Artista registra rotina de quarentena em mapas
Britânico Gareth Fuller retratou suas experiências dentro de apartamento de 59 metros quadrados


O artista britânico Gareth Fuller é especializado numa arte especial: ele faz mapas densamente ilustrados que acabam sendo uma análise da fenomenologia de um lugar.
Sua pesquisa geralmente começa com longas caminhadas (que chegam a atingir uma centena de quilômetros) por vielas, estradas, edifícios e marcos culturais.
É uma rotina com a qual o artista se acostumou — até que foi forçado a ficar em quarentena por 14 dias.

Morando em Pequim, Gareth retornou à capital chinesa vindo de Kuala Lumpur na noite de 3 de março. Ao chegar, descobriu que precisava cumprir duas semanas de autosolamento obrigatório sob as novas regras impostas para retardar a disseminação do coronavírus.
“Foi natural documentar minha experiência”, disse ele em uma entrevista por telefone, agora livre de quarentena. “Decidi mapear as quatro paredes em que estava confinado e ver aonde isso me levava criativamente”.
Todos os dias, durante duas semanas, Gareth retratou suas experiências e pensamentos de dentro de seu apartamento de 59 metros quadrados. O resultado é uma série de 14 desenhos intitulados “Os Mapas da Quarentena”.
Gareth passava as manhãs observando o que estava ao seu redor: seus móveis, notícias da televisão e do rádio, movimentos do lado de fora da janela e trechos de longas conversas com a esposa, que também estava em quarentena.
Ele passava as tardes e a noite desenhando em seu bloco de desenho. “Você acaba gastando mais tempo olhando para os detalhes, diminuindo o ritmo, entrando nas minúcias de certos assuntos que você normalmente não teria tempo para fazer. Seu dia é muito mais planejado e menos reativo.”

Dentro de quatro paredes
Os primeiros mapas da série focam no apartamento de Gareth. Ele descreve o sofá onde passa a maioria dos dias lendo e ouvindo rádio, e o projetor que evitou para não cair na armadilha de assistir filmes por horas a fio.
Gareth desenha sua mesa e todo o equipamento preventivo que reuniu antes do isolamento.
Sua casa acabou ficando apertada e claustrofóbica e ele passou várias horas na varanda, todos os dias, espiando pela janela as ruas tranquilas de Pequim — e documentando o mundo ao seu redor.
No Dia 9, Fuller se vê pensando além dos parâmetros do que podia ver. A série se volta menos para os triunfos pessoais do artista e mais para a captura das experiências daqueles que estão apenas começando a entender a crise.
Nesse mesmo dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o surto de COVID-19 era uma pandemia global. “Era óbvio que Pequim estava seguindo em frente, mas a mídia global estava me contando uma história completamente diferente”, lembra.

“Os sentimentos que eu tive durante a quarentena se tornaram progressivamente mais difíceis de comunicar — eu não conseguia pensar apenas na minha própria experiência”.
Olhando para fora
Ao longo dos dias, Gareth passou a refletir sobre seu próprio privilégio como expatriado em uma grande cidade e pensou em como as pessoas no seu país, o Reino Unido, e em comunidades menores em todo o mundo estavam lidando com a crise.
Algumas de suas peças finais vislumbram a vida em cenários imaginários — uma vila com um “delírio do fim do mundo”, uma ilha deserta cercada por “um mar de desinfetante”. Outros esboços abordaram a ideia do fatalismo — que o vírus havia infectado as celebridades que conhecemos e amamos e que, de alguma forma, chegariam ao próprio artista.
O humor sempre fez parte do trabalho de Gareth Fuller e ele achou uma boa ideia inclui-lo ao documentar sua experiência. Usar toques engraçados foi uma maneira de combater todas as informações que ele acompanhava pelo noticiário, mais preocupantes a cada dia.
“Quando você passa por essa experiência, prossegue essa busca de entendimento e conhecimento. O Dia 1 foi algo assim: ‘Veja esta situação irônica em que estou'”, conta. “No final, eu havia absorvido todas as informações que pude sobre o vírus”. Ele começou a olhar para fora e deixou sua imaginação correr solta.

Fora da quarentena, o artista, como muitas pessoas ao redor do mundo, está com seus movimentos limitados pela necessidade de distanciamento social.
Ele planeja usar o tempo para estender sua série com mais mapas sobre a pandemia que levou tantas pessoas a parar, desacelerar e examinar seu próprio ambiente – em detalhes. Para mais informações sobre Gareth Fuller, visite o site dele.