Índia registra mais de 4 mil mortes por Covid-19 pelo segundo dia consecutivo

A área rural do país é uma das mais afetadas pela doença; nos últimos dias, corpos de mortos pelo vírus foram deixados no rio Ganges

A Índia registrou mais de 4 mil mortes de Covid-19 pelo segundo dia consecutivo nesta quinta-feira (13), enquanto os novos casos da doença permaneceram abaixo de 400 mil pelo quarto dia. O coronavírus tem atingido as áreas rurais do país, onde os casos podem não ser registrados devido à falta de testes.

Os especialistas não têm certeza de quando os números irão atingir o pico e a preocupação está crescendo sobre a transmissibilidade da variante do vírus que está causando infecções na Índia e se espalhando pelo mundo.

A professora de epidemiologia da Universidade de Michigan Bhramar Mukherjee disse que a maioria dos modelos estudados previa um pico nesta semana e que o país pode estar vendo sinais dessa tendência.

Ainda assim, o número de novos casos a cada dia é grande o suficiente para sobrecarregar os hospitais, disse ela nas redes sociais. “A palavra-chave é otimismo cauteloso.”

A situação é particularmente ruim nas áreas rurais de Uttar Pradesh, o estado mais populoso da Índia, com uma população de mais de 230 milhões. Imagens exibidas na TV local mostraram famílias chorando pelos mortos em hospitais rurais ou acampando em enfermarias para cuidar de doentes.

Corpos no Ganges

Corpos foram levados para o Ganges, o rio que atravessa o estado, pois os crematórios estão sobrecarregados e há escassez de lenha para as piras funerárias.

“As estatísticas oficiais não dão nenhuma ideia da pandemia devastadora que está assolando a UP [Uttar Pradesh] rural”, escreveu o conhecido ativista e político da oposição Yogendra Yadav no The Print, uma plataforma digital de notícias da Índia.

“Ignorância generalizada, falta de instalações, de teste nas proximidades  e atrasos excessivos nos relatórios de teste significam que, em aldeia após aldeia, praticamente ninguém foi testado, enquanto dezenas de pessoas reclamam de uma ‘febre estranha'”.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, a Índia teve 362.727 novas infecções por COVID-19 nas últimas 24 horas, enquanto as mortes aumentaram para 4.120.

O hospital Sardar Patel Covid, na Índia, por dentro
O hospital Sardar Patel Covid, na Índia, por dentro
Foto: Cortesia Sadanand Patel

Pelo menos dois estados indianos disseram que planejam preescrever à suas populações o medicamento antiparasitário ivermectina para proteger contra infecções graves por Covid-19, pois seus hospitais estão lotados de pacientes em estado crítico.

As ações do estado costeiro de Goa e do estado de Uttarakhand, ao norte, ocorrem apesar da Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros alertarem contra tais medidas.

Nova Délhi vê baixa no número de infecções

As infecções parecem estar diminuindo na capital, Nova Délhi, que tem sido uma das áreas mais atingidas no país.

Manish Sisodia, o vice-ministro-chefe do estado de Delhi, disse a repórteres que a proporção de infecções em relação ao número de pessoas testadas caiu de 35% para 14%. A demanda por oxigênio medicinal, que ficou em falta por semanas, também caiu, disse ele.

A segunda onda mortal de infecções na Índia, que eclodiu em fevereiro, foi acompanhada por uma desaceleração no esquema de vacinação do país, embora o primeiro-ministro, Narendra Modi, tenha anunciado que as vacinas estariam abertas a todos os adultos a partir de 1º de maio.

Embora seja o maior produtor mundial de vacinas, a Índia está com poucos estoques devido à enorme demanda. Nesta quinta-feira (13), pouco mais de 38,2 milhões de pessoas, ou cerca de 2,8% de uma população de cerca de 1,35 bilhão, haviam sido totalmente imunizadas, mostram dados do governo.

O regulador nacional de medicamentos também permitiu que a Bharat Biotech conduzisse testes clínicos de fase II e III da vacina contra a Covid-19 desenvolvida internamente, Covaxin, em crianças de 2 a 18 anos.

O estado de Karnataka, que inclui o centro de tecnologia Bengaluru, e Maharashtra, que inclui Mumbai, anunciaram que suspenderão temporariamente a vacinação para pessoas de 18 a 44 anos para priorizarem aqueles com mais de 45 anos que precisam da segunda dose.

O estado de Maharashtra também anunciou que as medidas restritivas seriam estendidas até o final do mês em uma tentativa de quebrar a cadeia de infecções. Principalmente a área rural de Bihar, no leste, estendeu as medidas até 25 de maio.

Modi deixou para os governos estaduais a imposição dessas restrições. O chefe do Conselho Indiano de Pesquisa Médica, principal agência de saúde que responde à pandemia, disse que as áreas com altas infecções tiveram que ser bloqueadas por 6 a 8 semanas.

(Reportagem de Chandini Monnappa, em Bengaluru, e Tanvi Mehta, em Nova Delhi; Escrita por Raju Gopalakrishnan; Edição de Simon Cameron-Moore)

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