Pará prevê 8,6 mil mortos por Covid-19 e pede socorro ao Banco Mundial
Documento obtido pela CNN mostra que governo solicitou empréstimo de cerca de R$ 300 milhões


O governo do Pará prevê que 8,6 mil pessoas vão morrer pelo novo coronavírus no estado, com falta de leitos e atendimento aos doentes. Por este motivo, recorreu ao Banco Mundial, uma instituição financeira internacional, para pedir um empréstimo de US$ 55 milhões (R$ 301 milhões). É o que aponta um documento obtido pela CNN, que está em análise no Ministério da Economia. Nesta segunda-feira (25), a capital Belém e mais nove cidades paraenses encerraram o lockdown, um protocolo de isolamento total para tentar conter o avanço da Covid-19.
Com 8,6 milhões de habitantes, segundo estimativa populacional do IBGE de 2019, o estado tem 15,2 mil leitos hospitalares, sendo 10,7 mil deles do Sistema Único de Saúde (SUS) e 4,4 mil privados. Há, atualmente, segundo o relatório produzido pelo governo, um déficit de 2.309 leitos. “Conforme essa projeção, o estado deverá ficar sem UTIs COVID-19 no auge da demanda, que deverá acontecer no próximo mês de maio de 2020, e serão necessárias 1.294 novas UTIs. Esta demanda corresponde a 16,01 vezes o número de leitos de UTI dedicados ao COVID-19 e 2,22 vezes o número total de UTIs instaladas em todo o estado”.
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Um médico que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de dois hospitais públicos e um privado, no Pará, e pediu para ter a sua imagem preservada, revela que a falta de leitos tanto de enfermaria, quanto de UTI, já era vista desde antes do surto do novo coronavírus. “Durante a pandemia, a oferta de leitos com certeza não foi adequada para o número de pacientes e isso fez com que os pacientes já chegassem ao CTI gravíssimos, sem muitas possibilidades e sem muitas chances. Essa demora do paciente chegar com maior viabilidade ao CTI é que atrapalha o prognóstico desse paciente no decorrer da internação”.
O governo afirma na carta que o estado sofre com extrema pobreza e a vulnerabilidade de sua população, que inclui além da urbana, indígenas, quilombolas e ribeirinhos. “As especificidades do estado do Pará, como as grandes distâncias, difíceis acessos e baixas densidades populacionais, refletem negativamente nas ações de saúde do estado, aumentando a necessidade de intervenções regionais”, diz o documento. Até a noite de ontem (24), a Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), registrou 24.815 casos confirmados e 2.290 mortes.
Com os recursos, o estado pretende melhorar os leitos clínicos para assistência à doença, ampliar o número de leitos de UTI e clínicos, desenvolver e implementar núcleos internos de regulação em 49 hospitais para aumentar a eficiência dessas unidades, fortalecer a vigilância em saúde no estado, com ações de bloqueio, diagnóstico e tratamento da doença e reduzir a transmissão do agente da Covid-19, segundo a carta.
Ainda de acordo com o documento, não há previsão de contratação de pessoal ou concurso público pela Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), cuja responsabilidade do efetivo a ser utilizado na implantação do projeto caberá a organização social que fará a gestão e fornecimento de insumos dos quatro hospitais de campanha, contratada através de processo licitatório.
Procurado pela reportagem, o governo do estado do Pará informa que o Banco Mundial ofereceu uma linha de crédito ao estado para ações de combate à pandemia e que este recurso permite o reembolso de uma parte das despesas realizadas com recursos próprios, gastos que não estavam previstos no orçamento inicial de 2020.
Dizem ainda que o restante do recurso pleiteado será para a implantação de um observatório estadual que irá permitir o monitoramento, mapeamento e análise do comportamento da Covid no Estado de forma automatizada. Depois da pandemia, o sistema de informações poderá ser utilizado para controle de outras doenças, aumentando a eficiência dos serviços de saúde do estado.