Rodas de samba retornam ao Rio de Janeiro após meses de proibição

Imagens obtidas pela CNN mostram espaços lotados e frequentadores sem máscara; especialistas criticam a flexibilização

Músicos, sambistas e produtores culturais comemoram a liberação das rodas de samba, autorizada por um decreto do prefeito Eduardo Paes (PSD), após meses de proibição. A medida fazia parte das restrições contra o novo coronavírus. Entre a sexta-feira (28), primeiro dia da liberação, e sábado (29), diversas rodas de samba foram registradas na capital. 

A CNN recebeu vídeos dos eventos espalhados pela cidade. Como era de se imaginar, o público estava feliz e comemorava muito o retorno, mas, nas imagens, alguns protocolos sanitários não foram respeitados. Muitos estavam sem máscara e o distanciamento, recomendado pelas autoridades de saúde, também não aconteceu.

O pesquisador da Fiocruz Diego Xavier é um dos que demonstraram preocupação com a flexibilização das rodas de samba. “Se sabemos que o não uso de máscara faz com que a doença se espalhe, dificilmente em uma roda de samba as pessoas vão cantar usando máscara. Apesar de normalmente as rodas de samba serem em locais abertos, há aglomeração, as pessoas dificilmente usarão máscara o tempo todo. A cidade ainda está em situação de extremo risco. Não há situação de folga suficiente que justifique a retomada dessas atividades”, apontou.

Infectologista da Academia de Medicina, Celso Ramos enxerga a autorização como uma medida política. “O vírus é transmitido por via aérea e quando você canta, grita, fala alto, além de eliminar pequenas gotículas, você também elimina gotículas de aerossol, que permanecem no ar por mais tempo e podem ser transmitidas por uma distância maior. Quando você faz uma roda de samba, espera-se que as pessoas cantem, bebam, falem alto. Então eu não consigo entender a medida. Não enxergo nenhuma razão técnica para essa liberação. Apenas razão política, talvez.”  

   

Roda de samba no Rio
Foto: Imagens cedidas à CNN

 
          
A CNN conversou com Iverson Mendes, presidente da Batucada-RJ, a Associação das Rodas de Samba, Pagode, Choro, Expressões Culturais Afro Tradicionais do Estado do Rio de Janeiro, criada no último dia 6 de março para ajudar profissionais que passam dificuldades financeiras. O músico relatou que são tempos difíceis, de prejuízos incalculáveis e, por isso, nasceu a associação, para ajudar essa parcela da classe artística a se reerguer.

A Batucada também tem o propósito de debater junto às esferas municipal, estadual e federal a inserção deste tipo de manifestação cultural na agenda das políticas públicas do Rio. Mendes defende a criação de um calendário estadual da manifestação artística. “As rodas de samba, pagode, fazem parte do turismo também. Turistas do Brasil e do mundo estão aqui para apreciar e conhecer. Só na capital são pelo menos 400 rodas de samba, isso sem contar o estado todo”, disse.     

Na cidade do Rio de Janeiro, um calendário chegou a ser implantado em outubro de 2019, com mais de 250 grupos envolvidos, responsáveis por mais mil apresentações por ano e o envolvimento de 4 mil músicos. Porém, a chegada da pandemia provocou a interrupção.

A Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) vê com otimismo o retorno das rodas de samba e também das feijoadas nas quadras das agremiações. Mas ressalta a importância do respeito aos protocolos sanitários, com uso obrigatório de máscara, sem aglomerações e a oferta de álcool em gel em eventos.

“É um prenúncio de que as atividades das escolas de samba vão começar a movimentar os seus componentes e o público. E, se Deus quiser, juntos, progressivamente e com muita responsabilidade, conseguiremos organizar o Carnaval que estamos sonhando há mais de um ano”, disse o presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro.

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