CNN tem acesso à UTI do primeiro hospital de SP a operar com capacidade total
Instituto de Infectologia Emílio Ribas só recebe pacientes com o novo coronavírus e nesta semana chegou a operar com 100% dos leitos de UTI ocupados


Medo, incerteza, desafio. As três palavras resumem o sentimento dos profissionais da saúde neste momento de pandemia.
No Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência nacional no tratamento de doenças infectocontagiosas, o clima tem sido de apreensão.
O hospital, que antes tratava doentes com HIV e tuberculose, por exemplo, agora só recebe pacientes com o novo coronavírus e nesta semana foi o primeiro de São Paulo a operar com 100% dos leitos de UTI ocupados.
“Estamos fazendo o máximo que a gente pode. Todas as nossas energias estão sendo gastas aqui, deixando de ver família, filhos, amigos, parentes. Então, se você está achando que é brincadeira, por favor, pelo amor de Deus, fique em casa gente”, implora a enfermeira Marileide Candido Alves.
A reportagem da CNN teve acesso à UTI do Emílio Ribas. Todos os procedimentos de segurança foram tomados. As recomendações eram ficar pouco tempo no local e permanecer em silêncio para não atrapalhar os trabalhos.
Nos 30 leitos disponíveis, o entra e sai de profissionais é constante. Todos os pacientes estão em estado gravíssimo. Por mais que esteja operando com a capacidade máxima, não há filas por vagas porque ainda é possível encontrar leitos para pacientes em outros hospitais. A sensação é de que tudo está sob controle. Mas a situação pode mudar rapidamente.
“Como são pacientes entubados, temos que ficar sempre em alerta. Uma hora a pressão cai, aumenta a frequência cardíaca, saturação cai, então tem que ficar bem atento. Principalmente no começo da doença, quando o médico acaba de entubar. Para estabilizar demora um pouco, então tem que ficar bem alerta”, explica o técnico de enfermagem Edson Martins Cardoso.
Edson fala com conhecimento de causa. Ele é um dos profissionais da saúde que contraíram o novo coronavírus. “Me sinto com bastante orgulho de poder voltar. Porque quando a gente está internado não sabe se vai poder voltar, se vai voltar, se estará 100%, se o psicológico vai aguentar. Graças a Deus voltei normal”, disse.
A batalha dos profissionais da saúde, a luta pela vida, é digna de aplausos. Mas o que chama a atenção na UTI do Emílio Ribas é a idade das pessoas que estão internadas: 30, 40, 50 anos. A mais nova paciente tem apenas 22 anos. A jovem está inconsciente, entubada e em estado grave.
Na outra ponta, a paciente mais velha internada na UTI tem 75 anos. Uma das dez filhas dela conta que a mãe tem doenças cardíacas e vem piorando desde o dia 7 de abril, com febre e muita falta de ar. Uma guerra que a família espera vencer em breve.
“Eu estou sempre falando para ela: ‘seja forte mãe’. Estive segunda-feira com ela e falei: ‘mãe eu te amo, seja forte que nós estamos aqui te esperando’. E eu sei que ela é forte e tem vontade de viver. Então ela vai vencer”, afirma a cuidadora Daiane Castellon.
Em todo o estado de São Paulo, mais de 2.300 pessoas estão internadas com o novo coronavírus em UTIs e enfermarias. Um número que, segundo as autoridades, vai aumentar até maio e comprometer ainda mais a capacidade de atendimento da rede pública de saúde.
O Emílio Ribas foi o primeiro hospital de referência do estado a apresentar saturação do sistema. Outros já estão perto. O Hospital das Clínicas tem 83% dos leitos de UTI ocupados, e o Hospital Geral de Pedreira, na Zona Sul, 93%.
“É o primeiro hospital que atinge [100% de ocupação da UTI], mas eu tenho a impressão de que rapidamente teremos outros atingindo também. Se observarmos os dados apontados pelo governo, eles já sinalizam que estamos com uma taxa de ocupação de leitos [nos hospitais públicos] de mais de 80%”, avalia o diretor técnico do Instituto Emílio Ribas, Luiz Carlos Pereira Júnior.
A luta contra o novo coronavírus exige esforços 24 horas. A Marileide, do início da reportagem, tem dois filhos pequenos e não consegue brincar com eles desde o início da pandemia. Mas ela sabe que o esforço não será em vão. Quando perguntada sobre qual história iria contar para os netos no futuro, respondeu: “vou dizer a eles que eu estive aqui, eu tentei ajudar ao máximo que eu pude. Eu participei. Eu tentei ajudar”.