Por que a Vulcabras abandonou os calçados femininos para focar no esporte?

Empresa chegou a demitir 22 mil funcionários no início da década e agora quer voltar às origens para voltar com os bons resultados

Mizuno
Calçados da Mizuno: Vulcabras aposta na força da marca no segmento de alta performance
Foto: REUTERS/Kham

A Vulcabras Azaleia (VULC3) percebeu que era hora de mudar. Na última semana, anunciou duas grandes novidades. A primeira delas foi a compra do licenciamento da marca Mizuno da Alpargatas (ALPA3 e ALPA4) por R$ 200 milhões.

A segunda foi que essa compra significava uma virada para a empresa: depois de 13 anos da compra da Azaleia, a Vulcabras abandonaria o setor de calçados femininos.

O processo de mudança, no entanto, não é de agora. Na última década, a Vulcabras passou por momentos bem complicados. Entre 2011 e 2014, a empresa demitiu 22 mil pessoas. Se antes eram 29 fábricas espalhadas pelo Brasil, agora são apenas duas: uma em Pernambuco e outra na Bahia. Os prejuízos acumulavam ano após ano.

Por isso, nos últimos anos, a ordem foi focar na rentabilidade – e a empresa decidiu voltar às origens esportivas.

A partir da década de 70, a empresa licenciou para produzir e vender calçados de tênis como Adidas, Puma, Le Coq Sportif, Reebok, entre outras. Ou seja, a Vulcabras abriu o caminho para que essas marcas se estabelecessem posteriormente com operações próprias.

Esse movimento voltou a se repetir em 2018. A empresa decidiu adquirir a operação brasileira da marca americana Under Armour por R$ 97,5 milhões. A companhia americana tentou ganhar espaço no Brasil voando sozinha, mas não obteve tantos resultados positivos.

“Esse é um segmento que entendemos bastante e que é muito rentável para nós”, diz Pedro Bartelle, presidente da Vulcabras Azaleia, em entrevista ao CNN Business. “Os calçados femininos foram se tornando cada vez menos representativos.”

Pedro Bartelle Vulcabras
Pedro Bartelle, presidente da Vulcabras: “É um segmento que entendemos bastante e é muito rentável para nós”
Foto: Pedro Bartelle/Instagram

Mizuno, Under Armour e Olympikus

A compra da Mizuno, segundo Bartelle, fará com que a Vulcabras consiga atender os mais diversos segmentos esportivos. A marca japonesa, obviamente, ficará mais focada no esporte de alta performance, especialmente corridas – esporte que cresce ano a ano.

Já a Under Armour será destinada para o universo fitness, especialmente modelos voltados para o dia a dia e utilizados nas academias em geral.

Por último, a Olympikus será uma marca democratizadora, na visão de Bartelle. Com preços mais baixos, a ideia é que a Olympikus produza tênis e roupas de entrada para quem tem menos dinheiro na conta.

Apesar de ser uma tática de marcas como Nike e Adidas, Bartelle não enxerga, pelo menos em um primeiro momento, espaço para expandir as lojas físicas. A Under Armour tem algumas poucas lojas conceito, mas não devem ser expandidas.

E, por agora, a empresa não pretende se aventurar em patrocínio de grandes eventos esportivos ou até mesmo equipes de esportes coletivos. A Under Armour, quando chegou ao Brasil, patrocinou o São Paulo e o Fluminense, mas os contratos foram rompidos.

A Mizuno é muito forte em futebol no Japão e também em vendas de chuteiras, mas esse não será o foco por aqui. 

Azaleia perde espaço

Os mais novos podem não se lembrar, mas a Azaleia era a principal marca de calçados femininos do Brasil nas décadas de 80 e 90. Propagandas icônicas e objeto de desejo de diversas mulheres naquele tempo, contudo, perdeu o passo para outras concorrentes, como Alpargatas (e suas Havaianas) e a Arezzo (ARZZ3).

E até mesmo para a Grendene (GRND3), que agora é a responsável pela marca, com a expansão da Melissa, linha de calçados de plástico.

Com coleções mais rápidas e mais conectadas com o mundo da moda, além da expansão por meio de lojas físicas (próprias e franquias), essas companhias deixaram a Azaleia para trás. E isso foi impactando diretamente nas vendas da Vulcabras ano após ano.

Se em 2016 a companhia tinha vendido cerca de 7 milhões de pares de calçados das marcas Azaleia e Dijean, em 2019 foi 10% menos. .

Por isso, na visão de Bertelle, a Grendene vai cuidar melhor da marca Azaleia do que a própria Vulcabras. A expertise e o foco, segundo ele, serão fundamentais para isso.

E será uma troca entre família: a Grendene e a Vulcabras possuem a mesma família como controladora. Os Grendene, por exemplo, possuem 47% da Vulcabras. O próprio Bartelle, que também é da família e atua como presidente da Vulcabras, possui, sozinho, uma fatia de 4% na “concorrente”.

E é dessa forma que a Vulcabras pretende completar a reestruturação de uma década. Os investidores, desde o anúncio da compra da Mizuno, estão dando um voto de confiança para a empresa. As ações da empresa subiram 5,3% até a última sexta (25).

Porém, com o mau humor do mercado desta segunda-feira por causa das medidas anunciadas pelo governo sobre o Renda Cidadã, começou a semana com recuo de 2,6%.

A Vulcabras Azaleia quer provar que pode retornar aos tempos áureos. E, aliás, o Azaleia continuará no nome da empresa.

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