‘Absolutamente equivocadas’, diz ex-corregedor do MPF sobre acusações de Eitel
Hindemburgo Chateubriand é o idealizador do projeto da Unac, a unidade que concentraria todas as forças-tarefas do MPF


Em ofício encaminhado ao procurador-geral da República nesta quarta-feira (8), o subprocurador-geral Hindemburgo Chateubriand rebateu as acusações do secretário-geral do MPF, Eitel Santiago, sobre supostas irregularidades cometidas por procuradores da força-tarefa da Lava Jato. “Afirmações que considero absolutamente equivocadas”, diz trecho do ofício, que a CNN teve acesso.
À CNN, Santiago disse haver ilegalidades em prisões preventivas da operação e nos acordos de delação premiada.
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Hindemburgo foi corregedor da instituição entre 2013 e 2017 e é o idealizador do projeto da Unac, a unidade que concentraria todas as forças-tarefas do MPF. “Jamais identifiquei nenhuma das supostas irregularidades a que se refere o Sr. Secretário-Geral”, escreveu ele a Augusto Aras. Atualmente, o subprocurador-geral é secretário de cooperação internacional, cargo vinculado ao gabinete de Aras.
O subprocurador-geral fez questão de se desvincular de Eitel Santiago, escolhido por Aras para coordenar atividades administrativas do Ministério Público da União. “Entendo que a iniciativa, além de imprópria a ocupante de cargo da alta administração da Casa, poderia sugerir a anuência dos demais participantes da atual gestão, o que não ocorre”, escreveu.
Além de Chateaubriand, outra manifestação de repúdio a Eitel Santiago também foi remetida nesta quinta-feira ao procurador-geral da República. Em memorando enviado a Aras, o subprocurador-geral da República José Elares Marques Teixeira, que é membro do Conselho Superior do Ministério Público, indica “profunda preocupação com o futuro próximo” da instituição caso Eitel Santiago siga como secretário-geral do Ministério Público da União.
A manifestação de Teixeira soma-se à solicitação feita por outros quatro integrantes do Conselho Superior do MPF que, como revelou a apresentadora Daniela Lima, solicitaram a Aras na terça-feira, 7, que “avalie a oportunidade e conveniência na manutenção” de Eitel Santiago no cargo.
Segundo Teixeira, o envio do memorando foi motivado pelo “clima de desconfiança e desconforto gerado tanto interna como externamente” pela entrevista concedida por Santiago à CNN. Ao apresentado Caio Junqueira, o secretário-geral, que é braço-direito de Aras, afirmou que “Deus foi o responsável pela presença de Bolsonaro no poder”, que a Lava Jato cometeu ilegalidades, que integrantes do MP “cegos pela vaidade” ou “contentes porque os últimos PGRs atendiam interesses corporativos” não responderam a alertas sobre irregularidades. Santiago afirmou ainda que Rodrigo Janot e Raquel Dodge “tiveram fraco desempenho administrativo”por “acomodação ou desleixo”.
De acordo com Teixeira, com suas declarações, Eitel Santiago externou “sérias dúvidas sobre a licitude do trabalho árduo e devotado de inúmeros Procuradores da República, que ao longo desses últimos anos têm se dedicado à tarefa de combate à corrupção”.
“Essa entrevista repercutiu de forma extremamente negativa no seio da nossa Instituição, não só pelo seu conteúdo, mas também porque não compete ao Secretário-Geral fazer avaliações sobre o exercício da atividade-fim por Procuradores da república, uma vez que as atribuições do cargo são essencialmente administrativas”, diz trecho do memorando assinado por Teixeira.