Com cena internacional positiva, Ibovespa fecha em alta, perto dos 96 mil pontos
Mercados se mantiveram otimistas após fala de Trump que garante que acordo com China está 'totalmente intacto'


A bolsa fechou em alta nesta terça-feira (23), embalada pelo cenário externo favorável em função de perspectivas positivas sobre as relações comerciais entre Estados Unidos e China e números melhores do que o esperado sobre o setor empresarial norte-americano e na zona do euro.
O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou o dia em alta de 0,67%, a 95.975 pontos. Na máxima do pregão, foi alcançou os 97.485 pontos. O volume financeiro negociado foi de R$ 26,35 bilhões.
No exterior, as bolsas nos EUA avançaram após o presidente norte-americano, Donald Trump, garantir que o acordo comercial com a China está intacto. A declaração foi feita no Twitter depois que o assessor econômico da Casa Branca, Peter Navarro, derrubou os mercados ao dizer que o acordo havia acabado.
“Esse breve momento de caos lembrou aos mercados de que a guerra comercial está longe de terminar e poderia retornar a qualquer momento”, afirmou o analista Milan Cutkovic, da AxiCorp.
Na visão de Cutkovic, investidores parecem menos preocupados com o aumento de novas infecções por coronavírus em todo o mundo. “Embora o aumento em novos casos seja um pouco preocupante, o risco de um segundo bloqueio é visto como baixo”, afirmou.
Dados econômicos norte-americanos endossaram a trajetória de alta das bolsas, apontando para uma contração menor do que a esperada na atividade industrial em junho. Ao mesmo tempo, as vendas de novas moradias no país saltaram 16,6% no mês passado, contra previsão de alta de apenas 0,6%.
Em paralelo, na zona do euro, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) preliminar Composto do IHS Markit se recuperou a 47,5 em junho de 31,9 em maio, aproximando-se da marca de 50 que separa crescimento de contração. Pesquisa da Reuters projetava 42,4.
No Brasil, o Banco Central divulgou a ata da reunião da semana passada, quando cortou a Selic a 2,25%. Na visão do Bradesco, o documento reforçou a mensagem de que o estímulo monetário já implementado parece ser compatível com impactos econômicos da pandemia e que próximos passos demandam cautela.
O BC também regulamentou nesta terça-feira a compra de títulos privados pela autarquia ,autorizada por emenda constitucional aprovada pelo Congresso. Ficou definido que ativos emitidos por microempresas e empresas de pequeno e médio portes terão preferência.
Rumo aos 100 mil pontos?
O estrategista Daniel Gewehr, do Santander Brasil, destacou que, após a forte recuperação desde o fim de março, o indicador técnico do Ibovespa revela que ele está ligeiramente abaixo da zona neutra, a 98.000 pontos.
Além disso, acrescentou, a sensibilidade ao CDS (contrato que mede o risco país) sugere que o Ibovespa, em dólar, está próximo ao seu valor justo, de acordo com a correlação histórica (-0,80).
Gewehr ressaltou, contudo que, “apesar dessas duas métricas implicarem um mercado lateralizado no curto prazo”, a casa mantém “o viés positivo no médio/longo prazo, dado que a menor Selic de todos os tempos deve continuar a aumentar a realocação de ativos para ações, além de permitir múltiplos mais altos”.
Do pondo de vista de análise gráfica, o Ibovespa também segue em tendência de alta no curto prazo, de acordo com a equipe do Itaú BBA. O banco citou que o índice precisa superar a região de resistência em 97.700 pontos para continuar a trajetória de alta rumo aos 102.300 e 108.800 pontos.
Na véspera, o índice fechou em queda de mais de 1% com a realização de lucros pelos investidores após quatro pregões seguidos de alta.
Lá fora
As ações globais ganharam força nesta terça-feira (23) diante dos dados encorajadores sobre a economia mundial e do alívio das tensões comerciais entre EUA e China.
Em Wall Street, os três principais índices fecharam em alta. O S&P 500 subiu 0,43%, o Dow Jones avançou 0,5% e o Nasdaq Composite subiu 0,74%, para nova máxima histórica, impulsionado pelas ações da Apple.
Na zona do euro, as ações fecharam no nível mais alto em quase duas semanas após os sinais de que a atividade empresarial no continente está se recuperando da crise do coronavírus mais rápido do que o esperado. O índice pan-europeu STOXX 600 encerrou o dia com ganho de 1,3%.
Os índices acionários chineses também fecharam o dia em alta, ainda que moderada. O CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, subiu 0,48%, enquanto o índice de Xangai teve alta de 0,18%.
Destaques na B3
Gol PN disparou 10,86%, entre as maiores altas do Ibovespa. O presidente-executivo da empresa, Paulo Kakinoff, afirmou que tem recursos em caixa para honrar dívida de US$ 300 milhões que vence em agosto, mas negocia opções para atenuar este impacto em estratégia para preservar seu caixa durante a pandemia. Também afirmou que as negociações com o BNDES e bancos privados para uma linha bilionária de financiamento seguem avançando e que podem atingir um acordo em breve, mas não deu detalhes. Azul PN avançou 9,06%.
BTG Pactual UNIT subiu 3,25%, dando sequência ao avanço da véspera, quando anunciou oferta bilionária de units, que prevê a alocação dos recursos para acelerar o crescimento da sua plataforma de varejo digital. Os papéis ainda tiveram de pano de fundo relatório do UBS elevando o preço-alvo das units, de R$ 54 para R$ 92, e reiterando a recomendação de ‘compra, além de anúncio de que o Credit Suisse assinou acordo para comprar até 35% do banco digital modalmais.
B3 ON avançou 3,87%, em meio a perspectivas favoráveis para o volume transacionado em suas plataformas. Apenas no segmento Bovespa, a média diária de volume financeiro em junho alcança mais de R$ 35 bilhões até o dia 22, de R$ 26 bilhões em todo o mês de maio e R$ 29 bilhões na média em 2020.
Petrobras PN e Petrobras ON valorizaram-se 3,34% e 2,93%, respectivamente, apesar da queda dos preços do petróleo no mercado externo.
Bradesco PNfechou com variação negativa de 0,14%, enquanto Itaú Unibanco PN terminou com decréscimo de 1,32%. O BC anunciou medidas para incentivar as instituições financeiras a conceder até R$ 272 bilhões em novos empréstimos, mirando especialmente empresas de menor porte, que têm ficado desassistidas em meio à grave crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.
Vale ON fechou com acréscimo de 1,07%, com o setor de mineração e siderurgia no azul, com Usiminas PNA em alta de 10,34% e Gerdau PN subindo 1,91%. CSN ON evoluiu 2,34%. No radar dados de maio sobre os distribuidores de aço plano sinalizando recuperação em relação a abril, mas abaixo dos níveis de 2019.
IRB Brasil Re ON recuou 4,96%, após subir nos últimos três pregões, sendo que apenas na segunda-feira teve valorização de quase 16,5%. O papel permanece com o pior desempenho entre as ações do Ibovespa em 2020, em meio a uma série de adversidades envolvendo a resseguradora.
CPFL Energia ON caiu 3,32%, em sessão negativa para o setor elétrico. A Aneel aprovou nesta terça-feira condições para viabilizar empréstimos de cerca de R$ 16 bilhões a distribuidoras de eletricidade em razão dos impactos financeiros do coronavírus no setor. O texto final, porém, não trouxe proposta pela qual as distribuidoras poderiam registrar provisoriamente em seus balanços ativos financeiros setoriais referentes aos impactos econômicos da Covid-19.
(Com Reuters)