Participação de jovens nas eleições deste ano será menor
Em 2020, adolescentes com 17 anos aptos a votar compõem 50% a menos do eleitorado do que o registrado nas eleições de 2016
Neste ano, a estudante Rayane Alves, de 16 anos, votará pela primeira vez. Contestadora dentro da sala de aula, segundo ela própria, Rayane sempre se interessou por política e, assim que atingiu a idade mínima para votar, solicitou o título de eleitor.
“Eu só vejo homens brancos no poder e não me sinto representada na política”, ela diz, “por isso decidi votar esse ano, principalmente em mulheres negras, com quem mais me identifico”.
Porém, dentre seus colegas, ela é exceção, já que a maioria dos jovens que conhece não se interessa por política. Para ela, é um desinteresse geracional que cresce cada vez mais.
“Os pais passam essa decepção política para os filhos e as coisas não avançam, por isso é importante votar, mesmo que não seja obrigatório para nós.”
Menos votos
Quando comparados os anos eleitorais de 2016 e 2020, é clara a diminuição de jovens aptos a votar: este ano, caiu pela metade o número de eleitores com 17 anos.
Em 2016, mais de 1 milhão e 170 mil adolescentes podiam votar, o que correspondeu a 1,03% do eleitorado. Em 2020, são pouco mais de 790 mil, o que corresponderá a 0,53% do eleitorado.
Essa tendência de diminuição se repete nas idades de 16 e de 18 anos.
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Para Rodrigo Prando, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a pandemia do novo coronavírus influencia nessa diminuição de votos, já que os jovens não querem ir aos locais de votação por medo de exposição à doença.
Porém, é a falta de representatividade na política e a corrupção sistêmica do setor que afasta, de fato, os jovens.
“Por conta de grandes escândalos noticiados pela mídia nos últimos anos, como a Operação Lava-Jato, por exemplo, muitos jovens acreditam que nenhum político é correto”, diz ele, “sendo assim preferem não votar, inclusive, por não se identificarem com ninguém que ocupa as posições de poder”.
Mesmo assim, Rayane segue tentando convencer seus colegas a votarem nas eleições deste ano. “A gente precisa fazer nossa voz ser ouvida, sempre pergunto para meus amigos: ‘Por que você não vai votar?’, assim, tento conversar e mostrar minha perspectiva como eleitora”, diz a estudante.
O voto no Brasil é facultativo para jovens de 16 a 18 anos e para idosos acima dos 70 anos, porém, quem completa 16 anos na data da eleição pode tirar o título de eleitor até 150 dias antes do primeiro turno.
Essa regra surgiu em 1994, quando a estudante capixaba Renata Cristina Rabelo, então com 15 anos de idade, solicitou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revisse seu entendimento sobre o tema para que fosse concedido o título eleitoral aos jovens nessa faixa etária. A regra, portanto, perdura até hoje.
