Trump volta a público em congresso que define as pautas conservadoras nos EUA

Ex-presidente falará durante a Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC), na Flórida, em evento que marca as pautas dos Republicanos para 2024

Políticos republicanos, personalidades da mídia e ativistas vão se reunir neste fim de semana, na Flórida, para a Conferência de Ação Política Conservadora, que acontece todo ano. O evento pode antecipar tendências sobre a disputa presidencial de 2024 no Partido Republicano, ao mesmo tempo em que amplifica as alegações de que a eleição de 2020 foi roubada.

O ex-presidente Donald Trump será a estrela do show, em Orlando, fazendo um discurso na tarde de domingo (28) no qual deve continuar a alegar que a eleição presidencial foi roubada. A fala marcará seus primeiros comentários públicos desde que deixou a Casa Branca.

Mas, a partir desta sexta-feira (26), outros potenciais candidatos à presidência em 2024 também podem aparecer e propor alguma ruptura que os coloquem em destaque. Seus discursos servirão como um medidor dos sentimentos da base conservadora sobre eles à medida que começam a se posicionar para as disputas eleitorais.

“A corrida para 2024 começará no CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora, na sigla em inglês)”, disse Matt Schlapp, presidente da American Conservative Union (União Conservadora Americana), organizadora-chefe do CPAC.

Participação de aliados

O grupo de palestrantes inclui alguns dos mais leais aliados de Trump no Capitólio, incluindo os senadores Rick Scott (Flórida), Mike Lee (Utah), Ted Cruz (Texas), Josh Hawley (Missouri), Rom Cotton (Arkansas) e os deputados Matt Gaetz (Flórida), Lauren Boebert (Colorado), além do líder da minoria na Câmara, Kevin McCarthy. 

O grupo inclui ainda vários dos mais fortes apoiadores de Trump nos estados: o governador da Flórida, Ron DeSantis, e a governadora de Dakota do Sul, Kristi Noem.

O evento também vai contar com a presença de vários veteranos da administração Trump, incluindo o ex-secretário de Estado Mike Pompeo, o ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano Ben Carson e a ex-secretária de imprensa da Casa Branca Sarah Huckabee Sanders, que está concorrendo ao governo do Arkansas com o endosso de Trump. O filho de Trump, Donald Trump Jr., e sua namorada, que também é assessora de campanha de Trump, Kimberly Guilfoyle, também subiram ao palanque.

Não estão na lista de oradores os críticos intrapartidários de Trump, como os senadores Mitt Romney (Utah), Ben Sasse (Nebraska) e o governador de Maryland, Larry Hogan. 

Também não comparecerão o ex-vice-presidente Mike Pence, que recusou o convite, e Nikki Haley, ex-embaixadora de Trump na ONU e que ficou isolada depois de fazer críticas moderadas ao ex-presidente. 

Matt Schlapp, organizador do evento, disse que Haley inicialmente sinalizou que falaria na conferência, mas que depois desistiu. Haley não respondeu a um pedido de comentário.

Controle de Trump sobre os Republicanos

O CPAC deste ano certamente demonstrará o controle firme de Trump sobre o Partido Republicano e a ânsia da base conservadora em transformar as falas de Trump sobre fraude eleitoral em ação política, à medida que várias legislaturas estaduais se movem para impor novas restrições de voto. Sete painéis da conferência serão sobre o tema de “proteção às eleições”.

O evento parece ser pouco mais do que um fórum para apresentar alegações do mundo Trump, como as que a eleição foi roubada pelo presidente Joe Biden. Essas acusações foram rejeitadas pelo próprio procurador-geral de Trump, William Barr, bem como por dezenas de decisões judiciais, em alguns casos envolvendo juízes nomeados por Trump.

Schlapp reconheceu que grande parte da conferência será dedicada às afirmações de Trump sobre a eleição. Ele disse que seria “melhor” se os participantes da conferência também se concentrassem na agenda de Biden.

“Penso que não há problema em falar sobre as atrocidades” da última eleição, disse Schlapp. “Mas é melhor reunir as pessoas para impedir as políticas de Biden.”

