Tem dúvidas sobre questões climáticas urgentes? Os cientistas respondem

Pedimos para que as pessoas fizessem as perguntas que elas têm em mente sobre mudanças climáticas. Veja como os cientistas responderam às dúvidas mais comuns

A crise climática e as mudanças drásticas que os cientistas dizem ser necessárias para evitar as piores consequências podem parecer radicais. Recebemos centenas de perguntas de leitores tentando entender por que nosso clima está mudando, o que eles podem fazer para resolver o problema, entre outros questionamentos.

Dois especialistas renomados em ciência e soluções climáticas nos ajudarão com as respostas: Michael E. Mann, professor de ciências atmosféricas na Universidade Estadual da Pensilvânia e diretor do Penn State Earth System Science Center, e Jonathan Foley, cientista ambiental e diretor executivo da instituição voltada para soluções climáticas Project Drawdown.

Aqui estão as respostas a algumas das perguntas mais urgentes:

Dúvidas quanto à ciência climática

Robert pergunta: Quanto em graus o planeta aqueceu nos últimos 60 anos?

Mann: Em vez de olhar para os últimos 60 anos, é mais esclarecedor olhar ainda mais para trás, para os anos 1700, quando os humanos começaram a adicionar grandes quantidades de gases de efeito estufa à atmosfera.

Partindo daí, é possível afirmar que aquecemos o planeta em cerca de 1,3 graus Celsius. Estamos muito próximos do limite de aquecimento de 1,5 grau Celsius, o ponto em que muitos cientistas pensam que será o limite para impactos mais sérios da mudança climática, o que significa que precisamos reduzir as emissões de gases de efeito estufa ainda mais rapidamente.

Steve pergunta: Quais são as suas fontes de referência para dados do clima? Eu quero aprender mais sobre essa ciência, mas não quero começar uma pesquisa no Google e me arriscar a encontrar mentiras.

Mann: Se você deseja acessar os dados brutos, o Met Office Hadley Center, do Reino Unido, pode ajudar. Ele mantém dezenas de unidades de dados úteis. O Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA é outra boa recomendação, assim como a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional.

John pergunta: Quanto do dióxido de carbono na atmosfera vem de fontes naturais e quanto vem da ação humana? Se os humanos são responsáveis por apenas uma pequena porcentagem, como isso é suficiente para colocar o planeta em perigo?

Mann: Simplificando, nós – humanos – somos responsáveis por todo o aumento nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera desde a Revolução Industrial. Se definirmos “níveis naturais de gás carbônico” como níveis pré-industriais, então é possível afirmar que havia cerca de 280 partes por milhão (ppm) de CO² na atmosfera, e desde então aumentamos os níveis para cerca de 410 ppm, que é o nível atual.

Se você fizer as contas, é um aumento de cerca de 50%. E nas taxas atuais de queima de combustível fóssil, atingiremos o dobro dos níveis de CO² pré-industrial em apenas algumas décadas.

Os impactos

Al pergunta: Considerando que o aquecimento global é o resultado de mais calor aprisionado na atmosfera do que a quantidade de calor que escapa, e que os gases que prendem o calor estão aumentando de ano para ano, por que cada ano não é mais quente que o anterior?

Mann: Assim como há oscilações no clima local, as temperaturas globais também podem subir e descer de ano para ano por causa de padrões climáticos como El Niño, erupções vulcânicas, interferência solar e outros fatores.

Mas, e uma linha do tempo mais ampla, é possível ver claramente a tendência de aquecimento sem precedentes: 18 dos 19 anos mais quentes ocorreram desde 2001, e os últimos cinco anos foram os cinco anos mais quentes da história.

Indústria
Emissões de gases afetam o meio ambiente e impactam diretamente nas mudanças climáticas
Foto: SD-Pictures/Pixabay

Andrew pergunta: Quanto tempo temos até que o gelo da Antártica derreta completamente, e que impacto isso terá sobre a Terra? 

Mann: Neste ponto, não sabemos exatamente com que rapidez a Antártica irá derreter. Mas agora os cientistas estão mais preocupados com o que está acontecendo com a camada de gelo da Antártica Ocidental, que alguns temem ter sido irreversivelmente desestabilizada pelo aumento da temperatura do oceano.

Se o manto de gelo da Antártica Ocidental derreter completamente, poderá elevar o nível global do mar em 3,6 metros, o que inundaria as áreas costeiras ao redor do globo. E nos últimos anos, estamos descobrindo que a camada de gelo da Antártica Ocidental e outras ao redor do mundo podem derreter muito mais rapidamente do que pensávamos.

As soluções

Garry pergunta: por que devo pagar impostos mais altos para combater as “mudanças climáticas” enquanto a China, a Índia e o mundo continuam a produzir cinco vezes mais CO² e gases de efeito estufa? Como mais impostos resolverão os problemas?

Foley: Os Estados Unidos atualmente são responsáveis por cerca de 15% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, embora tenhamos apenas 4% da população mundial. A Índia, com 17% da população mundial, emite cerca de 6,5% dos gases de efeito estufa do mundo. E a China, que tem cerca de 19% da população mundial, emite cerca de 27% dos gases de efeito estufa do mundo. Per capita, emitimos muito mais do que a China ou a Índia.

Os EUA podem enfrentar a mudança climática sem aumentar impostos – e podem criar empregos, melhorar nossa economia e melhorar a saúde, a segurança e a prosperidade dos americanos em geral. Atualmente, subsidiamos os combustíveis fósseis com uma enorme quantia em dinheiro de impostos, que poderia ser transferida para energia limpa ou devolvida aos contribuintes.

Elias pergunta: Que outras alternativas energéticas existem para os combustíveis fósseis que não prejudiquem o meio ambiente? Vemos que existem alternativas como a energia hidrelétrica, mas as barragens afetam as propriedades biológicas, químicas e físicas dos rios, além da vida às suas margens.

