Brasileira se une a voluntários para ajudar vítimas de explosão no Líbano

'As pessoas realmente querem ajudar. Esses grupos estão unindo os libaneses. Não está tendo diferença entre muçulmanos', contou Nessryn Khalaf

Filha de libaneses, a brasileira Nessryn Khalaf se uniu a voluntários para ajudar as vítimas da explosão em Beirute, no Líbano. Segundo ela, muitas pessoas seguem à procura de familiares desaparecidos após a tragédia e estão passando fome. 

“Estamos nos unindo por grupos de WhatsApp. As pessoas realmente querem ajudar. Esses grupos estão unindo os libaneses. Não está tendo diferença entre muçulmanos e cristãos. Estamos realmente tentando fazer de tudo para ajudar quem precisa, ainda mais agora com 300 mil desabrigados”, relatou. “Não tem dinheiro, não tem emprego e grande parte da população está passando fome, e isso não é teoria da conspiração. Conheço muita gente que está precisando de ajuda”.

Nessryn ainda narrou o que viu ao visitar o centro da cidade. “As ruas de Beirute estão destruídas. Me juntei a um grupo de voluntários e fomos ao centro de Beirute. Bairros de comércio, que sempre têm turistas, viraram [parte de] uma cidade fantasma”, relatou ela.

“Os escombros me lembram cenas da guerra de 2006. Foi emocionante estar lá. Não teve como ir a essas regiões e não chorar. Eu cresci aqui. Estou acostumada com Downtown, por exemplo”, acrescentou. 

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Ela fez fortes críticas ao governo libanês, a quem ela responsabiliza pela tragédia, ocorrida após a explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio. “O que eu vi é inaceitável. Foi negligência do governo, um descuido que não devia ter acontecido”, criticou a brasileira, que mora no país há 16 anos.

Segundo a brasileira, o grupo de voluntários chegou a começar a ajudar na limpeza das ruas, mas foi advertido pela polícia local que deveria deixar como estava para que presidente francês, Emmanuel Macron, que visitou o país nesta quinta, ver a situação real do estrago na capital libanesa.

Filha de um comerciante, a brasileira disse que a loja do pai ficou destruída. “A loja do meu pai, que fica a 5 minutos do local da explosão, se foi. Mas ele e meu irmão estão bem, e é isso o que importa”, afirmou ela, que disse que, sem perspectivas de se recuperar economicamente, a família cogita retornar ao Brasil.

“O meu pai disse que perdeu mercadorias que valiam US$ 10 mil e que vai ser difícil tentar repor tudo isso, por causa da crise e dos bancos que não deixam acessar o próprio dinheiro”, relatou. “Não sei como vai ser, por isso estamos cogitando a volta ao Brasil. Meu pai trabalha aqui, mas agora nem isso temos mais”, finalizou.

(Edição: Luiz Raatz)

Filha de libaneses, a brasileira Nessryn Khalaf fala à CNN sobre tragédia no Líb
Filha de libaneses, a brasileira Nessryn Khalaf fala à CNN sobre tragédia no Líbano
Foto: CNN (6.ago.2020)

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