O Grande Debate: o governo deveria imprimir mais dinheiro?
Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho discutem as declarações de Henrique Meirelles sobre impressão de dinheiro e o afrouxamento da quarentena nas capitais


O Grande Debate da noite desta quinta-feira (9) teve três temas. O primeiro foi sobre a proposta do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles de imprimir dinheiro como forma de sair da crise. Depois, Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho discutiram sobre a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de que o governo federal não pode derrubar medidas adotadas por estados e municípios contra o coronavírus. Por último, debateram o afrouxamento da quarentena em todas as capitais do país.
A primeira pergunta respondida por Caio e Augusto foi: governo deve imprimir dinheiro para combater a crise?
Augusto iniciou a exposição citando uma fala de Delfim Netto em artigo no jornal “Folha de S.Paulo”: “Todos pagaremos pelo empobrecimento geral, proporcionalmente à nossa situação de vulnerabilidade, como em uma guerra. Mas, como sempre aconteceu na história do homem, haverá vida depois disso”.
Ele então disse ser a favor das propostas de Meirelles de imprimir dinheiro, acrescentando que a medida faz parte de uma corrente chamada Nova Teoria Econômica, e que seus dogmas já foram testados com sucesso. “O termo ‘imprimir dinheiro’ é uma figura de linguagem. A ideia da medida é tentar expandir a base monetária do país. Estamos com pouco dinheiro circulando, o Banco Central tem espaço para expandir base monetária sem contrair dívidas e sem risco para inflação. Medida já foi usada diversas vezes, principalmente pós 2008, em países da Europa e nos Estados Unidos”, disse Augusto
Caio rebateu as medidas econômicas propostas, e afirmou que a teoria econômica clássica, de Adam Smith, enxerga a impressão de dinheiro como uma porta para a inflação e o desequilíbrio econômico. “O dinheiro vale o que a sociedade define, está sujeito às leis da economia. Imprimir dinheiro sem lastro faz a moeda perder poder de compra, e gera inflação. Os piores momentos econômicos do Brasil foram gerados pela impressão de moedas. Em tempos de crise é possível o Estado ter outras ações para a economia, como dar mais liquidez ao mercado, benefícios previdenciários e renúncia fiscal”, disse Caio.
Augusto respondeu: “Em momento de crise, não é hora de discutir correntes econômicas. Devemos seguir critérios de importância no auxílio. Mas o governo tem que fazer isso com agilidade maior, as pessoas que ficam sem dinheiro estão pressionadas a sair na rua”, concluiu.
A decisão de Alexandre de Moraes
A mediadora do debate, Monalisa Perrone, cita o segundo assunto do dia: a decisão do ministro Alexandre de Moraes de impedir a União de invalidar medidas tomadas por estados e municípios contra a pandemia de coronavírus.
O decreto foi elogiado por Augusto, que classificou a decisão como “um primor”. Porém, ressalvou: “O texto precisa ser levado rapidamente ao STF para ser julgado pelo colegiado. O que vem acontecendo nos tribunais é que os ministros e desembargadores vêm decidindo de forma monocrática, e isso não pode acontecer nesta decisão. É preciso que todos os ministros se manifestem.”
Já Caio se concentrou no aspecto político da decisão, e disse que, apesar de à primeira vista não parecer, a medida de Moraes é um “golaço” para o presidente Jair Bolsonaro. “A decisão vai ao encontro do teor do pronunciamento à nação do presidente, onde se separou dos governadores em relação às medidas de isolamento. Desta vez, Alexandre de Moraes atuou a favor de Bolsonaro.”
Augusto discordou da visão de Caio. “Texto deixa claro que os estados, diante de suas particularidades, têm liberdade própria para decidir o que é melhor para si. Eles têm a competência e a responsabilidade.”
Já Caio vê como um ônus aos governadores e prefeitos o peso de definir as medidas de isolamento. “Ao ter que decidir, todas as consequências políticas, morais e sociais passam por estados e municípios.”
Afrouxamento da quarentena
Sobre a questão do afrouxamento da quarentena visto nas capitais do país, Caio defendeu a noção de que, em uma pandemia, é preciso avaliar diariamente os acontecimentos e agir diante deles. “A ciência pressupõe a dialética, e em uma pandemia o aprendizado acontece no desenrolar dos acontecimentos. A realidade está se impondo às projeções. Fatores como a ampliação dos números de leitos mudam a forma como as coisas acontecem.”
Já Augusto trouxe um estudo que mostrou que nas últimas 24 horas o trânsito na cidade de São Paulo quadruplicou. “A capital que teve a maior redução do isolamento foi Manaus, justamente a capital do estado que disse que em questão de dias sofrerá colapso em seu sistema de saúde. Técnicos da Universidade Federal de Minas Gerais projetam que o Brasil ficará sem vagas de UTI na segunda quinzena de maio.”
Argumentos finais
Em sua fala final, Augusto trouxe um artigo do jornal “The New York Times” que estabelece quatro parâmetros para saber quando poderemos sair de novo nas ruas: quando os hospitais voltarem a ter vagas não só para pacientes com coronavírus; que o Estado consiga ser capaz de realizar testes em todas as pessoas que apresentam sintomas, e que consiga monitorar os infectados. E, por último, quando os índices de contágio caírem nos últimos 14 dias antes da liberação da população.
Já Caio disse que segue todas as recomendações médicas em relação ao coronavírus, e agradeceu o espaço de debate, dizendo que “nossa indignação tem que ser pacífica e democrática”.