O tema do evento é “América não Cancelada”. As frases dão peso às crenças dos conservadores de perseguição política contra Trump depois que o Twitter e outras plataformas de mídia social baniram o ex-presidente na esteira da insurreição de 6 de janeiro, quando o capitólio foi invadido por manifestantes pró-Trump. 

O que Trump vai dizer

O discurso de Trump no CPAC no domingo à tarde servirá como seu ressurgimento no mundo político e, de acordo com uma fonte familiarizada com seus planos, o texto ainda não está concluído e os assessores ainda avaliam a melhor maneira de causar impacto político a longo prazo.

Alguns dentro do círculo de Trump estão aconselhando o ex-presidente a se concentrar em 2022 e ganhar maiorias na Câmara e no Senado, que agora são controlados por democratas. No entanto, Trump e aqueles que impulsionaram sua agenda antissistema estão, ao invés disso, considerando uma mensagem sem tons de unidade do Partido Republicano, que visa atingir os críticos intrapartidários de Trump, disse a fonte.

“Estamos indo para a guerra… Mas não fisicamente”, disse esta fonte ao descrever o sentimento. “A temporada das primárias está aberta.”

Mas, em última análise, aqueles ao seu redor sabem que o discurso que Trump fará no domingo dependerá do que ele decidir. Quer dizer que, quando chegar ao evento, ele tomará a frente, mesmo que signifique não seguir o roteiro escrito pelos assessores. 

É provável que Trump continue falando sobre fraudes eleitorais. “Sim, quando o assunto for a necessidade de reformas eleitorais”, disse o conselheiro sênior de Trump, Jason Miller, sobre os planos do ex-presidente de insistir sobre as fraudes eleitorais no discurso de domingo.

Trump passou os últimos dias em reuniões em Mar-a-Lago com republicanos que garantem lealdade a ele.

Reuniões sobre futuro político

A presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel, o ex-gerente de campanha de Trump, Brad Parscale, o ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano de Trump, Ben Carson e Miller foram todos vistos na residência do ex-presidente, na Flórida, semana passada.

Muitas das reuniões de Trump se concentraram em seu futuro político – incluindo sua estratégia para as eleições intermediárias de 2022 e planejando, “caso” ele se candidate, a eleição presidencial, disse a fonte. 

Enquanto Trump continua a flertar com uma oferta para 2024, seu foco agora está na vingança contra aqueles que ele acredita terem cruzado seu caminho. Seus assessores estão identificando candidatos pró-Trump para desafiar os seus adversários republicanos na Geórgia, como a deputada Liz Cheney, do estado de Wyoming, que votou pelo impeachment do ex-presidente, entre outros políticos opositores a Trump dentro do Partido Republicano. 

Enquanto Trump continua fazendo reuniões, a fonte disse que seu círculo íntimo é menor do que no passado – observando que Trump ainda se sente traído por aqueles que não apoiaram suas mentiras sobre fraude eleitoral e não o apoiaram após o motim de 6 de janeiro no Capitólio, que Trump instigou com um discurso encorajando apoiadores furiosos a marchar até lá.

Um dos ex-assessores do ex-presidente questionou a decisão do CPAC de colocar Trump de novo debaixo dos holofotes. Pode ser útil para Trump retornar ao palco enquanto ele tenta se fortalecer no Partido Republicano e vislumbra uma corrida de retorno à Casa Branca em 2024. Ainda assim, o conselheiro argumentou, o retorno de Trump é um revés para o Partido Republicano.

“Para ele, é bom. Mas é ruim para o partido”, disse o conselheiro, acrescentando que é da natureza de Trump continuar a propagar suas reclamações eleitorais infundadas.

“Ele nunca enfrenta nenhuma consequência por suas ações”, disse o conselheiro. “Por que mudar agora?”

Por que o CPAC é importante

Desde 1974, o CPAC passou de uma pequena reunião de algumas centenas de ativistas conservadores para um dos maiores eventos políticos anuais do país, atraindo regularmente milhares de participantes e discursos de importantes políticos republicanos.

