Estudo sugere que Covid-19 pode ter circulado nos EUA já em dezembro de 2019
Pesquisadores da Califórnia tomam como base aumento notável de doenças respiratórias no país antes do primeiro caso conhecido, reportado em janeiro


O novo coronavírus pode ter circulado nos Estados Unidos já em dezembro, cerca de um mês antes do que acreditavam os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA até então. A conclusão é de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
O estudo, publicado na última quinta-feira no Journal of Medical Internet Research, encontrou um aumento estatisticamente significativo nas visitas clínicas e hospitalares de pacientes que relataram doenças respiratórias já na semana de 22 de dezembro.
O primeiro caso conhecido de Covid-19 nos Estados Unidos é de um paciente de Washington que visitou Wuhan, na China, segundo o CDC. O caso foi notificado em janeiro.
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Em sua pesquisa que questiona esse caso como o primeiro do vírus no país, o Dr. Joann Elmore e colegas examinaram quase 10 milhões de registros médicos do sistema de saúde da UCLA, incluindo três hospitais e 180 clínicas.
Elmore disse que começou a busca após março, quando recebeu uma série de e-mails ao portal de pacientes de sua clínica na UCLA. Algumas pessoas questionavam se a tosse que tiveram em janeiro poderia ter sido Covid-19.
“Com os pacientes ambulatoriais, descobri um aumento de 50% na porcentagem de pacientes que chegam reclamando de tosse. Chegou a mais de 1.000 pacientes extras acima da média do que normalmente veríamos”, disse Elmore à CNN.
O número de visitas de pacientes ao pronto-socorro por queixas respiratórias, bem como o número de internados com insuficiência respiratória aguda entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020, aumentaram em relação aos registros dos cinco anos anteriores. O aumento de casos começou na última semana de dezembro.
“Alguns desses casos podem ter sido causados pela gripe, alguns podem ser por outras razões, mas ver esses tipos de números mais altos mesmo em regime ambulatorial é notável”, disse Elmore.
Elmore espera que a pesquisa mostre que os dados coletados em tempo real sobre doenças como essa podem ajudar os especialistas em saúde pública a identificar e rastrear surtos emergentes muito mais cedo e, potencialmente, diminuir ou interromper a propagação da doença.
Especialista em doenças infecciosas do University Hospitals Cleveland Medical Center, a Dra. Claudia Hoyen, que não trabalhou no estudo, disse acreditar que é possível que a Covid-19 tenha estado nos Estados Unidos muito antes do que se imaginava.}
Mas Kristian Andersen, professor de imunologia e microbiologia da Scripps Research, discordou.
“Sabemos pelos dados genéticos do SARS-CoV-2 que a pandemia começou no final de novembro / início de dezembro na China, então não há absolutamente nenhuma maneira de o vírus ter se espalhado amplamente em dezembro de 2019. Pelos mesmos dados genéticos, sabemos que a transmissão generalizada não começou nos Estados Unidos até (por volta de) fevereiro de 2020 “, disse Andersen por e-mail.
“O jornal está captando sinais espúrios e as hospitalizações são mais prováveis ??de gripe ou outras doenças respiratórias”, escreveu Andersen.