Cientistas identificam origens diferentes de casos de coronavírus no Brasil

Sequenciamento genético aponta semelhanças com casos da Inglaterra e da Alemanha

Pesquisadores brasileiros identificaram que os genes do novo coronavírus encontrados nos dois casos brasileiros não são os mesmos, o que aponta que são de origens diferentes. O primeiro caso confirmado de infecção pelo COVID-19 no Brasil foi identificado no dia 26 de fevereiro e o segundo, 29.

A diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP (Universidade de São Paulo) Ester Sabino, acrescenta que ambos também são diferentes das sequências genéticas localizadas na China. “O primeiro isolado se mostrou geneticamente mais parecido com o vírus sequenciado na Alemanha. Já este segundo genoma assemelha-se mais ao sequenciado na Inglaterra”, disse à Agência Fapesp.

“Tal fato sugere que a epidemia de coronavírus está ficando madura na Europa, ou seja, já está ocorrendo transmissão interna nos países europeus. Para uma análise mais precisa, porém, precisamos dos dados da Itália, que ainda não foram sequenciados”, completa.

O sequenciamento completo do genoma do segundo paciente, confirmado no último sábado (29), foi realizado em 24 horas por pesquisadores da USP e do Instituto Adolfo Lutz. O trabalho é conduzido com apoio da Fapesp e de um grupo de pesquisadores brasileiros e britânicos dedicados a analisar dados de epidemias em tempo real, o Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE).

Sabino, uma das coordenadoras do CADDE, conta que o objetivo inicial dos trabalhos era implementar tecnologia para monitorar a epidemia de dengue no Brasil. “Quando foram divulgados os casos de coronavírus na China, em janeiro, começamos a nos preparar para também monitorar em tempo real essa nova doença”, conta. Ela acrescenta que as pesquisas permitiram reduzir o custo do teste molecular de US$ 500 (aproximadamente R$ 2,2 mil) para US$ 20 (R$ 89).

Segundo ela, o monitoramento ajuda a identificar a origem do vírus que chegou ao país, o que pode orientar ações de contenção da doença. Ao sequenciar um grande número de variações do mesmo vírus, é possível mapear a evolução e identificar as mutações mais letais. O grupo de cientistas utiliza um equipamento usado pela primeira vez em 2016, para acompanhar a evolução do vírus zika das Américas.

“É uma nova ferramenta para vigilância epidemiológica, que por enquanto só foi testada na África, durante a epidemia de ebola. Queremos divulgar logo esta segunda sequência para ajudar o pessoal da Itália a analisar seus dados. Compartilhamos com os italianos o protocolo usado por nossa equipe e os colocamos em contato com o grupo do CADDE na Inglaterra” completou Ester Sabino. 

De acordo com Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz, todos os genomas de COVID-19 identificados no Brasil serão sequenciados, enquanto forem esporádicos. Se os casos começarem a se multiplicar em larga escala, Sacchi diz que a análise será feita com base em métodos estatísticos, por meio de amostragens. 

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