O Grande Debate: Mandetta deve sair do Ministério da Saúde ou aguardar demissão?
Debatedores ainda falaram sobre o perfil para o novo ministro da Saúde e se haverá riscos de que ele ponha fim ao isolamento social como tem sido feito no país
O Grande Debate, desta quinta-feira (16), colocou em pauta a definição sobre o futuro do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A pergunta feita ao advogado Thiago Anastácio e para a economista Renata Barreto foi: Mandetta deve sair do Ministério da Saúde ou aguardar a demissão?
Além do tema principal, os debatedores falaram sobre o perfil para o novo ministro da Saúde, sobre o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo e discutiram se o presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), tem direito de omitir o resultado dos exames que fez para testar se estava com o coronavírus.
Nos argumentos iniciais, Renata Barreto disse estar na expectativa pelo “fim da novela para que a transição da nova equipe aconteça o mais rápido possível”. “Ninguém mais aguenta esse assunto e acho que é apenas questão de tempo, como a gente já vinha falando, nos outros dias, para o ministro Mandetta sair”, afirmou.
Renata considerou que “Mandetta não é santo e também tem parcela de culpa” na crise que deve levar à saída dele da pasta. “Com a entrevista e as investidas políticas que deu, Mandetta deixou a situação ainda mais difícil do que ela já era”, avaliou.
Já Thiago Anastácio disse que é preciso analisar a entrevista do ministro à Veja, na qual declarou estar cansado após 60 dias de batalha com o governo. “Assim como o [Dia do] Fico de Dom Pedro I, o chega de Mandetta parece muito importante neste momento de República”, afirmou ele.
O advogado ainda criticou a forma como a economista qualificou o ministro da saúde. “Eu fico muito preocupado quando as observações são sobre ser ou não ser santo, como a Renata colocou aqui. Isso porque, evidentemente, que o santo da história parece que não existe, mas nós não podemos falar que apenas o ministro Mandetta não é santo, pois o presidente da República também não é. E essa entrevista parece deixar isso bem claro”, defendeu.
Renata voltou a citar que a crise política em meio à pandemia do novo coronavírus tem características de novela mexican. “Eu quero um bom desfecho e acho que o Mandetta não precisa dar mais nenhum tipo de declaração”, disse a economista.
Thiago defendeu que o ministro tenha “atitude de uma pessoa madura” na saída e lembrou que, para o cargo, é necessário “conhecer as entranhas” do governo.
Mediador do debate, Reinaldo Gottino questionou os participantes sobre a possibilidade de um novo ministro mudar as políticas de isolamento social.
Thiago Anastácio citou a “dinâmica do alastramento” do vírus e afirmou que o ministro não deve seguir Bolsonaro, mas passar para ele a orientação técnica. “Evidentemente que é preocupante e sabemos que um dos critérios prováveis é que o novo ministro da Saúde tenha uma posição como a do presidente”, analisou o advogado.
Renata Barreto, por sua vez, disse acreditar que não deve haver afrouxamento tão logo ocorra a eventual saída de Mandetta. “Já foi decidido que a competência desse assunto é dos estados e eu acho que o presidente, apesar de muito ruim em se comunicar, nunca disse que não se deveria fazer o isolamento. A preocupação dele é a economia, que tem pontos extremamente legítimos”, avaliou.
Ao analisar a declaração sobre a eventual saída de Gabbardo, Thiago classificou que ela parece antecipar um cenário ruim. “Falar em jogar no lixo pode sugerir – não sei se isso e espero que não seja – que haveria uma possível redução da qualidade ou mesmo da absorção de informações sobre o Ministério da Saúde nesta próxima gestão, então é muito ruim”, disse. “Espero que ele se mantenha porque é necessária essa transição, que ele fique para que o navio não fique à deriva”, completou.
Renata afirmou que considerava Gabbardo um bom nome para substituir Mandetta e avaliou a declaração dele como grave. “Agora, não sei se o melhor é Gabbardo à frente do ministério, mas ele estar ali, ainda dentro da equipe, faz bastante sentido e espero que ele reavalie isso”, disse. “Porque essa é uma briga pensada de maneira política. Então, não é um problema da equipe, mas do ministro com o presidente”, acrescentou.
Ao abordar a decisão da Câmara de Deputados para que Bolsonaro apresente os resultados dos testes para a COVID-19, o advogado citou crime de responsabilidade. “Se o exame tiver dado positivo, ele quebrou o decoro e mentiu à nação, então esse é o ponto do problema”, defendeu.
Para a economista, Bolsonaro não pode ser obrigado a mostrar os exames. “Ele não pode produzir provas contra si mesmo, nem quebrar o próprio sigilo médico”, argumentou ela. “É estritamente pessoal, mas ele não é obrigado a mostrar nada”.
Considerações finais

Ao encerrar o debate desta quinta, Thiago Anastácio iniciou suas considerações finais ainda questionando sobre a transparência a respeito dos exames de Bolsonaro. “É um tema complexo. Será que nós temos um presidente que, duvidosamente, diz a verdade?”, questionou.
Em relação à crise do Ministério da Saúde, o advogado disse que todos devem “agradecer ao ministro Mandetta pelo trabalho bem feito”, desejou que “ele tenha uma boa jornada pessoal e política, se for do interesse dele” e afirmou esperar que o escolhido para o cargo “possa iluminar a cabeça de Bolsonaro, que tanto está precisando de orientação neste momento”.
Renata Barreto voltou-se para o tema principal, se mandeta sai ou espera a demissão. “O mais importante de tudo isso não é essa discussão específica, mas o Ministério da Saúde e para onde a gente está caminhando”, avaliou.
A economista disse ver a equipe ministerial de Mandetta como “bastante técnica e capacitada”. Ela acredita que o grupo deve participar da transição diante da eventual mudança de comando da pasta.
Sobre as mudanças, ela sugeriu equilíbrio. “A gente não pode deixar de olhar para as duas esferas mais importantes nesse momento: a saúde e a economia”, concluiu.