Tribunal da ONU condena acusado de matar ex-premiê do Líbano Rafik Hariri
Segundo a Corte, Salim Jamil Ayyash, membro do grupo xiita Hezbollah, contribuiu diretamente para sua realização de atentado; outros 3 réus foram absolvidos


O Tribunal Especial para o Líbano, uma corte criminal internacional criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), condenou nesta terça-feira (18) um membro do Hezbollah acusado de conspirar para matar o ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, em 2005.
A Corte também afirmou que não há evidências suficientes para condenar outros três homens acusados de serem cúmplices na explosão que matou o ex-premiê e, por isso, eles foram absolvidos.
Hariri, um bilionário muçulmano sunita, tinha laços estreitos com os Estados Unidos, aliados ocidentais e sunitas do Golfo Árabe, e era visto como uma ameaça à influência iraniana e síria no Líbano. Ele liderou os esforços para reconstruir Beirute após a guerra civil que devastou o país entre 1975 e 1990.
“A câmara de julgamento está satisfeita além de qualquer dúvida razoável de que a Promotoria provou a culpa de Salim Jamil Ayyash em todas as acusações”, disse o juiz David Re.
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“O sr. Ayyash teve um papel central na execução do ataque e contribuiu diretamente para sua realização. O sr. Ayyash pretendia matar o sr. Hariri e tinha o conhecimento necessário sobre as circunstâncias da missão de assassinato, incluindo os explosivos que foram o meio usado.”
Ayyash também era o dono de “um dos seis celulares usados pela equipe de assassinos”, concluiu o tribunal ao considerá-lo culpado de cometer um ataque terrorista e o homicídio de Hariri e 21 outras pessoas.
Os promotores também foram capazes de estabelecer que Ayyash tinha ligação com o Hezbollah, concluiu o tribunal em sua decisão de 2,6 mil páginas.
Os outros três réus também seriam membros do grupo muçulmano xiita apoiado pelo Irã, mas não foi possível estabelecer o papel deles no ataque.

Os juízes disseram, entretanto, que não encontraram evidências de que a liderança do Hezbollah ou o governo da Síria tenham participado do ataque. O Hezbollah negou qualquer envolvimento no atentado realizado em 14 de fevereiro de 2005.
“A câmara de julgamento é da opinião de que a Síria e o Hezbollah podiam ter tido motivos para eliminar o sr. Hariri e seus aliados políticos. No entanto, não há evidências de que a liderança do Hezbollah teve qualquer envolvimento no assassinato do sr. Hariri e não há qualquer evidência direta de envolvimento da Síria”, disse o juiz David Re.
O resultado do julgamento foi divulgado semanas depois de da enorme explosão em Beirute que matou 178 pessoas.
País polarizado
O assassinato de Hariri, em 2005, mergulhou o Líbano na sua pior crise desde o fim da guerra civil e criou as bases para anos de confronto entre forças políticas rivais.
O líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, disse na sexta-feira (14) que não estava preocupado com o julgamento e que, se algum membro do grupo fosse condenado, defenderia sua inocência.
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A TV Al Manar, controlada pelo Hezbollah, e o canal pró-Damasco Al Mayadeen não cobriram o julgamento. Outras emissoras no Líbano transmitiram o caso ao vivo.
A morte de Hariri acabou com o período sunita de governo e permitiu a expansão política dos xiitas liderados pelo Hezbollah e seus aliados no Líbano.
Justiça após 15 anos
A investigação e o julgamento à revelia dos quatro supostos membros do Hezbollah levaram 15 anos e custaram cerca de US$ 1 bilhão. A sentença será divulgada futuramente e, apesar de Ayyash poder ser condenado a prisão perpétua, ele ainda tem chance de ser absolvido.
A evidência de DNA mostrou que a explosão que matou Hariri foi realizada por um homem-bomba que nunca foi identificado.
Os promotores usaram registros de telefone celular para alegar que os réus – Ayyash, Hassan Habib Merhi, Assad Hassan Sabra e Hussein Hassan Oneissi — monitoraram cuidadosamente os movimentos de Hariri nos meses que antecederam o ataque.
Advogados nomeados pelo tribunal disseram que não havia evidências físicas ligando os quatro homens ao crime e que eles deveriam ser absolvidos.
(Com informações da Reuters)