Hemocentros reforçam segurança para recuperar queda de doações de sangue
Agendamento e medidas de distanciamento garantem segurança na hora da doação. Saiba como ajudar


As doações de sangue caíram 10% no Brasil em 2020 em 2020. O dado foi apresentado pelo Ministério da Saúde, nesta segunda-feira (14), em lançamento da campanha “Doe sangue regularmente. Com a nossa união, a vida se completa”. Em 2019, foram 3,27 milhões de doações. Já no primeiro ano da Covid-19, no país, foram 2,95 milhões.
Especialistas consultados pela CNN afirmam que o medo de contrair o novo coronavírus e a necessidade da adoção de medidas de distanciamento, que restringiram a circulação de pessoas, estão entre os fatores relacionados à redução das doações em todo o país no período.
Na data em que é celebrado o Dia Mundial do Doador de Sangue (14 de junho), especialistas chamam a atenção para o problema da queda nos estoques e reforçam a importância e a segurança da doação.
Segundo o Ministério da Saúde, mesmo com a queda, não houve desabastecimento por causa de um plano de contingência que remanejou as bolsas entre os estados. No ano passado, foram remanejadas 2.481 bolsas de concentrado de hemácias.
Até agora, em 2021, foram 185 bolsas. Para melhorar a situação neste segundo ano de pandemia, o Ministério da Saúde já investiu quase o mesmo valor do ano todo de 2020. São R$ 1,6 bilhão na Rede Nacional de Serviços de Hematologia e Hemoterapia (Hemorrede). Em 2020, foram R$ 1,8 bilhão.
Entre os estados que mais precisaram do remanejamento de bolsas, estão Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Amapá e Roraima.
Queda nos estoques
A Fundação Pró-Sangue, hemocentro público do Estado de São Paulo, que atende mais de cem instituições de saúde, como hospitais e clínicas, chegou a operar com 34% das reservas de sangue no mês de maio.
A situação melhorou um pouco em junho, quando os estoques atingiram 57% (dados de 9 de junho), mas como a doação e o uso das bolsas de sangue mudam a cada dia, a situação fica longe de ser confortável.
“Não estamos conseguindo manter o estoque. A pandemia prejudicou a doação, pois as pessoas ficam em casa com medo de sair para doar sangue, mas aqui é um local seguro”, afirma o hematologista da Fundação Pró-Sangue, Carlos Roberto Jorge.
Ele diz que os tipos sanguíneos em situação mais crítica por falta de estoque na Fundação Pró-Sangue são os do tipo O (positivo e negativo). No site da Fundação, há um alerta para a diminuição de estoques dos tipos B (positivo e negativo) e A negativo. “Precisamos de 12 mil bolsas coletadas todo o mês, e estamos tendo 9 mil, no máximo”, ressalta Jorge.
Doação com segurança
A Fundação Pró-Sangue reforçou as medidas de distanciamento social para garantir que o doador se sentisse seguro ao fazer a ação. “Para evitar aglomeração, temos agendamento individual pelo site, distanciamento entre poltronas e álcool em gel em todo setor, além do uso obrigatório de máscaras”, explica Jorge.
O Ministério da Saúde informou por e-mail que os 137 hemocentros do país também se prepararam para receber os doadores com medidas reforçadas de higiene e distanciamento social.
“Todos os hemocentros brasileiros têm adotado as medidas de higiene necessárias para a contenção da disseminação do vírus e estão preparados para receber os candidatos com segurança, disponibilizando condições de lavagem de mãos ou uso de antissépticos e realização de doação sem exposição a aglomerados de pessoas, por meio de agendamentos prévios de coleta e outras estratégias”, diz a nota.
O texto diz ainda que os cuidados com a higienização das áreas, dos instrumentos e das superfícies também têm sido intensificados pelos hemocentros, tornando-os assim ambientes ainda mais seguros aos doadores na prevenção da Covid-19.
Educação e altruísmo
A corrida pelo abastecimento contínuo poderia ser aliviada com medidas de conscientização e educação da população sobre a necessidade e utilidade da doação de sangue, segundo os especialistas. Para Dante Langhi, hematologista e presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), a educação para a doação de sangue poderia começar na escola.
“Mais importante do que fazer campanhas é promover essa conscientização entre as crianças na escola, mostrar que a doação de sangue é um ato de cidadania que precisa ser feito de forma espontânea”, afirma.
Carlos Roberto Jorge, da Fundação Pró-Sangue, concorda e acrescenta que as crianças tendem a seguir o exemplo de pais doadores. “Se eles sabem que os pais frequentemente fazem a doação, quando crescerem vão querer fazer o mesmo”.
Os dois especialistas dizem ainda que falta conscientizar as pessoas de que o sangue doado é usado para salvar vidas.
Remanejamento de bolsas de sangue
O Ministério da Saúde afirma que não houve desabastecimento nos estoques de nenhum hemocentro no Brasil. A pasta diz acompanhar diariamente o quantitativo de bolsas de sangue nos maiores hemocentros estaduais.
Para evitar o desabastecimento, o Ministério da Saúde diz ter acionado o Plano Nacional de Contingência do Sangue, que possibilitou o remanejamento de bolsas de sangue para estados com maior dificuldade.
“O hemocentro que fornece as bolsas de sangue não necessariamente é o mais próximo, mas aquele que no momento tem maior quantidade em estoque. Essa estratégia permite uma possível antecipação na tomada de decisão, visando minimizar o impacto de eventuais desabastecimentos”, esclareceu a pasta por e-mail.
Como doar
- É necessário ter entre 16 e 69 anos e pesar no mínimo 50 quilos. No dia da doação, estar alimentado, evitar comidas gordurosas e ter dormido ao menos seis das últimas 24 horas. É necessário apresentar documento oficial com foto.
- Homens podem doar novamente após dois meses, em um total de até quatro vezes por ano. Para mulheres, esse intervalo é de até três vezes por ano, com uma doação a cada, no mínimo, três meses.
- Não podem doar gestantes, mães que estão amamentando, pessoas que tiveram quadro de hepatite após os 11 anos de idade e quem já utilizou drogas ilícitas injetáveis.
- São critérios de eliminação também evidências clínicas ou laboratoriais de doenças transmissíveis pelo sangue, como hepatites B e C, Aids, HTLV 1 e 2 e doença de Chagas.
- Também fica impedido de doar quem pratica sexo não seguro ou tem vários parceiros, independentemente do gênero, é usuário de drogas injetáveis e inalatórias ou parceiro sexual de portadores de Aids ou de hepatite.
- Em julho de 2020, obedecendo a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a Anvisa retirou a restrição da doação de homens gays. Até então, homens que tivessem se relacionado sexualmente com outros homens num prazo de 12 meses eram proibidos de doar. O STF julgou a medida discriminatória e, portanto, inconstitucional.
- Para doar, interessados devem procurar o hemocentro do seu estado. Em São Paulo, o agendamento pode ser feito direto pelo site da Fundação Pró-Sangue.
- A pandemia impôs algumas restrições adicionais, além das já existentes. Pessoas infectadas pela Covid-19 devem guardar pelo menos 30 dias depois da completa recuperação para fazerem a doação. Que tiver sintomas gripais deve aguardar 7 dias.