Sobrevivente da Covid-19 nos EUA pode ter tido a doença duas vezes
Nem ele nem seu médico têm certeza se o vírus nunca foi totalmente derrotado ou se ele foi infectado novamente, depois de testar positivo por mais de uma vez


A Covid-19 atingiu Jordan Josey pela primeira vez por volta do dia 17 de março, exatamente quando as diretrizes de distanciamento social estavam sendo implementadas nos Estados Unidos.
O advogado de 29 anos de Macon, na Geórgia, ficou doente durante a Páscoa – e se livrou do novo coronavírus, desenvolvendo anticorpos e aumentando gradualmente sua resistência no início de maio.
Ele doou plasma convalescente em 18 de maio e recebeu uma carta duas semanas depois, confirmando que era positivo para anticorpos contra a Covid-19. Um teste RT-PCR (feito a partir da coleta de material da garganta e do nariz) nessa época deu negativo para o coronavírus.
A vida parecia estar voltando ao normal. O advogado começou a correr novamente e, no final de junho, se sentiu confiante o suficiente para visitar a família na Carolina do Sul. Jogou tênis e navegou com familiares em um barco num lago.
Mas então, inexplicavelmente, Jordan Josey voltou a ter sintomas da Covid-19 pouco antes do feriado de 4 de julho.
Ele testou positivo novamente.
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A segunda rodada da doença, deixou Josey quase totalmente inativo por quatro semanas.
Nem ele nem seu médico têm certeza se o vírus nunca foi totalmente derrotado ou se ele foi infectado novamente, talvez durante a viagem de fim de semana para ver os pais.
O médico não quis dar entrevista para esta reportagem, alegando preocupações com a privacidade do paciente.
Seja qual for a causa subjacente, a Covid-19 abalou o mundo do advogado novamente. Mais uma vez, a doença roubou sua resistência pulmonar.
Só que, na segunda rodada, a doença apresentou sintomas diferentes de seu primeiro caso. A fadiga foi tão severa que seus médicos o testaram para mononucleose. Ele perdeu o apetite e emagreceu.
“Eu não conseguia subir um lance de escadas ou dar uma caminhada no meu bairro”, contou.
Josey passou seis semanas em quarentena de isolamento total, com medo de transmitir o vírus a outras pessoas. Felizmente, nenhuma das cerca de 20 pessoas a quem ele foi exposto no final de junho deu positivo.
“Eu brinquei (com os médicos) quando testei positivo na segunda vez. Eu falei: ‘Vocês querem fazer um estudo de caso sobre mim agora?’ E eles disseram: ‘Provavelmente’”.

Josey continuou trabalhando com advogado, mas apenas porque conseguiu cumprir suas obrigações sem sair da cama, usando o notebook.
No entanto, ele se preocupou com as condições de trabalho de garçons ou jardineiros, imaginando como poderiam se virar em situações semelhantes, trabalhando em pé o dia todo sem acesso a proteções trabalhistas de curto prazo para licença médica.
“Eu teria perdido meu emprego”, contou.
Mas seu próprio caso ficou mais complicado. Ele testou positivo para anticorpos antinucleares, um marcador frequentemente associado ao lúpus. Seus gânglios linfáticos incharam visivelmente em volta do pescoço.
Uma tomografia dos pulmões não mostrou nenhuma cicatriz, mas ele ainda estava tendo problemas para respirar fundo.
“Em julho, eu ficava exausto só de falar. Não teria conseguido sobreviver durante toda essa conversa por telefone”, contou na entrevista. “Ainda estou tomando inaladores de corticoides para ajudar a controlar a falta de ar”.
Seus vários tratamentos, acessórios e medicamentos, incluindo nebulizadores, inaladores, remédios respiratórios e um espirômetro, continuam se multiplicando.
“Eu falei à minha esposa para criar uma caixa que seja como o ‘kit de tratamento Covid’, ou algo assim. Não vamos nos livrar das coisas, porque posso precisar usá-las novamente pela terceira vez”.
Ainda há pesquisas em andamento sobre possíveis reinfecções da Covid-19.
