Fora da realidade imaginar recuperação econômica em “V”, diz Eduardo Giannetti
Economista Eduardo Giannetti questiona projeção de Paulo Guedes e diz que recuperação da economia brasileira ainda é incerta
O IBGE divulgou nesta terça-feira (1º) os resultados da economia para o segundo trimestre de 2020, com queda de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB).
Apesar do resultado negativo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a economia brasileira irá se recuperar em “V”, frase que foi questionada pelo economista Eduardo Giannetti em entrevista para a CNN.
“É fora da realidade dos fatos imaginar uma retomada em ‘V’ da economia. A retomada em ‘V’ aconteceu depois da crise financeira de 2008. Provável que em 2021 a gente corra para recuperar o nível de atividade de 2020 pré-pandemia. Eu acho que a retomada será em formato de til (~)”
Giannetti elenca três incertezas que o fazem questionar sobre a projeção feita por Guedes.
“Não sabemos qual vai ser a dinâmica do pós-pandemia. Ainda não sabemos o tempo da vacina. Não sabemos como a economia irá reagir quando forem retirados os estímulos que deixaram a economia funcionando durante 2020 e também não sabemos como investidores irão reagir depois do trauma. Vão ficar cautelosas? Vão se animar diante de cenário incerto? Muito difícil prever qual vai ser a reação agentes econômicos.”
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O economista avaliou que a gestão de Guedes pode ser destacada pela aprovação da reforma da previdência e por ele ser o “compromisso mais crível” do governo em relação ao controle fiscal, porém faz críticas ao que chamou de “bravatas” do ministro.
“Guedes tenta manter as expectativas elevadas, mas entregou pouco. Na campanha, ele prometeu zerar o déficit primário brasileiro e não estamos nem perto disso. Prometeu um trilhão com as privatizações e até agora não aconteceu praticamente nada.”
Dívida pública
Outro assunto abordado na entrevista foi o crescimento da dívida bruta do setor público, que irá passar de 75% do PIB para cerca de 95%. Giannetti disse que o número em si pode ser contornado, mas que o governo deverá mostrar compromisso com o equilíbrio fiscal para que isso não se torne um problema.
“A dívida não é o fim do mundo, mas inspira cuidados. Se houver percepção de que a dívida irá continuar crescendo, nós vamos caminhar para situação de desconfiança sobre o estado brasileiro, o que pode se tornar um grande problema para investidores.”
(Edição: Sinara Peixoto)