Correspondente Médico: Como ser multitarefa afeta a saúde mental?
O médico esclarece há diferentes tipos de atenção – sustentada, alternada, seletiva e concentrada – e que a função multitarefa exige uma atenção dividida
Entre as mudanças de hábito provocadas pela pandemia, o home office tornou-se parte da vida de muitas pessoas por conta do isolamento social e, em alguns casos, levou a um comportamento multitarefa.
O impacto na saúde mental causado pelo acúmulo das funções do trabalho, de cuidar da casa e dos filhos, quase que simultâneamente, é o tema da edição desta sexta-feira (17) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia.
O neurocientista Fernando Gomes explica que é esperado que o ser humano consiga fazer muitas tarefas ao mesmo tempo e que isso acaba sendo uma necessidade do dia a dia, porém “acabamos exigindo demais desse sistema”, principalmente com a sofisticação tecnologia, que permite usar cada vez mais funcionalidades ao mesmo tempo.
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O médico esclarece há diferentes tipos de atenção – sustentada, alternada, seletiva e concentrada – e que a função multitarefa exige uma atenção dividida.
A sustentada é aquela para uma tarefa que exige foco durante algum tempo. A alternada, ele exemplifica, é como estar em uma festa conversando com uma pessoa, iniciar o assunto com outra e conseguir voltar para a anterior. Já a seletiva mantém o foco, apesar de distrações exteriores que podem tentar desviar essa atenção.
“Ser multitarefa é a atenção dividida, o sonho de consumo de todo mundo. Mas você já imaginou escrever coisas diferentes com as duas mãos? Isso seria o cúmulo da atividade multitarefa”, reflete.
Segundo o neurologista, “a neurociência já provou que, quando fazemos mais de uma tarefa ao mesmo tempo, embora consigamos executar isso e ter um resultado, ela nunca vai ser superior a quando você executa por uma tarefa por vez”.
Por fim, o especialista explica que a neuroplasticidade proporciona que essa habilidade seja aprendida. “Porque a necessidade faz com que o cérebro seja treinado para isso”.
E acrescenta que o excesso dessa função pode levar a uma sobrecarga mental. “Quando estamos executando isso de uma forma exigida para ter um resultado de qualquer forma, a gente tem um gasto metabólico maior dentro do tecido cerebral, e isso é algo que pode provocar ansiedade, frustração e faz com que, não tendo o resultado da forma desejada, uma baixa autoestima”, aponta.
“É um esgotamento mental, e se você exige isso a longo prazo, pode levar a um estado de estafa mental”, conclui.
