Pandemia reforçou papel da ciência e da proteção social, avaliam especialistas
A ideia do debate surgiu a partir do lançamento do e-book "Legado de uma Pandemia", organizado pela professora do Insper Laura Muller Machado


Um ano depois do primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil, um e-book publicado pelo Insper propõe a reflexão sobre as lições aprendidas pela sociedade brasileira e pelo setor público diante da pandemia.
As descobertas do livro Legado de uma Pandemia, que ressalta o aumento da compreensão sobre o papel da ciência e a importância de endereçar questões relacionadas aos mais vulneráveis, foram tema de debate mediado pelo âncora da CNN William Waack.
Participaram da conversa a organizadora da obra, a economista e professora do Insper Laura Muller Machado; Carlos Melo, cientista político e também docente da instituição; e o presidente do Insper Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Para Laura Muller Machado, o resultado de um ano de pandemia é um Brasil mais próximo da ciência, com a sociedade entendendo melhor as suas potencialidades e as suas limitações.
“Todo o debate sobre as máscaras, se a gente deveria usar as máscaras no começo, o tanto que precisamos lavar as mãos e etc… isso foi evoluindo, e eu acho que a sociedade foi aprendendo que a ciência evolui. A ciência sabe de muitas coisas, mas tem muitas coisas que ele também não sabe. É muito saudável a gente ter clareza sobre o que a gente sabe e o que a gente não sabe”, disse.
A economista afirma que o advento do auxílio emergencial permitiu ao governo, além de socorrer a população durante o período de calamidade, mapear os informais e assim poder fazer políticas públicas melhor direcionadas para essas pessoas.
Marcos Lisboa afirma que a pandemia nos mostrou a importância da ciência e como a falta do pensamento científico leva a decisões equivocadas que destroem vidas. O economista, no entanto, ressaltou que as decisões técnicas são subordinadas à política, encarregada de fazer as grandes escolhas da sociedade.
Ainda de acordo com Lisboa, a pandemia mostrou como o Brasil é um país corroído por grupos de interesse e que a saída para a crise está em “uma agenda republicana”, que priorize a proteção social dos grupos mais vulneráveis.
“Uma lição da pandemia é a importância de uma agenda republicana, de começar a tratar os iguais como iguais, concentrar os esforços dos estados nos grupos vulneráveis e não ficar com um discurso fiscal ou social polarizado que no fim do dia acaba sendo um grande cortina de fumaça para as velhas corporações terem aumento permanente de recursos públicos”, avaliou.
Carlos Melo afirma que o mal estar que atinge a sociedade já vigorava mesmo antes da pandemia, com diversos problemas que já estavam colocados. A pandemia, argumenta o cientista político, teve um papel catalisador e acelerou a percepção coletiva para esses problemas.
Melo disse, ainda, que ficou claro que o que vinha sendo feito por gestores públicos não dava certo.
“O recurso à demagogia, ao populismo, que vinha transcorrendo pelo menos na segunda metade da década para cá se mostrou ineficaz. O demagogo não dá conta, não consegue resolver. Não consegue resolver, primeiro, porque não tem um bom diagnóstico e não consegue enxergar saídas, uma vez que seu escopo é unicamente demagógico e populista”, afirmou.
A publicação é divida em quatro partes: a ordem social, a ordem econômica, a organização do Estado e a política e a comunicação. Todos os 17 capítulos buscam responder o que mudou com a pandemia e quais são os aprendizados para a política pública.