Rede de proteção social precisará crescer sem colocar em risco solvência do país

"Vamos precisar fortalecer rede de proteção social. Temos que realocar o recurso público. Parar de tirar dos pobres para dar aos ricos", afirma Adolfo Sachsida

A incerteza com o desfecho e os impactos da crise causada pelo coronavírus também preocupa o governo federal. Para lidar com empobrecimento e vulnerabilidade de milhões de brasileiros, o setor público precisará encontrar saídas sem colocar em risco a solvência do país. 

Para o secretário de política econômica, Adolfo Sachsida, qualquer solução terá que respeitar o teto de gastos, ou seja, qualquer política pública que seja eleita para combater os efeitos da crise não poderá contar com aumento do gasto público. 

“Infelizmente o choque externo está sendo fortíssimo. Teremos que aguentar 3 meses, que serão difíceis, duros. Depois disso, vamos precisar fortalecer rede de proteção social. Mas não temos dinheiro, temos que realocar o recurso público. Parar de tirar dos pobres para dar aos ricos. Está na hora de acabar com isso e o teto de gastos é a nossa linha de defesa”, disse em entrevista exclusiva à CNN

O governo terá que fazer isso e ao mesmo tempo retomar a consolidação fiscal. A equipe econômica ainda não fala abertamente em mexer na carga tributária para financiar a travessia à recuperação. Mas está claro que o sistema brasileiro terá que mudar, começando pelos gastos tributários que consomem mais de R$ 350 bilhões por ano. 

“Não há espaço fiscal, repito que temos que manter o teto de gastos. Para fortalecer a rede de proteção social vamos ter que tirar recurso de programas pouco eficientes e passar para os que realmente cheguem aos mais pobres. Não é só isso. Temos que retomar a agenda de consolidação fiscal com reformas pró-mercado como a do saneamento, do setor de gás e da Eletrobras”, reforça Sachsida.  

O Ministério da Economia agora prevê queda de 4,7% do PIB em 2020, resultado que ainda depende de muitos fatores incertos, como a duração do isolamento social em todo país. A dívida pública pode alcançar patamares nunca pensados, perto dos 100% do PIB, a maior dos países emergentes. 

Para financiar este endividamento, haverá um chamamento mundial para que os mais ricos, das empresas mais consolidas, paguem boa parte desta conta. No Brasil, esta é pauta antiga, como a taxação de lucros e dividendos e grandes fortunas — desde que haja redução do imposto para a produção. O debate no pós-pandemia é urgente e precisa começar agora.

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