O Grande Debate: Se Mandetta sair, acaba o isolamento social?

Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla discutem técnicas de isolamento e o novo remédio anunciado por Marcos Pontes que pode ajudar no combate à COVID-19

O Grande Debate da noite desta terça-feira (14) abordou dois temas. Primeiro, Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho discutiram qual a estratégia que o governo deve seguir para o enfrentamento do coronavírus se Luiz Henrique Mandetta for demitido. Depois, comentaram o anúncio do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, de que o Centro Nacional de Pesquisa descobriu um medicamento promissor no tratamento da doença.

Caio iniciou sua argumentação citando medidas de afrouxamento do isolamento em países da Europa, como Alemanha, Itália e Espanha. “A Alemanha registrou o recorde de mortes em um dia e está liberando a abertura de lojas com mais de 800 metros quadrados e irá retomar as aulas no dia 4 de maio. A Itália, um dos mais afetados pela doença, já autorizou a reabertura de lojas mediante a disponibilização de álcool em gel e que os clientes usem máscaras e luvas. Em Madrid alguns trabalhadores de serviços não essenciais voltaram a trabalhar, com a polícia mantendo rígido controle nas estações de trens e metrô. Esses países já entenderam que a recessão pode ser mais mortal que a pandemia, e nosso presidente defende exatamente isso”, disse.

Augusto afirmou que os países citados saíram de um ‘lockdown’, situação de isolamento extremo, ou seja, “estão descendo um degrau que não subimos no Brasil”. Ele ainda citou quatro pré-requisitos estabelecidos pela União Europeia para que países voltem a reabrir estabelecimentos. “O governo deve estar seguro de que casos estão diminuindo, devem ter leitos de UTI disponíveis, fazer testes em massa e ter desenvolvido capacidade de monitorar população doente, algo que o presidente já disse ser contra. Estamos longe de atender estes critérios”, disse.

Caio então citou as condições do Brasil diferentes das da Europa, especialmente o clima. “Essas nações são desenvolvidas e foram vitimadas em grau maior que o Brasil, onde nosso clima é aliado, já que o coronavírus performa mal em temperaturas mais altas. Sobre a questão do isolamento, o que importa é o ponto de chegada, não o de partida, é preciso sempre escutar mais de uma corrente científica”, disse.

Augusto então citou artigo do médico David Katz no “New York Times”, usado por defensores do isolamento vertical, mas que, segundo ele, é mal interpretado. “Ele deu uma entrevista onde explica o isolamento vertical, dizendo que antes de aplicar a  técnica, é preciso um isolamento horizontal. Além disso, Katz há anos dedica seu trabalho a escrever livros de dieta, e não representa uma corrente importante na comunidade médica, então prefiro continuar com a imensa maioria da comunidade”, afirmou.

Caio então questionou a fala, e se perguntou se os países que estão reabrindo os comércios estão escutando fontes erradas, ao que Augusto respondeu citando os parâmetros estabelecidos pela União Europeia.

Caio usou as características diferenciadas do Brasil, como clima e faixa etária da população, para justificar a visão de que a doença pode reagir de maneira diferente no país, e questionou as fontes. “O que parece é que escutamos fontes apenas para viés de confirmação. A questão é que combater uma pandemia é questão multidisciplinar, tem muito mais coisa em jogo do que uma visão cautelosa da infectologia. Enquanto a Alemanha bate recordes de mortes, reabrem comércios porque sabem dos efeitos do isolamento. A queda de arrecadação tributária também impede que o governo invista na saúde”, afirmou.

“Concordo com o Caio de que não podemos seguir narrativas majoritárias, correntes únicas devem ser motivo de atenção, mas no meio de uma pandemia não é hora de se filiar a uma corrente minoritária. Nesse momento eu quero ser conservador e me filiar a especialistas da área”, respondeu Augusto, que reiterou sua vontade de ver a reabertura, mas que isso deve ser feito de maneira segura.

O remédio anunciado por Marcos Pontes

O segundo tema do debate foi o anúncio pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, de que o Centro Nacional de Pesquisa descobriu um medicamento que pode ajudar no combate ao coronavírus.

Caio disse ser um “absurdo questionar o mérito do comunicado”, e brincou que no Brasil só valem notícias catastróficas sobre a pandemia. Acrescentou que para que a mensagem do ministro seja interpretada como deveria, teria que ser divulgada via WhatsApp.

Já Augusto disse que a notícia é ótima. “Se isso der certo, será uma vitória da ciência brasileira”, disse. Mas fez uma ressalva. “A pesquisa divulgada está sendo feita In Vitro, que muitas vezes mostra um resultado positivo que não se confirma quando testado em ratos e humanos. Especialistas dizem ser perigoso divulgar esta fase da pesquisa”, disse.

Argumento finais

Em sua fala final, Augusto disse que há necessidade de se amparar na ciência, e reafirmou sua vontade de que o isolamento terminasse. “Não é momento de achismo nem para se filiar a correntes minoritárias da ciência. O momento é de prudência e de escutar autoridades médicas. Para retomar a vida normal, precisamos atingir critérios”, afirmou.

Já Caio questionou o uso de métodos usados na Europa no Brasil, e disse que o problema do Brasil está na falta de gestão. “Nossas autoridades tiveram duas semanas de aviso e estamos há um mês quarentenados. Talvez o grande problema não seja a pandemia do vírus, mas sim a pandemia na má gestão”, disse.

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