Lojas de materiais de construção ensaiam retomada e descolam da queda do varejo

As vendas se aceleraram na última semana de maio e cresceram 10,1% na comparação com os dias equivalentes pré-pandemia

As lojas do comércio e do setor de serviços começam a apresentar padrões distintos de recuperação na medida em que as restrições da quarentena são aliviadas. E o mês de maio abriu caminho para o crescimento das vendas de materiais de construção. É o que revela o estudo “Impacto da Covid-19 no Varejo Brasileiro”, realizado pela empresa de meios de pagamento Cielo.

As vendas totais do varejo (incluindo serviços) caíram 30,1% na última semana de maio na comparação com dias equivalentes de fevereiro (ou seja, o período anterior à chegada do coronavírus ao país), já desprezando a influência de feriados.

Foi a quinta semana consecutiva em que o setor sofreu retração na casa de 30% na comparação com o pré-crise, de acordo com os dados que compõem o Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA). São números que sugerem que a queda se estabilizou nesse patamar.

Mas é prematuro afirmar que se trata de um padrão que veio para ficar. É o que afirma Gabriel Mariotto, diretor de Inteligência da Cielo. Segundo ele, o processo de reabertura de lojas no estado de São Paulo — que responde por cerca de 35% do índice calculado pela Cielo — ao longo do mês de junho deve dar uma dimensão mais precisa sobre a diferença do chamado “novo normal” das vendas do setor em comparação com o que era praticado antes da pandemia. 

“Em alguns segmentos que são representativos para o varejo, como o de shoppings, o aumento da oferta com a reabertura de lojas deverá causar um efeito importante para as vendas”, diz Mariotto. Ele ressalta que será o momento de avaliar a propensão dos consumidores a gastar. 

Quem já se destaca é o setor de materiais de construção. As vendas se aceleraram na última semana de maio e cresceram 10,1% na comparação com os dias equivalentes pré-pandemia, muito acima da alta de 3,5% registrada uma semana antes. Foi a quarta expansão seguida das vendas desse segmento, que começou a ensaiar uma volta à normalidade ainda em abril.

São lojas que foram enquadradas na categoria de comércio essencial em muitas cidades ainda no início da quarentena, o que possibilitou que pudessem atender clientes presencialmente.  Foi o que aconteceu no estado de São Paulo, onde as lojas ficaram fechadas só uma semana.

Segundo Mariotto, com a recomendação para ficar em casa, muitas pessoas decidiram fazer pequenas reformas ou consertos domésticos, puxando a demanda da pessoa física. Na ponta da pessoa jurídica, empresários com dinheiro em caixa decidiram aproveitar o período de portas fechadas para realizar reformas que estavam sendo adiadas havia anos.

Na maioria dos segmentos, no entanto, a análise semanal das vendas em maio mostra um desempenho ainda distante do que era verificado antes do coronavírus. É o caso do ramo que reúne móveis, eletrodomésticos e eletrônicos e lojas de departamento: a queda oscilou entre 15% e 20% ao longo de maio na comparação com os dias equivalentes em fevereiro. A boa notícia é que, em abril, a retração havia sido ainda maior, de 50% a 60% em três das cinco semanas.  

O indicador da Cielo é calculado a partir de dados de pagamentos com cartão em 1,4 milhão de estabelecimentos comerciais em todo o país. O modelo utilizado pelo ICVA inclui também uma estimativa de pagamentos em dinheiro para calcular os resultados do setor.  

Tópicos