Universidade alemã promove show com público para testar retorno à normalidade
Presentes receberam máscaras faciais respiratórias, álcool em gel fluorescente e rastreadores eletrônicos de contato


Desde que a pandemia do novo coronavírus provocou o fechamento de baladas, bares e casas de show ao redor do mundo, fãs de música estão sonhando pelo dia em que voltarão a visitar algum lugar cheio e quente para curtir um evento com amigos.
E, com os níveis de infecção aumentando em muitos países europeus, este sonho pode estar longe de se materializar. Mas para alguns fãs de Leipzig, na Alemanha, a chance apareceu em nome da ciência – com a ajuda de desinfetantes para as mãos brilhantes e rastreadores eletrônicos.
Pesquisadores da cidade localizada no estado da Saxônia organizaram neste sábado (22) um show indoor com 2 mil participantes para analisar como a Covid-19 se espalha em grandes eventos e prevenir para que isso não ocorra.
No evento, que contou com performance do músico Tim Bendzko, os presentes receberam máscaras faciais respiratórias, álcool em gel fluorescente e “rastreadores eletrônicos de contato” – pequenos transmissores que determinam taxas de contato e de distanciamento dos participantes.
Utilizando dados dos rastreadores, cientistas da Universidade de Halle vão monitorar o número de “contatos críticos” de cada participante em lugares e momentos específicos. Enquanto isso, os resíduos deixados pelas mãos fluorescentes vão identificar superfícies frequentemente tocadas. Pesquisadores pretendem utilizar os resultados para encontrar maneiras de trazer os eventos de volta de forma segura.
O professor Michael Gekle, reitor da Faculdade de Medicina em Halle e professor de fisiologia, disse à CNN que o experimento estava sendo conduzido para preparar melhor as autoridades para eventos que virão no futuro.
“Não podemos suportar outro lockdown. Temos de reunir os dados agora para fazer previsões válidas”, diz. “Não existe vida sem risco. Queremos dar aos políticos uma ferramenta para decidir racionalmente se podem permitir a realização de eventos do tipo.”
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Três cenários foram testados: um que simulava um show antes da pandemia; outro que reproduzia um evento durante a pandemia, com condições de higiene adaptadas; e um terceiro, com menos participantes. Um modelo matemático será aplicado para avaliar as intervenções de limpeza.
Pesquisadores acreditam que é a primeira vez que um experimento dessa escala ocorre na Europa, mas dizem que parâmetros diferentes terão que ser aplicados a depender do tipo de evento, do comportamento dos participantes e se eles consumirão álcool. “É claro que um show do Rammstein seria diferente”, diz.
Gekle afirmou que, devido à baixa prevalência do novo coronavírus na região, o experimento não teve grandes riscos para os voluntários, que foram testados 48 horas antes do evento. “É mais seguro que viajar de avião para Mallorca”, afirma.
O número de infecções por Covid-19 vem crescendo novamente na Alemanha desde o final de julho. No sábado, o país teve o dia com mais contágios desde 26 de abril, com 2.034 novos casos. Os dados são do Instituto Roberto Koch.
O experimento pode ter sido controlado, mas para alguns participantes pareceu uma volta à realidade. “Foi nosso primeiro aplauso em meses”, disse o cantor Bendzko. “O clima estava surpreendentemente bom, parecia um show real.”
Kira Stuetz, estudante de 26 anos que foi ao show com o marido, disse: “foi um pouco maluco”. Ela lembrou de uma das simulações pré-coronavírus, em que o público ficou bem próximo. “No início pareceu errado que todo mundo ficasse tão próximo. Pensamos que era um sonho, porque não podemos ficar tão próximos! Mas foi muito legal, mal pude acreditar que estávamos num show novamente.”