Morte de professor por COVID-19 no RJ não é contabilizada
Rodrigo Camargo Vieira era diabético e hipertenso; sua esposa, Carla Oliveira, também testou positivo para a doença


No dia 2 de abril, Rodrigo Camargo Vieira, de 39 anos, morreu no Hospital de São José dos Lírios, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. Em seu atestado de óbito, as causas da morte foram COVID-19, síndrome respiratória grave, diabetes e insuficiência renal aguda. Entretanto, esse óbito não consta nas estatísticas de COVID-19 da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ).
Além da não comunicação do caso, a esposa de Rodrigo, Carla Medeiros, afirma que houve negligência do Hospital de Clínicas de Irajá e do Hospital de Clínicas de Jacarepaguá, que fizeram os primeiros atendimentos do casal.
A não inclusão deste caso nas estatísticas oficiais da SES-RJ coloca em dúvida o número divulgado pelas autoridades. O último boletim registra 64 mortes e 1.394 casos confirmados.
Questionada pela nossa reportagem, a Secretaria informou o seguinte: “seguindo recomendação do Conselho Federal de Medicina, (a SES) não comenta casos específicos de pacientes e mortes confirmadas ou investigadas, preservando informações que devem ser compartilhadas apenas entre as autoridades sanitárias, pacientes e familiares”, acrescentando que todos os casos estão na plataforma digital do órgão.
Até o momento desta reportagem, os hospitais envolvidos no caso ainda não haviam respondido a CNN.
A cronologia do caso
No dia 16 de março, Carla Medeiros e seu marido Rodrigo Camargo Vieira, moradores de Honório Gurgel, no Rio de Janeiro, começaram a se sentir mal.
No dia 17, foram ao hospital de clínicas de Irajá. Rodrigo estava com uma tosse seca intensa e Carla sem paladar. Nesse primeiro atendimento, após os examinarem com um estetoscópio, o hospital recomendou que ambos repousassem em casa e tomassem Dipirona, segundo relatos de Carla.
Em casa, os dois seguiram piorando e, no dia 22, resolveram ir ao Hospital de Clínicas de Jacarepaguá. Nesse atendimento, Carla passou por um raio-x e foi constatada uma pequena mancha no pulmão. O diagnóstico indicou princípio de pneumonia e a ela foram receitados antibióticos e quarentena em casa. A seu marido, que segundo ela já apresentava sintomas de falta de ar, era hipertenso e diabéticos, apenas foram receitados remédios para alergia.
No dia 25, o casal voltou ao mesmo hospital de Jacarepaguá. Carla relata que estava com muita falta de ar. Chegando ao hospital, ela foi direto para o atendimento.
“Chegando lá já fui para a sala de atendimento, me colocaram no respirador e depois fiz um novo raio-x. Meu pulmão já estava todo tomado e disseram que eu iria precisar de uma tomografia”, disse a esposa de Rodrigo.
Como o tomógrafo deste hospital de Jacarepaguá estava quebrado, Carla teria que ser encaminhada a outro hospital.
“Já no atendimento do meu marido”, relatou Carla, “apenas ouviram seu pulmão com o estetoscópio e disseram que estava tudo limpo e que ele não tinha febre. Sendo assim, ele voltou para a sala de espera, visivelmente abalado e já com leves sintomas de falta de ar”.
Carla então foi transferida para o hospital dos Lírios, em São Gonçalo, local que seu plano recomendou para que ela pudesse fazer a tomografia. Este era o quarto atendimento da esposa de Rodrigo. Segundo Carla, foi o único hospital que fez de tudo para ajudá-los.
“Nessa minha transferência, o Rodrigo voltou em casa para pegar algumas roupas e meus produtos de higiene, pois ele já imaginava que eu ficaria internada. Quando ele chegou no hospital, em São Gonçalo, para continuar comigo ao meu lado, eu senti ele definhando e pedi para que ele fosse na emergência. Logo fizeram uma tomografia no Rodrigo e de imediato o levaram para o CTI”.
‘Peço que as pessoas acordem’
Era dia 25 de março quando Rodrigo foi internado no CTI, onde ficou até o dia 29. De lá, o professor teve que ser entubado pois seu quadro havia se agravado rapidamente. Sua esposa começava a melhorar e voltou para casa. Segundo ela, no mesmo dia 25, ambos fizeram o teste para Covid-19, teste este que deu positivo, de acordo com a própria Carla.
Diabético e hipertenso, Rodrigo não conseguiu se recuperar e faleceu no dia 2 de abril.
“Eu poderia estar com ele aqui (em casa). Se ele tivesse sido atendido de forma correta no primeiro hospital, eu acredito que ele estaria aqui comigo. Ele era do grupo de risco. Eu e toda a família estamos sofrendo muito. Eu não pude nem dar o último adeus ao meu marido. Peço que as pessoas acordem. Muitas estão brincando com as vidas e não estão respeitando a quarentena”, desabafou Carla.
Rodrigo, que dava aulas de matemática na rede estadual de ensino, deixa uma filha e um enteado, esposa, mãe e uma irmã.