Ações comunitárias ajudaram a combater a Covid-19 em Paraisópolis, diz estudo

A comunidade também contratou ambulâncias, assim como médicos e enfermeiros para atuarem no local

Um estudo do Instituto Pólis ao qual a CNN teve acesso mostra que Paraisópolis teve um controle melhor da pandemia do novo coronavírus do que a cidade de São Paulo. O principal fator para o sucesso no combate da Covid-19 foi a série de ações integradas e comunitárias para a contenção da doença.

Para esta pesquisa, foram analisadas as mortes de Paraisópolis utilizando os óbitos que foram georreferenciados pelo CEP (informação que estava na base do DATASUS de casos até o dia 18/05). A partir deles, os pesquisadores levantaram o número de casos confirmados de Covid-19 e mortes pela doença no distrito da Vila Andrade, que abriga a favela, para então fazer o recorte de Paraisópolis e do bairro sem a comunidade.

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Com base em dados da Secretaria Municipal da Saúde, a pesquisa aponta que os distritos com maior número de mortes pelo novo coronavírus estão nas regiões com maior concentração de população de baixa renda, que não consegue aderir ao isolamento social por causa do número populacional ou sequer seguir as recomendações de higiene, por problemas de acesso ao saneamento básico.

“Apesar de o vírus ter aparecido primeiro na zona sudoeste da cidade, uma das mais ricas, características de infraestrutura urbana e índices socioeconômicos contribuíram para que territórios com maior precariedade urbana, como favelas por exemplo, fossem mais atingidas pela doença”, escrevem os pesquisadores responsáveis pelo estudo.

A análise do Instituto Pólis indica que nos bairros mais pobres a organização comunitária estruturada é fundamental para o controle da doença, e tem sido mais efetiva do que a média municipal –como é o caso da comunidade de Paraisópolis, uma das maiores favelas do país, que conta com mais de 70 mil habitantes, segundo o IBGE, e com densidade demográfica de 61 mil habitantes por km².

As ações de Paraisópolis fizeram com que a favela tivesse a taxa de mortalidade por Covid-19 de 21,7 pessoas a cada 100 mil habitantes em 18 de maio –enquanto a Vila Andrade como um todo, distrito do qual Paraisópolis faz parte, registrava 30,6 mortes a cada 100 mil habitantes. Esse índice também foi menor que a média municipal, de 56,2 mortes a cada 100 mil habitantes.

Para a contenção da doença, a associação de moradores de Paraisópolis desenvolveu uma série de estratégias, como o sistema “presidentes da rua”: voluntários ficam responsáveis por monitorar famílias para a detecção de sintomas causados pelo coronavírus. Segundo o estudo, foram cerca de 420 “presidentes da rua”, cada um cuidando de cerca de 50 residências.

A associação também arrecadou e distribuiu cestas básicas, além de divulgar informações corretas sobre a doença, combatendo as fake news, e realizando o encaminhamento dos que testaram positivo para a Covid-19.

A comunidade de Paraisópolis também contratou ambulâncias equipadas para atender as pessoas infectadas com o novo coronavírus, assim como médicos e enfermeiros para atuarem no local 24 horas. Cerca de 240 moradores foram capacitados como socorristas para atuarem nas 60 bases de emergência criadas com a presença de bombeiros para apoiar os doentes.

O governo de São Paulo cedeu duas escolas públicas após o pedido de associação dos moradores para que os casos confirmados fossem isolados. 

“Ao analisar as ações e os dados de óbitos, o Instituto Pólis atesta que a favela, apesar das condições de precariedade e vulnerabilidade, tem sido eficiente em baixar a média de mortalidade do distrito como um todo”, afirma o estudo.

Ainda de acordo com o instituto, o número de mortes de idosos na comunidade é percentualmente menor do que da Vila Andrade: 50% na favela contra 75,5% no bairro. O índice também é menor que a média estadual: nesta terça-feira, o governo de São Paulo divulgou que 73,8% dos mortos por Covid-19 são pessoas com mais de 60 anos.

“O cenário em Paraisópolis deixa claro que iniciativas de atenção básica à saúde e ações voltadas para garantir a segurança alimentar e outras despesas essenciais, com ampla testagem e busca ativa de novos casos e controle dos familiares, são eficazes no combate à pandemia em centros urbanos”, afirmam os pesquisadores. “Assim, teríamos em Paraisópolis um bom exemplo para uma política pública de contenção do vírus que poderia ser replicada, como uma política de estado, em outros territórios vulneráveis.”

O estudo faz parte de uma série de avaliações do Instituto Pólis sobre a Covid-19 e a desigualdade social. 

 

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