‘Bolsonaro tardou em buscar maioria estável’, diz cientista político

Com relação ao aumento da popularidade do presidente, Carlos Melo disse não saber se é sustentável

O presidente Jair Bolsonaro tem enfrentado dificuldades com o Congresso Nacional, que ameaça derrubar alguns de seus vetos – e alguns deles têm impacto fiscal bastante relevante. 

O cientista político e professor do Insper Carlos Melo disse em entrevista à CNN que não é comum presidentes da República enfrentarem este tipo de dificuldade, pois, segundo ele, os chefes do Executivo “acautelam-se” já antes de tomar posse.

“O presidente da República, por uma visão muito peculiar a respeito da política, não construiu uma maioria estável em torno de um programa. Ele tardou em fazer isso”, falou.

Agora, porém, Bolsonaro dá sinais de mudanças. Ele escolheu, inclusive, um novo líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), representante do Centrão

Na avaliação de Melo, a mudança pode até funcionar, mas só se o presidente não achar que é o suficiente. 

“O esforço de montar maioria é permanente, sobretudo nas condições do presidencialismo de coalisão do Brasil, onde o presidente da República sempre terá uma maioria instável porque seu partido será sempre minoritário no Congresso Nacional”, argumentou.

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Carlos Melo
Carlos Melo, cientista político e professor do Insper
Foto: CNN (18.ago.2020)

O cientista político avalia também que, quando falta perspectiva de futuro ou a única questão é eleitoral ou fisiológica, as contas sempre ficam mais caras.

“Porque o fisiologismo é voraz. Ele nunca se satisfaz com o que tem, sempre quer mais”, disse ele.

“É necessário, ao invés ficar discutindo no varejo, fazer uma negociação no atacado, ter projetos, perspectiva de futuro e assim fechar uma aliança consistente”.

Sobre o crescimento da aprovação de Jair Bolsonaro – 37% dos brasileiros consideram o governo ótimo ou bom, segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha – em meio à pandemia do novo coronavírus, professor disse não saber se é sustentável. 

Isso porque, segundo ele, a alta na popularidade depende de recursos públicos, que no Brasil, neste momento de crise, “são pequenos”.

“O governo continuará a ter esses recursos no ano que vem, por exemplo?”, questionou.

“Os parlamentares sabem que isso é muito difícil. Logo, sabendo dessa fragilidade, eles tendem a não colocar muita fé nessa popularidade, não”, finalizou Melo.

(Edição: Sinara Peixoto)

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