Casos de Covid-19 em funcionários da Petrobras mais que dobraram, diz sindicato
Sindicatos ligados à Federação Única dos Petroleiros afirmam que ocorrências da doença aumentaram entre outubro e novembro


A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e os sindicatos ligados à FUP têm relatado um aumento significativo de casos de Covid-19 entre os trabalhadores do sistema Petrobras.
Segundo levantamento do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindipetroNF), em cálculos feitos a partir dos dados divulgados no Boletim de Monitoramento Covid-19, publicado semanalmente pelo Ministério de Minas e Energia (MME), somente na primeira semana de dezembro foram confirmados 328 casos de Covid-19 em funcionários do sistema Petrobras. Em novembro, o número total de casos reportados pelo MME foi de 463, mais do que o dobro de casos reportados em outubro.
Para se ter dimensão do aumento de casos em trabalhadores da Petrobras, em novembro o número de ocorrências foi maior do que os meses de setembro (178) e outubro (163) somados. Apenas na primeira semana deste mês o número é praticamente o mesmo do que a soma de setembro e outubro, que é de 341.
Esses números podem ser ainda maiores. Segundo o coordenador de Segurança, Meio Ambiente e Saúde do SindipetroNF, Alexandre Vieira, os dados divulgados pelo MME desde maio deste ano não contabilizam os casos em profissionais terceirizados pela Petrobras.
A última publicação que incluiu tantos os funcionários próprios da empresa quanto os profissionais de companhias privadas que prestam serviço para a Petrobras foi feita em 4 de maio. Neste boletim, ainda de acordo com os cálculos do SindipetroNF, cerca de 70% dos contaminados foram de profissionais terceirizados.
Os profissionais privados e os profissionais da Petrobras trabalham juntos e têm contato entre si.
Em nota, a Petrobras afirmou que tem 241 casos confirmados em acompanhamento entre seus cerca de 45 mil empregados. E que “além destes, outros 67 empregados testaram positivo no processo de triagem, estando assintomáticos”.
Procurado, o Ministério de Minas e Energia ainda não retornou sobre a possível omissão dos dados de funcionários terceirizados e os motivos destes não estarem presentes nas estatísticas da pasta.
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Aumento de casos nas plataformas
De acordo com informações do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindipetroNF) e pelo Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista, do dia 23 de novembro ao dia 7 de dezembro, 126 funcionários da Petrobras que atuam nas plataformas localizadas nas bacias de Campos e de Santos tiveram que ser desembarcados após terem testado positivo para a Covid-19.
Na Bacia de Santos, foram 38 desembarques na plataforma P-70, de acordo com o Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista. Na Bacia de Campos, foram desembarcados 43 trabalhadores na plataforma P-55, 28 na P-47 e 17 na P-35, conforme informado pelo SindipetroNF nesta terça-feira (8).
Em relação à P-55, que tem o pior quadro recente entre as plataformas da Bacia de Campos, o SindipetroNF afirmou que tal surto de Covid-19 na plataforma “só reforça que a política da Petrobras de combate à pandemia e preservação da saúde não está funcionando”.
O sindicato reclama, por exemplo, que enquanto os funcionários contaminados e aqueles que tiveram contato com os contaminados estão reclusos nos Módulos Temporários de Acomodação, um tipo de contêiner onde essas pessoas não podem sair, novos funcionários embarcaram na plataforma.
Para o sindicato, a prioridade da utilização da aeronave por parte da Petrobras deveria ser primeiro a de retirar todo esse grupo de contaminados e quem teve contato com eles, e não de levar mais funcionários ao local.
Sobre os procedimentos preventivos realizados, a Petrobras informou que tem adotado “procedimentos robustos em todas as suas unidades desde o início da pandemia e que todas as ações têm base em evidências científicas e orientações de autoridades sanitárias”.
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A empresa disse ainda que “para unidades com confinamento, como plataformas, os procedimentos envolvem monitoramento de saúde desde 14 dias antes do embarque, quando todos os colaboradores são acompanhados por equipes de saúde e orientados a ficar em casa e reportar qualquer sintoma”.
“Antes do embarque é realizado o teste RT-PCR, tipo de teste com maior confiabilidade disponível no mercado”, afirmou a companhia.
Porém, para o médico do trabalho do SindipetroNF, Ricardo Garcia, a Petrobras tem agido de forma leviana no intuito de reduzir os riscos de seus funcionários. Segundo ele, “a testagem molecular RT-PCR deveria ser aplicada de forma frequente antes dos embarques, na semana seguinte e logo no desembarque, independentemente se alguém já teve Covid-19 ou se já testou positivo para o anticorpo IgG em teste rápido”, algo que não tem sido feito pela Petrobras, segundo ele.
Ele ainda citou o exemplo dos clubes de futebol, em que os atletas e funcionários são testados com frequência semanal ou duas vezes por semana em casos de viagem, e lembrou da existência de uma nova Norma Técnica do Ministério Público do Trabalho (MPT), publicada no início de dezembro, que leva em consideração a prática de ações que visam a precaução e não somente trabalhar com mecanismos de utilização de equipamentos de proteção individual – nem sempre eficazes.
Petroleiros ultrapassam casos da média nacional
Em outubro deste ano, a Fiocruz e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) divulgaram um parecer técnico mostrando que a frequência de casos de Covid-19 entre os petroleiros é mais do que o dobro da frequência registrada na população brasileira.
De acordo com o parecer, “o total de casos de Covid-19 na Petrobras equivale a uma incidência de 4.448,9 casos /100 mil, o que corresponde a uma incidência maior do que o dobro (2,15) da incidência registrada em todo o Brasil (2.067,9), até a mesma data (14/09)”.
(*Sob supervisão de Robson Santos)