Campanha em SP distribui comida para caminhoneiros
Ação é liderada pelo fisioterapeuta Gabriel Grasi, de Orlândia; cerca de 100 marmitas são doadas por dia


Em meio à pandemia do novo coronavírus, os caminhoneiros têm um dos serviços considerados essenciais para a população: o transporte de cargas. Pensando neles, o fisioterapeuta Gabriel Grasi iniciou um projeto para auxiliá-los com a doação de marmitas.
Grasi, que mora em Orlândia, no interior de São Paulo, faz trabalho voluntário há alguns anos em hospitais infantis e abrigos, mas durante a quarentena decidiu mudar o foco, organizando a ação para produzir as marmitas.
“Eu tenho amigos que são caminhoneiros e começaram a relatar a dificuldade que estava sendo para conseguir comida nesse período. Teve um caso específico de um motorista que estava há uma semana comendo só amendoim. E quem está mantendo os comércios abastecidos são eles, então o mínimo que a gente poderia fazer era uma refeição para ajudar”, explicou o fisioterapeuta à CNN.
Com doações em seu Instagram, rede onde Gabriel é conhecido por se fantasiar como o super-herói Thor durante os trabalhos como voluntário, ele e mais dois amigos, Juninho e Cléber, começaram a preparar a comida em suas casas.
O trio entrega cerca de 100 marmitas por dia na rodovia Anhanguera, que passa por Orlândia, divididos em dois turnos no almoço e no jantar. Eles se revezam segurando uma placa que indica onde os motoristas devem parar.
“De início eu pensei em fazer uma vaquinha e comprar marmitas prontas da cidade em um lugar mais barato. Só que esses dois amigos meus são cozinheiros e vieram com a ideia de a gente arrecadar os ingredientes, fazer as marmitas e doar. E aí eu levantei essa bandeira, fiz um vídeo na internet em uma quinta-feira à noite, e na sexta de manhã já começaram a chegar vários alimentos”, contou Gabriel.
Mas diante das medidas de isolamento social contra o novo coronavírus, a pequena equipe de voluntários segue todas as recomendações do Ministério da Saúde durante o trabalho. Eles receberam doações de máscara, luvas e álcool em gel de uma farmácia da cidade, e evitam se aproximar muito dos caminhoneiros durante a entrega da comida.
“Quando o caminhão para a gente mantém distância para conversar, não fica perto. Tanto que a maioria deles não desce do caminhão, eles só abrem a janela e a gente fala que está fazendo a campanha oferecendo a comida de graça, entregando a marmita com luva. E mesmo assim a gente tem o álcool em gel no carro, toda hora higienizamos as mãos”, explica Grasi, reforçando as recomendações das autoridades de saúde.

Mas apesar do respeito à distância entre eles e os caminhoneiros, o voluntário ressalta os agradecimentos gratificantes diante da iniciativa do grupo de amigos. “Um dos motoristas viu a placa e parou um pouco pra frente do nosso posto. Ele desceu do caminhão, ajoelhou praticamente no meio da pista e começou a agradecer a gente, falando que fazia três dias que ele estava sem comer direito. Nessa hora que ele ajoelhou, nós três começamos a chorar, foi uma cena bem emocionante.”
Para Grasi, a quarentena pode ser uma oportunidade de rever velhos hábitos e ampliar a solidariedade. “A gente vê que, apesar de tudo, de toda a dificuldade, têm coisas que vêm para a gente parar para pensar que precisa cuidar mais uns dos outros. É muito triste ver pessoas perdendo a vida para essa doença, mas eles não pararam. Então a gente precisa valorizar isso.”
O projeto aceita doações de mantimentos em Orlândia e região por meio da conta de Instagram do fisioterapeuta.