CNN acompanha por 4 meses rotina de ‘vô’ de 90 anos à espera da vacina
Como milhões de idosos no Brasil, desde que a pandemia começou, ele foi obrigado a se isolar em casa
Roberto Poli tem 90 anos. No primeiro encontro dele com a CNN, em janeiro deste ano, ele ainda tinha 89 anos. O aposentado sempre teve uma vida ativa, mas na primeira conversa relatou solidão. Como milhões de idosos no Brasil, desde que a pandemia começou, ele foi obrigado a se isolar em casa.
“É ruim, é muito ruim. Falar que é bom? A gente descansa? Eu não quero descansar, eu não estou à procura de descanso.”
Roberto é viúvo e mora com o filho mais novo, com quem costuma ter longas conversas, mas o Gustavo sai cedo e volta tarde do trabalho e por isso, durante o dia o idoso passa a maior parte do tempo sozinho na companhia da música e das palavras cruzadas.
Nossa primeira conversa foi antes da vacinação começar no Brasil. Mesmo assim, a expectativa dele já era grande, de ser livre pra sair de casa sem medo, de estar cercado de pessoas e de ser o “vovito”, como é chamado pelos netos.
“Esse vôvito é um vô, avô carinhoso que um dos meus netos me deu e que foi endossado pelos amigos dele”
Assim que puder voltar a sair com segurança, ele sabe exatamente o que quer fazer: por em prática um velho sonho de dirigir pelas estradas do Brasil e aproveitar a vida fora de casa.
“Mas não quero aproveitar sozinho não, sozinho não tem graça nenhuma. Você já pensou chegar no alto do morro e ver um panorama belíssimo e não ter ninguém para curtir isso, para mostrar as cores, dizer olha só aquele morro, olha o céu azul, rosado, as flores o amarelo o ipê. Você precisa ter alguém do lado. Ser feliz sozinho não é o meu tipo”
No dia 12 de fevereiro a espera terminou. O vôvito acordou cedo para finalmente receber a primeira dose da vacina. Com bom humor e paciência, o vôvito esperou mais 1 mês para receber a segunda dose da vacina, no dia 12 de março.

Segundo os especialistas, duas semanas após a segunda dose já se detecta a imunização, mas é depois de um mês que realmente se detecta a maior quantidade de anticorpos.
No dia 15 de abril tivemos nosso último encontro com o vôvito, já imunizado. Quando nós começamos a preparar essa reportagem, em janeiro, já imaginávamos inúmeras formas de concluir a história.
Poderia ser com o Roberto pegando a estrada como tanto deseja, ou com o vôvito ganhando beijos e abraços da família, mas ninguém poderia imaginar que a situação da pandemia ia piorar tanto e por isso nosso último encontro foi com ele ainda em casa e em isolamento.
Com a sabedoria dos 90 anos ele, com poucas palavras, conseguiu transformar este final,que poderia ser triste, em esperança. Vôvito mais uma vez nos ensinou que paciência é uma das maiores virtudes.
“Não há mal que nunca acabe. Vai acabar. Quando acabar vamos estar aqui, com saúde, alegres e vivendo e é o importante”.
