Câmara retoma debate sobre CPI da Lava Jato
Ideia ganhou força após críticas do procurador-geral da República, Augusto Aras, à operação


A Câmara dos Deputados voltou a debater nos bastidores a instalação de uma CPI para apurar a Operação Lava Jato. A ideia ganhou força nesta quarta-feira depois das declarações do procurador-geral da República, Augusto Aras, em uma live com advogados na noite desta terça-feira. Nela, ele teceu críticas duras à operação e principalmente à força-tarefa de Curitiba.
Desde então, lideranças passaram a procurar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que alguma providência fosse tomada. A ideia em curso é aproveitar um pedido que já foi protocolado pelo PT em 2019 e cujas assinaturas já foram inclusive validadas pela Mesa da Câmara. Falta apenas a leitura por Maia para que ela seja instalada de fato. Maia só avisou a aliados que faz a leitura, desde que haja uma ampla e representativa maioria a favor da comissão.
A avaliação geral é a de que o cenário que impediu sua instalação em 2019 mudou em 2020. Naquela ocasião, a oposição, liderada pelo PT, era o principal grupo empenhando na CPI. O objetivo principal era limpar a biografia do ex-presidente Lula, condenado e preso pela operação.
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Agora, porém, outros atores se juntaram aos petistas. O PSDB assiste à operação finalmente chegar ao seu partido. Tucanos de peso foram alvos recentes dela. Geraldo Alckmin foi denunciado e Jose Serra alvo de busca e apreensão. Aliados do presidente Jair Bolsonaro a apoiam nos bastidores, tendo em vista o fato de o ex-ministro Sergio Moro, juiz símbolo da operação, ter deixado o governo acusando o presidente de diversos crimes que viraram uma investigação formal contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal.
O Centrão, tendo o PP à frente, é alvo ainda de investigações no STF que podem melar seu projeto de comandar a Câmara em 2021. E Rodrigo Maia, com a eventual abertura de uma CPI, consegue ampliar seu apoio dentro da casa e se manter como um dos principais influenciadores na sua própria sucessão em fevereiro de 2021.
De quebra, há apoio ainda nas cortes superiores para que a Lava Jato seja investigada. A suspeita é a de que além dos 350 terabytes e mais de 50 mil documentos que Aras menciona, haja juízes e ministros das cortes no rol de 38 mil pessoas do banco de dados que ele acusa Curitiba de ter.
Além disso, a suspeita é de que possa haver inclusive o que vem sendo chamado de “deep web” do MPF: um sistema paralelo para abastecer esse banco de dados oficiais. Não foi á toa que o presidente do STF, Dias Toffoli, concedeu uma liminar durante o recesso determinando que as forças-tarefa encaminhem os dados para a Procuradoria-Geral da República.