Foley: Infelizmente, não há almoço grátis. Cada fonte de energia tem efeitos sobre o meio ambiente.

Outras fontes como solar, eólica e hídrica têm outros efeitos, mas são principalmente locais e podem ser gerenciados. Mas os combustíveis fósseis têm um impacto global que dura séculos, o que desestabilizará todo o planeta se não agirmos logo. Nenhuma outra fonte de energia causa impactos nessa dimensão.

Patricia pergunta: Quais são algumas das mudanças diárias que posso fazer em minha vida para diminuir a pegada de carbono?

Foley: Em casa, a melhor coisa que podemos fazer é mudar nossa dieta e maneira como usamos a energia. Reduzir o desperdício de alimentos e o consumo de alimentos intensivos em gases de efeito estufa – especialmente carne bovina, cordeiro e laticínios – pode ajudar muito.

Também podemos usar menos eletricidade comprando aparelhos de ar condicionado, geladeiras e iluminação mais eficientes e comprando serviços de eletricidade renováveis, se houver à disposição. Podemos também isolar e proteger melhor as nossas casas, tornando os espaços mais confortáveis, menos dispendiosos e mais eficientes ao mesmo tempo.

E podemos fazer a diferença caminhando ou usando o transporte público, voando menos e mudando para carros híbridos ou elétricos no futuro. Todos nós podemos ajudar a enfrentar a crise climática em casa, mas isso não substitui boas políticas, mudanças na tecnologia e mudanças nas práticas de negócios e investimentos. Precisamos fazer tudo – em nível local, estadual e nacional.

Autymn pergunta: Por que uma dieta à base de carne é mais prejudicial ao meio ambiente sendo que a agricultura vegetariana requer mais recursos?

Foley: As dietas à base de carne podem ser muito prejudiciais ao meio ambiente porque os animais ruminantes – como gado e ovelhas – liberam metano (um poderoso gás de efeito estufa) conforme digerem seus alimentos. Cultivar alimentos para alimentar esses animais também requer grandes quantidades de terra, água e energia. A criação desse tipo de animal usa muito mais recursos do que dietas baseadas em plantas.

Ao todo, a carne bovina e os laticínios liberam mais gases de efeito estufa e causam mais danos ambientais do que qualquer outra categoria importante de alimentos.

Candice pergunta: Eu moro em um país do terceiro mundo, onde apenas 1% da população está reciclando ou economizando alguma coisa. Como posso me dedicar mais para salvar nosso planeta?

Foley: Existem tantas maneiras de se envolver no tratamento da crise climática, não importa onde você more. Talvez o melhor lugar para começar seja aprender sobre a mudança climática em fontes de informação confiáveis e compartilhar o que você aprendeu com outras pessoas.

Sophie pergunta: Sobre carros elétricos – as baterias de lítio podem ser descartadas com segurança ou recicladas? E os impactos nocivos da mineração e produção de baterias?

Volkswagen cria 'robô frentista' que recarrega carros elétricos
Volkswagen cria ‘robô frentista’ que recarrega carros elétricos
Foto: Reprodução/CNN Brasil (30.dez.2020)

Foley: Os carros elétricos podem reduzir as emissões de gases do efeito estufa, mas ainda existem alguns problemas ambientais com as baterias. A maioria das baterias pode ser reciclada e reutilizada, mas isso ainda não resolve completamente o impacto ambiental da mineração de lítio e outros desafios.

Felizmente, existem esforços para melhorar os impactos ambientais da construção de baterias e novas tecnologias de baterias estão em desenvolvimento. Eu sou otimista.

A terminologia

Shirley pergunta: para onde foram as palavras “aquecimento global”. “Mudança climática” soa como algo que deveríamos simplesmente tolerar. Por outro lado, o “aquecimento global” implica o derretimento do gelo polar, o encolhimento das geleiras e o consequente aumento do nível do mar, que tanto nos preocupa.

Mann: Ambos os termos existem há décadas, mas existe um mito de que a comunidade científica parou de usar o “aquecimento global” em favor da “mudança climática” por uma razão ou outra.

O fato é que devemos usar os dois porque são complementares, mas eles dizem respeito a questões diferentes. O aquecimento global refere-se apenas à subida das temperaturas, enquanto a mudança climática captura todos os outros impactos que o aumento das temperaturas tem sobre o clima – mudanças nos padrões de precipitação e seca, mudanças nas correntes oceânicas e derretimento do gelo marinho e das camadas de gelo.

Os mitos

Hugh pergunta: Eu tenho um transtorno de ansiedade e recentemente tenho perdido um pouco do sono depois de ler um estudo que fala sobre como a mudança climática pode levar ao colapso da civilização em 2050. Posso aceitar que a mudança climática é uma ameaça séria e isso tornará a vida cada vez mais difícil e perigosa. Mas é realmente uma sentença de morte garantida nas próximas décadas?

Mann: Há outro mito – e perigoso – de que estaremos todos mortos em 10 anos devido a um aquecimento incontrolável e descontrolado. Isso é um absurdo. 

Se você acredita que isso é verdade, provavelmente sua reação será a mesma daqueles que não acreditam que a mudança climática está acontecendo, que é de total paralisia. O estudo ao qual você faz referência estava realmente dizendo que se não fizermos nada para reduzir as emissões de carbono nas próximas décadas, haverá enormes efeitos sobre a civilização.

Em um cenário em que agimos, essas coisas não acontecerão. Acho que é muito importante e estimulante para as pessoas entenderem que cabe a nós decidirmos, a escolha está em nossas mãos.

Nota do editor: as perguntas e respostas foram editadas para maior clareza e extensão.

(Esse texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)

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