Pela primeira vez em seus quase 50 anos de história, o CPAC será realizado fora da área de Washington. A Flórida emergiu não apenas como um estado vermelho confiável, mas é o lar de Trump e duas outras figuras conservadoras importantes: DeSantis e Scott, ambos os quais terão papéis relevantes como oradores no palco principal da conferência.

Intercalados com painéis de política e sessões abertas para ativistas, os discursos no palco principal do CPAC oferecem aos republicanos ambiciosos a oportunidade de falar diretamente aos fiéis conservadores. Ronald Reagan falou em 13 edições do CPAC, incluindo a primeira reunião, seis anos antes de se tornar o candidato republicano à presidência.

Desde Reagan, cada candidato falou pelo menos uma vez no CPAC – incluindo aqueles com relações tensas com o movimento conservador, como George H.W. Bush e John McCain. A confabulação pode dar aos candidatos republicanos a chance de causar uma primeira impressão ou mudar sua percepção com a base ativista do partido.

Em 2000, George W. Bush fez sua primeira aparição no CPAC, conquistando uma multidão com um discurso sobre o impeachment do presidente Bill Clinton, enquanto ele solidificava sua indicação para a presidência pelo Partido Republicano, que viria no final daquele ano. 

Doze anos atrás, durante sua própria candidatura bem-sucedida à indicação republicana, Mitt Romney elogiou, como governador de Massachusetts, o CPAC por seu histórico “severamente conservador”.

Uma característica fundamental da maioria dos CPACs é a pesquisa de opinião presidencial, uma pesquisa informal e não científica com os participantes do evento, que pode ser um termômetro para o partido com relação às eleições gerais, além de uma demonstração da sua capacidade organizativa. 

De 2007 a 2012, Romney ganhou quatro eleições no CPAC. Trump não ganhou nenhuma das quatro votações antes de 2016, quando foi eleito.

A carreira política de Trump dentro do Partido Republicano veio como parte do CPAC. A primeira aparição foi no evento de 2011, quando foi apresentado pela diretora do evento, Lisa de Pasquale, como alguém que estava pensando em entrar no jogo para a nomeação do partido já em 2012.

“Este é o meu povo”, disse Trump enquanto a multidão aplaudia. “Isso é lindo.”

O discurso de Trump em 2011 tem todas as características de sua campanha de 2016 e também do mandato que exerceu. Ele criticou os Estados Unidos por serem “motivo mundial de chacota” e afirmou que os líderes de outros países estavam se aproveitando da América. 

Trump afirmou que era “pró-vida” e contra o controle de armas, o Obamacare e o aumento de impostos. Preços elevados do gás, venda da Bolsa de Valores de Nova York para uma empresa alemã, ataques de piratas somalis. Trump se gabou que seria capaz de lidar com tudo isso muito melhor do que os líderes da época.

“Sobre os piratas somalis?” Disse Trump. “Quão simples seria? Dê-me um bom almirante e alguns bons navios, nós os expulsaremos da água rapidamente.”

Ele até antagonizou parte da multidão, dizendo a um grupo barulhento de apoiadores de Ron Paul na plateia que o congressista libertário do Texas “não pode ser eleito”.

Trump voltaria ao CPAC em 2013, 2014 e 2015, sempre atraindo grandes públicos graças a sua fama e capacidade de falar na linguagem de um populista para uma multidão fervorosa. Ele se tornou um grande doador para a União Conservadora Americana, a organização por trás do CPAC. Trump também falou na conferência todos os anos durante sua presidência.

Ironicamente, em 2016, o ano em que ele ganhou a indicação republicana, foi a última vez que Trump não apareceu no CPAC. 

No meio da temporada das primárias do Partido Republicano, Trump desistiu de sua vaga no CPAC naquele ano depois que alguns ativistas acusaram os organizadores do CPAC de serem muito próximos a ele. Em vez disso, ele se manteve dedicado à campanha, incluindo a participação em um grande comício em Orlando.

Cinco anos depois, o CPAC está chegando a Orlando, praticamente no quintal de Trump. Embora vários candidatos à presidência para 2024 aproveitem a oportunidade para fazer barulho, seus discursos serão o ato de aquecimento para o grande discurso de Trump no domingo.

(Texto traduzido do inglês. Clique aqui para ler o original)

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