização de 1,73%


O dólar fechou em alta moderada nesta sexta-feira (15), após operar sob intensa volatilidade durante todo o dia. Os investidores estiveram atentos ao cenário político e também monitoraram o Banco Central, após intervenção mais intensa da autarquia na véspera.
A moeda dos Estados Unidos encerrou o dia em alta de 0,33%, a R$ 5,8392 na venda.
Durante as negociações, o câmbio oscilou entre valorização de 0,86% (para R$ 5,8700) e queda de 1,03% (a R$ 5,7600), evidência do grau de incerteza do mercado sobre o cenário para o país.
Na semana, o dólar à vista ganhou 1,73%.
O pedido de demissão de Nelson Teich do cargo de ministro da Saúde, feito menos de um mês após ele assumir o cargo no lugar de Luiz Henrique Mandetta, adicionou volatilidade ao mercado.
Para a economista Zeina Latif, a saída de Teich evidenciou que existe um problema de gestão na Saúde. E, se o governo não tiver uma estratégia bem-definida para a área, será impossível que o Brasil relaxe o isolamento de maneira segura para que a atividade econômica retorne.
“A saída do ministro é só a ponta do iceberg, pois sem clareza na gestão fica difícil até discutir os impactos econômicos”, diz.
Já André Perfeito, economista-chefe da Necton, avaliou que a demissão abriu uma nova frente na crise política atual. “E uma crise que chega no momento mais agudo da pandemia, sem um presidente para cuidar disso. É muito sério o que aconteceu.”
Intervenção do BC na véspera
Na véspera, o dólar à vista fechou em queda de 1,37%, a R$ 5,8202 na venda, após atuações do Banco Central, que vendeu o total de US$ 1,410 bilhão no pregão.
Segundo alguns analistas, o movimento impediu que a cotação, que chegou a R$ 5,9725, alcançasse a marca psicológica dos R$ 6. “O BC fez atuação muito maior do que o normal”, destacou Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais.
Em 2020, o dólar acumula alta de mais de 45% em relação ao real, o que faz quem a moeda brasileira tenha o pior desempenho entre mais de 30 divisas pares da norte-americana este ano.
Eduardo Velho, estrategista da iNVX Global Partners, avalia que o desalinhamento no governo, ressaltado com a saída de Teich, agravou as chances de que a moeda norte-americana atinja o patamar de R$ 6.
“Para os mercados, o viés é negativo, pois mantém acesas as preocupações com questões políticas, que se refletem no aumento do prêmio de risco e do potencial de rompimento da barreira de R$ 6,0 por dólar da taxa de câmbio.”
Nesse contexto, ainda que seja um cenário longe de qualquer consenso, há no mercado uma corrente que avalia os riscos para a inflação de um dólar perto de R$ 6.
O nível próximo de R$ 6 por ora não causa pressões nos preços, mas analistas do Morgan Stanley avaliam que isso pode mudar à medida que a situação fiscal se deteriora — movimento em curso –, o que num cenário mais agudo poderia provocar desancoragem das expectativas de inflação e impactar o repasse (pass through) cambial aos preços.
“Embora não seja o cenário-base de ninguém, nem o nosso, uma vez que o BC pesa riscos do cenário, isso tem de ser algo que deveria deter (o BC) de ir muito além (no corte de juros), especialmente considerando a questão fiscal”, disseram profissionais do banco norte-americano em nota desta sexta-feira.
A redução sucessiva dos juros brasileiros a mínimas históricas tem sido fator importante para a disparada do dólar, uma vez que afeta rendimentos atrelados à taxa Selic e torna os investimentos locais menos atraentes quando comparados aos de países com risco parecido (ou até menor) e juros mais altos.
Os efeitos no câmbio são agravados ainda pelas consequências econômicas da pandemia do novo coronavírus no Brasil e no mundo.
*Com Reuters