As febres, falta de ar e dores do aparente segundo caso de infecção de Josey foram semelhantes aos sintomas que ele teve ao testar positivo pela primeira vez.
Casos como o dele são raros.
“As pessoas estão começando a questionar se de fato a reinfecção ocorre não muito tempo após a infecção”, relatou a médica Susan Kline, professora na divisão de doenças infecciosas na Faculdade de Medicina da Universidade de Minnesota. “Esses casos reportados nos questionam a respeito de quantos outros aconteceram.”
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Pode ser comum que algumas famílias de vírus fiquem latentes e depois sejam reativadas. Por exemplo, o vírus varicela-zóster pode causar catapora em crianças, ficar dormente e depois reativar como herpes zóster, causando erupções cutâneas dolorosas em adultos.
No entanto, os coronavírus anteriores, como SARS, MERS e resfriados sazonais, tendem a não fazer isso. Segundo a professora Kline, parecia improvável que o SARS-CoV-2, o novo coronavírus, fosse reativado em pessoas anteriormente doentes, embora a ciência ainda não tenha certezas sobre isso.
“Não acho que tenhamos boas evidências de reinfecção, mas não podemos descartar essa possibilidade”, afirmou.
Os anticorpos podem não durar muito.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) emitiram em agosto uma nova orientação, explicando que aqueles com teste positivo para coronavírus não precisam ser colocados em quarentena ou fazer novos testes por até três meses, se não apresentarem sintomas novamente. Em muitos casos, não está claro se alguém realmente obteve Covid-19 duas vezes.
As recomendações são “baseadas na ciência mais recente sobre a Covid-19, mostrando que as pessoas podem continuar com o teste positivo por até três meses após o diagnóstico e não infectar outras pessoas”, disse o porta-voz do CDC em agosto.
A orientação do CDC veio depois que uma série de estudos científicos produziram evidências de que a imunidade ao coronavírus pode não ser duradoura.
Tais estudos fazem Josey questionar o que vem a seguir em sua vida.
“Se você usar a regra de três meses, eu tenho alguma imunidade agora, talvez. Mas quanto tempo posso esperar que dure?”, questionou. “Eu sei que meu tempo de anticorpos da segunda rodada provavelmente está chegando ao fim”.
De acordo com um estudo divulgado em julho, os anticorpos podem começar a desaparecer apenas 20 a 30 dias após os primeiros sintomas da Covid-19.
Recentemente, um homem em Hong Kong testou positivo duas vezes, tornando-se o primeiro caso oficialmente documentado de reinfecção por coronavírus depois que cientistas sequenciaram os genomas das cepas virais que o adoeceram.
Cientistas da Universidade de Nevada em Reno e do Laboratório de Saúde Pública do Estado de Nevada relataram em 28 de agosto, em um estudo preliminar, que um homem de 25 anos havia testado positivo em duas infecções distintas por coronavírus.
Ele se tornou o primeiro caso oficial de reinfecção nos Estados Unidos.
A fim de provar que o segundo caso do advogado Josey de Covid-19 também é uma reinfecção distinta, os cientistas precisariam realizar o sequenciamento genético de amostras de vírus para ver se seu segundo caso de Covid-19 emergiu de uma cepa de vírus diferente, disse Kline.
Esperança
Para se conectar com outras pessoas, o advogado Josey se juntou ao Survivor Corps, uma comunidade online para sobreviventes do coronavírus com mais de 100 mil membros compartilhando experiências.
Josey conta que está quase totalmente de volta ao normal agora, mas os abalos que sofreu pela doença estão gravados em sua memória.
“Fico extremamente grato por ter minha vida e minha saúde. Ainda tenho um emprego e um lugar para morar. Muitas pessoas foram impactadas por isso e perderam tudo ou perderam um ente querido”.
Exasperado com as voltas e reviravoltas de sua jornada, e sem conseguir dormir uma noite em julho, ele postou no grupo Survivor Corps. Outros sobreviventes, muitos deles, ofereceram encorajamento e recontaram o que estavam passando.
Ele se sentiu animado.
“Tento ser paciente e grato. Eles me mantêm com os pés no chão. Não me senti isolado ou sozinho”.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).