Governo precisa fazer dinheiro chegar na ponta, dizem ex-presidentes do BC

Na CNN, Armínio Fraga e Ilan Goldfajn discutiram sobre como o governo federal se comportou até agora diante da pandemia e quais direções deve seguir

O novo coronavírus iniciou uma série de discussões na área econômica sobre como lidar com os impactos da paralisação de quase todas as atividades no Brasil e no mundo. Na CNN, os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Ilan Goldfajn discutiram sobre como o governo federal se comportou até agora diante da pandemia, e quais direções deve seguir.

Sobre o embate “saúde x economia”, Ilan afirmou que esta é uma “falsa dicotomia”, e disse que o isolamento social neste momento é importante não só para a saúde, mas também para a retomada.

“A economia vai sofrer porque é preciso o isolamento. Se não fizermos isso, a economia vai sofrer ainda mais, porque não será possível controlar o contágio e o processo vai se estender. O melhor que podemos fazer é controlar o vírus, e relaxar a quarentena aos poucos para retomar lá na frente”.

A opinião de Ilan é corroborada por Armínio, que defende o isolamento e diz que no momento são as ações do governo que farão maior diferença para enfrentar a pandemia.

“O governo precisar focar suas ações em frentes específicas, como nas questões médicas, para garantir insumos, e apoiar aqueles que perderam empregos e os mais pobres, que tendem a desaparecer no momento”, disse Fraga.

O foco nas camadas mais pobres da sociedade também foi defendido por Ilan.

“Quem vai ditar o tempo será o vírus e nossa capacidade de controlar ele. Enquanto não estiver sob controle, temos que dar garantias e pequenas empresas e a autônomos. Temos que focar nestes grupos no tempo que precisar. Enquanto tiver isolamento, o governo vai ter que dar esse suporte”, diz Ilan, que em sua fala defendeu as ações anunciadas pelo governo até agora, mas fez ressalvas.

“Inicialmente o governo tinha um problema de liquidez, que foi resolvido de maneira rápida. Resolver problemas de bancos e do mercado nós sabemos fazer, o problema será fazer o dinheiro chegar na ponta. O pacote é grande, mas só saberemos o quão profundo será o processo ao longo do tempo”.

Armínio pensa na expansão de alguns serviços sociais e até mesmo a criação de novos, pontuais, como uma possível saída para a crise.

“O governo poderia usar o Bolsa Família e expandir o cadastro único. Assim, seria possível atingir 100 milhões de pessoas em um mês”, afirmou.

Orçamento ‘de guerra’

Sobre o Orçamento, os dois se mostraram tranquilos em relação à expansão dos gastos públicos por conta dos mecanismos aprovados pelo Congresso e da possibilidade de um “orçamento de guerra”.

“É preciso deixar claro que os gastos que teremos no período serão temporários e não permanentes, que é o nos machuca”, disse Fraga.

“A ideia de ter um Orçamento diferente reforça a ideia de que este ano é uma exceção. É importante pensar no Orçamento de guerra como algo pontual onde se concentram os gastos em um período e no ano seguinte volta os controles normais, como teto de gastos e regra de ouro”, defendeu Ilan.

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