Correspondente Médico: Quais os efeitos da Covid-19 no sistema nervoso?
Estudo diz que pacientes podem ter graves danos cerebrais


Na edição desta segunda-feira (22) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes falou sobre os efeitos do novo coronavírus no sistema nervoso. O médico também abordou os impactos do excesso das ‘telas digitais’ na saúde das crianças e sobre ‘neurônio-espelho’ – que permite o aprendizado por imitação e pode explicar o relaxamento das pessoas com o isolamento social.
Sobre os reflexos neurológicos da Covid-19, o Journal of Alzheimer’s Disease fez uma experiência prévia, com formas anteriores de coronavírus, que mostram que, em longo prazo, os infectados pelo vírus podem desenvolver depressão, insônia, doença de Parkinson, perda de memória ou envelhecimento do cérebro. O estudo sugere classificar os danos cerebrais causados pela doença em três estágios.
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No primeiro, o dano é limitado às células epiteliais do nariz e da boca e os principais sintomas incluem perda transitória de olfato e paladar. “Muitas pessoas que tiveram este novo coronavírus relatam que, além da tosse, febre e dor no corpo, tiveram a perda da sensação do olfato e do paladar. Então, esta seria a primeira etapa relacionada ao vírus, que não conseguimos dizer se será definitivo ou não”, explicou Gomes.
Em seguida, a doença desencadeia uma enxurrada de inflamações, chamada tempestade de citocinas, que começa nos pulmões e viaja pelos vasos sanguíneos por todos os órgãos. Essa tempestade leva à formação de coágulos sanguíneos que causam pequenos ou grandes derrames no cérebro. “Todo este processo é uma escalada de gravidade”, disse o médico.
“Nesta fase, você tem uma inflamação no pulmão e um processo inflamatório em todo o corpo. Quando isso acontece, pode interferir no processo de coagulação do sangue, que deve ter um fluxo fluído. Com o bloqueio de passagem, nutrientes deixam de passar pelos vasos, inclusive oxigênio”, acrescentou.
No terceiro estágio, um nível explosivo de tempestade de citocinas danifica a chamada barreira hematoencefálica, que é uma camada protetora de isolamento existente nos vasos sanguíneos do cérebro justamente para dificultar a entrada de microorganismos e substâncias nocivas.
” Este estágio é ainda mais grave. Quando existe uma tempestade de citocinas, ela derruba a barreira que divide o sangue do cérebro. Com isso, algumas partes do vírus podem passar pelos vasos e atingir o tecido cerebral, causando uma encefalite e podendo levar à morte”, concluiu.
Saúde das crianças
Com a pandemia e as aulas escolares online, as horas diante das telas de computador e tefelones só aumentaram entre as crianças. Como muitos pais estão trabalhando de casa, fica difícil investir em atividade lúdicas, e os eletrônicos acabam sendo aliados durante a pandemia.
O excesso é prejudicial. Gomes explicou que quando há existência de ansiedade da separação do equipamento eletrônico, já pode ser considerado um sinal de alerta.
“Nosso cérebro responde ao estímulo que a gente dá. Se a criança está sendo privada de um relacionamento social presencial, é muito provável que ela tenha dificuldade de realizar estas tarefas na adolescência. Por isso é muito importante a gente exercer atividades fisicas, artísticas para estimular diversas áreas do nosso cérebro”, explicou.
‘Neurônio-espelho’
Com a flexibilização e a reabertura de alguns setores da economia, o comportamento das pessoas também mudou com a sensação de “volta ao normal”, o que fica evidenciado pela queda no isolamento social e descuido com as medidas de higiene necessárias para o combate da pandemia.
O médico explicou que o chamado “neurônio espelho” está ligado à repetição do comportamento. Ele permite o aprendizado por imitação, já que é acionado quando é necessário observar ou reproduzir o comportamento de outros seres da mesma espécie. “É uma imitação inconsciente, que é feita mesmo quando você não quer”, acrescentou.
Isso pode esxplicar por que as pessoas veem uma fila na porta do shopping, acham que tudo voltou ao normal e resolvem ficar na fila também.
(Edição: Sinara Peixoto)