Com ajuda a Manaus, governo Maduro tenta mudar imagem e gerar percepção positiva

Para sociólogo Luis Vicente León, governo venezuelano usa estratégia populista para enviar mensagem de que está ao lado da população

O envio de cinco caminhões de oxigênio da Venezuela para Manaus, capital do Amazonas, diante da crise de saúde pública enfrentada pelo estado brasileiro com o aumento de casos de Covid-19 foi uma estratégia usada por Nicolás Maduro para tentar mudar a imagem de seu governo, afirmou à CNN o sociólogo Luis Vicente León, do instituto venezuelano Datanálisis.

“É o mesmo tipo de estratégia que Hugo Chávez usou, em pleno conflito com o governo dos Estados Unidos, quando enviou óleo da refinaria Citgo para bairros pobres de Nova York”, disse León, se referindo à medida tomada em 2007 pelo então presidente venezuelano, quando enviou óleo para calefação a famílias pobres de 23 estados norte-americanos durante o inverno.

“É uma estratégia populista, que tenta passar uma mensagem de que está a favor da população, uma mensagem de solidariedade e um sentimento da esquerda contra o que supõe serem seus agressores: a direita”, completou o especialista.

Segundo León, a iniciativa também servirá para que Maduro faça propaganda interna sobre a forma como seu governo lidou com a pandemia do novo coronavírus, reforçando a tese de que a situação venezuelana em relação à Covid-19 é muito melhor do que a de seus vizinhos.

“Aqui na Venezuela, quando se pergunta para a população a avaliação do governo de Maduro de forma geral, apenas 13% o veem de forma positiva. Mas quando se pergunta sobre as ações durante a pandemia, a aprovação chega a 48%”, afirmou León.

Mais mídia do que diplomacia

O sociólogo afirmou também que a ajuda do governo Venezuelano, ainda que tenha efeitos positivos positivos para a população de Manaus, é mais uma questão de imagem, de construção de percepção – tanto no Brasil quanto na própria Venezuela – do que algo que vá favorecer a relação diplomática entre os dois países.

“Não creio que a relação vá piorar entre Maduro e Bolsonaro. Mas também não deve melhorar. Bolsonaro até criticou aqueles que viram o gesto de Maduro como algo positivo”, justificou.

León também analisou a possibilidade de os gesto de Caracas poder ser visto como uma sinalização em direção ao governo norte-americano de Joe Biden, que assumiu a Casa Branca na quarta-feira (20).

Venezuela anunciou através de seu ministro da Relações Anteriores, Jorge Arreaza
Chanceler da Venezuela anunciou durante crise de oxigênio no Amazonas que ajudaria o estado brasileiro
Foto: Reprodução (14.jan.2021)

Se, por um lado, ele admitiu que a gestão Biden é muito mais sensível aos temas humanitários do que seu antecessor, por outro lembrou que é preciso muito mais para que Washington e Caracas possam buscar algum tipo de entendimento.

“Maduro tenta mandar, também, uma mensagem para Biden, mas isso faz parte de uma estratégia muito maior e sofisticada. [A ajuda a Manaus]seria mais uma peça nessa estratégia, mas não uma que, de fato, vá afetar a relação entre os dois países.”

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