Dólar cai mais de 1% e fecha abaixo de R$ 5,10 após onda de estímulos

Apetite por risco no exterior cresceu em razão de medidas anunciadas contra a pandemia de coronavírus em todo o mundo, retirando pressão sobre a moeda

O dólar fechou em queda em relação ao real nesta terça-feira (24), abaixo de R$ 5,10. O recuo se deu em meio a maior apetite por risco no exterior graças à onda de estímulo global anunciada contra a pandemia do coronavírus.

A moeda norte-americana encerrou o dia em baixa de 1,12%, vendida a R$ 5,0808.

Na sessão anterior, o dólar havia fechado em alta de 2,2%, cotado a R$ 5,138, no primeiro avanço depois de dois dias em queda.

“O dólar ficou mais fraco no exterior, em queda devido à expectativa de aprovação do pacote de ajuda contra o coronavírus no Senado norte-americano”, e o real acompanhou esse movimento, disse Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais.

O pacote de estímulo econômico de longo alcance, no valor de US$ 2 trilhões, foi proposto pelos republicanos para tentar mitigar os efeitos adversos do coronavírus sobre a economia, e está em discussão no Senado. A oposição democrata busca reforçar no texto o auxílio a trabalhadores e estados dos EUA.

O Rafael Ribeiro, da corretora Clear, avalia que essa medida, somada às já anunciadas pelo Fed, o banco central norte-americano, mostra o compromisso do governo dos EUA em tentar evitar uma depressão econômica.

“Essa é a grande dúvida do mercado no momento: a recessão será inevitável, mas as medidas dos bancos centrais serão suficientes para evitar uma depressão (ou seja, uma queda profunda)?”, afirma.

Além disso, a China anunciou que vai suspender o lockdown (ordem de quarentena) em Wuhan, primeiro epicentro da doença, em 8 de abril. Para o analista Thiago Salomão, da Rico Investimentos, o mercado havia precificado uma recessão longa e profunda por conta de um lockdown muito extenso, mas há indícios de que ele pode ser menor do que o esperado, o que traz certo alívio.

“Ainda é cedo para cravar qualquer coisa, mas o que vimos hoje foi uma diminuição da volatilidade. O mercado já está oscilando com um ligeiro controle se comparar com a semana passada”, pondera.

No Brasil, na opinião de Bandeira, do Modalmais, “a situação é mais tranquila no lado político, na relação entre estados e municípios com o governo federal, devido à liberação de recursos”, o que tirou pressão do real.

O governo federal anunciou na segunda-feira um plano de R$ 88,2 bilhões em ajuda a estados e municípios, atendendo a parte dos pedidos de socorro para arcar com demandas de saúde e impactos econômicos do coronavírus.

Atuação do BC

O Banco Central não realizou leilões de câmbio nesta sessão. Mas, apenas em moeda à vista, o BC já vendeu ao mercado neste ano 9,654 bilhões de dólares.

Na véspera, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reiterou que a taxa de câmbio é flutuante e disse que a autoridade monetária tem arsenal grande nessa área do qual pode lançar mão se entender necessário.

Dólar no exterior

No exterior, moedas emergentes se apreciavam nesta terça, com rand sul-africano, won sul-coreano e rublo russo entre os destaques positivos. O dólar caía ante 30 dentre 34 pares de países emergentes e desenvolvidos nesta sessão.

Uma medida do prêmio pago por investidores europeus para tomarem dólares caiu a 8 pontos-base nesta terça, de 14,5 pontos-base na véspera. Na prática, isso mostra que o dólar está ficando menos caro, com menor demanda na margem pela moeda.

No Brasil, a taxa do cupom cambial de primeiro vencimento — visto como uma medida da percepção de liquidez no mercado de câmbio — caía a 1,75% ao ano, de quase 2,5% há cerca de uma semana.

Apesar disso, Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, pondera que ainda é cedo para se falar que o pior da crise já passou.

“Vamos começar a ver os números de atividade em queda forte, e a crise econômica de fato ainda não é mensurável. O que vimos até agora foi a reação dos mercados”, afirmou.

Com Reuters

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