Fotógrafo retrata em imagens do alto a desigualdade social no Brasil e no mundo
Johnny Miller tem viajado o mundo e está desde outubro no Brasil para retratar a segregação social e espacial entre ricos e pobres


Por vezes, as notícias que tentam dar conta do tamanho da desigualdade social falham. Números fracionados e siglas se mostram pouco eficientes em muitos casos para retratar o tamanho do problema. Dizer que o índice de Gini do Brasil ficou em 0,543 ao fim de 2019, em uma escala que vai até 1, não ilustra o tamanho do problema.
Para tentar tornar mais claro o fenômeno, o fotógrafo baseado na África do Sul Johnny Miller teve a iniciativa de mostrar, do alto, qual a aparência dessa desigualdade que os índices tentam quantificar.
Ele tem viajado o mundo e está desde outubro no Brasil para retratar a segregação social e espacial entre ricos e pobres. Já visitou cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O próximo destino é Salvador.
Miller retrata do alto a paisagem da desigualdade quase sempre com drones. Parte do seu trabalho sobre o Brasil está em seu perfil no Instagram. Entre as fotos disponíveis está uma da região talvez mais emblemática da desigualdade brasileira, a “fronteira” entre os bairros de Paraisópolis e Morumbi, na zona sul de São Paulo.
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“Os prédios ao redor do Morumbi elevam-se acima da favela e criam uma estranha dicotomia entre ricos e pobres, acima e abaixo”, comentou o fotógrafo.
A disparidade entre os moradores dessa região foi retratada em 2004 por Tuca Vieira em uma foto que rodou o mundo e chegou a Miller. No Brasil, ele encontrou-se com o brasileiro e ambos sobrevoaram novamente a região. “Liguei para o Tuca e queria ver se ele estava disposto a voltar e ver como era agora, em 2020”, contou Miller em seu perfil.

Depois de sobrevoar a região com o colega de profissão 16 anos depois da foto de Tuca, sua conclusão é a de que, estruturalmente, nada mudou, apesar de alguns itens novos na paisagem. Miller e Tuca fizeram uma nova foto do local e agora é possível ver algumas árvores e uma rua separando os dois mundos, mas a disparidade permanece intocada.

O fotógrafo relata que foi acusado de simplificar a questão da desigualdade, assim como Tuca Vieira em sua célebre fotografia, e que imagens como essas acabam por reduzir países como o Brasil a um conflito entre ricos e pobres.
“A fotografia é intrinsecamente reducionista, e não tenho certeza se a crítica é justificada”, afirmou. “Essa fotografia, embora precisa, é apenas uma imagem 3×4. Eu convido você a explorar o Brasil, se possível, por si mesmo”, instiga o fotógrafo no comentário da sua foto no Instagram.
Desigualdade pelo mundo
O fotógrafo desenvolve seu projeto graças a bolsas de financiamento e ao apoio da ONU Habitat, agência da Organização das Nações Unidas voltada para a questão habitacional. Com isso, retratou do alto a desigualdade em países de diferentes continentes.
O Brasil, objeto atual do olhar atento de Miller, ocupa a nona posição entre os países mais desiguais do mundo. O topo da lista pertence à África do Sul, onde o fotógrafo mora e de onde vem sua produção mais numerosa. É dele a foto que estampou a capa da revista Time sobre a condição de extrema desigualdade do país, marcado pelo Apartheid. Ele também passou por Namíbia, Tanzânia, Quênia, Índia, México, países em desenvolvimento que registram níveis alarmantes de diferenças sociais.
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Mas não são apenas os países da periferia global que entram na mira do profissional e sua câmera voadora. Os Estados Unidos também foram escolhidos por ele.
O país mais rico do mundo tem nada menos que 40 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, o tamanho da população do Iraque, e têm os piores índices de pobreza entre os países desenvolvidos.
O trabalho de Johnny Miller pode ser acessado pelo site. Confira algumas imagens abaixo.
Rio de Janeiro

São Paulo

Cidade do Cabo

Nairóbi
