PT quer unir esquerda em terceira via para disputa em SP, diz Haddad à CNN
Ex-prefeito de São Paulo e candidato à Presidência em 2018 avaliou encontro como um 'gesto de civilidade' o encontro entre os ex-presidentes Lula e FHC


Em entrevista exclusiva à CNN nesta sexta-feira (21), o ex-prefeito de São Paulo e ex-presidenciável Fernando Haddad afirmou que o PT articula uma “terceira via” na disputa eleitoral paulista de 2022, parte das conversas por uma aliança nacional com partidos à esquerda do tabuleiro político.
Haddad também classificou como um “gesto de civilidade” a reunião entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“Aqui temos Bolsonaro e Doria, e entendo que possa haver uma alternativa para os partidos. Vamos nos juntar com PSB, PSOL e criar uma terceira via no estado que, há muito tempo, precisa de renovação”, falou.
Questionado se o PT estaria disposto a abrir mão de uma candidatura no maior estado do país, o ex-prefeito disse que será necessária uma “análise do tabuleiro como um todo”. “Entendo que o PT vai colocar em primeiro lugar um projeto de derrotar esse governo que está trazendo tantos malefícios para o país”, falou.
Os dois partidos citados por Haddad possuem nomes que já manifestaram intenção de participar da disputa. No caso do PSB, o ex-governador Márcio França, segundo colocado do pleito de 2018. Já no PSOL, Guilherme Boulos, que foi ao segundo turno na corrida para a prefeitura da capital no ano passado.
“Mas o que quero dizer é que não podemos perder a oportunidade em São Paulo de reunir pela primeira vez um amplo leque do campo progressista para oferecer uma alternativa para o estado que, há 40 ou 28 anos, dependendo da contagem, é governado pelo mesmo grupo político”.
Haddad não confirmou se lançará uma candidatura. Segundo ele, o partido fez um “pacto de não colocar nomes em discussão em 2021”.
“Até o Lula relutou muito, só essa semana disse que vai enfrentar Bolsonaro em 2022. Fizemos um pacto de dar prioridade à eleição nacional”, declarou. “Vamos ver como as peças se mexem nos estados, há muitas negociações em curso em vários deles”.
Ele falou que o nome dele surge por razões óbvias, por ter concorrido à Presidência. “Meu compromisso hoje é sentar à mesa com quem quer apresentar uma terceira via em São Paulo, nem Doria, nem Bolsonaro. Temos uma possibilidade de renovação em São Paulo”.
Freixo no Rio de Janeiro
Haddad disse ainda que participou de uma conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), com o parlamentar podendo ser o candidato desse grupo para o governo do Rio de Janeiro. Questionado sobre uma possível filiação de Freixo ao PT, Haddad apenas afirmou que o deputado foi convidado por três partidos.
“Freixo está no PSOL hoje e fazendo uma reflexão das propostas que recebeu, recebeu convite de três partidos, para ver se permanece ou não no PSOL, mas com vista de oferecer ao Rio uma alternativa também”, disse. “[Freixo] pode representar uma novidade importante no Rio de Janeiro”
Lula e FHC
O ex-prefeito Fernando Haddad classificou como um “gesto de civilidade” o encontro entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, fato político que repercute entre lideranças e partidos nesta sexta-feira (21)
“Temos que voltar aos tempos de democracia, em que se tem clareza de que o campeonato tem que ser disputado com juízes imparciais, num campo neutro e quem dá a última palavra é o voto do eleitor, só isso que queremos”, declarou. “Saúdo o encontro como um gesto de civilidade num momento que o Brasil precisa tanto de boas práticas democráticas”.

FHC disse que apoiaria Lula num eventual segundo turno entre o petista e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas próximas eleições federais.
“O Lula, em retribuição ao gesto do FHC, disse publicamente que, caso o PT não esteja no segundo turno, apoiaria o candidato de oposição”, falou Haddad, relembrando ocasiões em que o partido dele e o PSDB caminharam juntos.
Último candidato do PT à Presidência, Haddad citou as eleições para o governo de São Paulo em 1998 e para a prefeitura da capital em 2000. Na primeira disputa, o PT apoiou a reeleição de Mário Covas (PSDB) no segundo turno; dois anos depois, Marta Suplicy (então no PT, hoje sem partido) venceu a Prefeitura com o apoio do PSDB também na segunda etapa.
Em ambos os momentos, PT e PSDB se uniram contra um mesmo adversário, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP). “Esse tipo de gesto é comum na política, mesmo na história do PT e do PSDB”, declarou.