Bolsonaro ataca imprensa após notícia de apoio a protestos


Um dia depois da veiculação da notícia de que compartilhou, por seu WhatsApp pessoal, um vídeo convocando manifestações de rua em sua defesa, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou trechos da Bíblia para acusar a imprensa de “mentir, deturpar, caluniar e atentar contra o Brasil” na noite desta quarta-feira (26).
O vídeo em questão fala em “tomar de volta do Brasil” e pede apoio a Bolsonaro em atos marcados para o dia 15, sem citar diretamente seus opositores. No entanto, a data coincide com protestos já agendados por apoiadores do presidente contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Parlamentares, governadores e magistrados criticaram a postura do presidente.
Na postagem feita no Twitter, o presidente cita trecho do livro de Jeremais que diz: “E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti, porque eu sou contigo, para te livrar, diz o Senhor”.
Mais cedo, Bolsonaro não negou ter compartilhado o vídeo pelo Whatsapp convocando os protestos e se justificou afirmando que, no aplicativo, amigos trocam mensagens de “cunho pessoal”.
“Tenho 35 milhões de seguidores em minhas mídias sociais, com notícias não divulgadas por parte da imprensa tradicional. No Whatsapp, algumas dezenas de amigos onde trocamos mensagens de cunho pessoal. Qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”, declarou no Twitter.
A crise de Bolsonaro com o Congresso se acentuou em 2020 com a disputa entre o Legislativo e o Executivo por verbas do Orçamento da União. Em live transmitida nas redes sociais do presidente na última semana, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, disse, em áudio vazado enquanto Bolsonaro estava em cena, que não se podia aceitar “esses caras chantageando a gente”.
O mundo político reagiu com diversas críticas ao presidente pelo caso. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, declarou que “criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir”. Nas redes sociais, o parlamentar afirmou que autoridades devem “dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem constitucional”.
Governador do Rio de Janeiro e adversário político de Bolsonaro, Wilson Witzel (PSC) foi outra autoridade a comentar o caso. “Bloquear o diálogo com o Congresso é inviabilizar projetos para o bem comum e retardar o progresso do Brasil”, escreveu em seu Twitter.
Também crítico de Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se solidarizou a Vera Magalhães, jornalista de O Estado de S. Paulo que foi a primeira a divulgar o caso. Magalhães sofreu ataques de apoiadores do presidente nas redes sociais nas últimas horas.
“Intimidar jornalistas e perseguir seus profissionais é próprio de regimes autoritários, que não suportam o contraditório. Solidarizo-me com a jornalista Vera Magalhães, reconhecida pela excelência e rigor de seu trabalho. Imprensa livre é um dos pilares da democracia”, escreveu Doria no Twitter.