Incidência de Covid-19 entre indígenas é maior que no Brasil como um todo
Taxa entre habitantes de terras indígenas está em 761,1 casos por 100 mil habitantes, contra 689,4 no país de forma geral, mostram dados do governo


A taxa de incidência da Covid-19 entre a população indígena atendida pelo SasiSUS (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena) está em 761,1 casos por 100 mil habitantes, maior que a do Brasil como um todo (689,4), mostra um cruzamento entre dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, e números nacionais reunidos pelo governo federal.
A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes registrada entre indígenas foi de 19,6, maior que a de estados como Mato Grosso (18,2), Distrito Federal (17,8), Tocantins (13) e Bahia (12,8), entre outros, conforme dados divulgados nesta quarta-feira (1º) no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Os dados vêm a público no mesmo dia em que a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e seis partidos políticos entraram com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para obrigar o governo federal a instalar e manter barreiras sanitárias para proteger terras indígenas diante do avanço da pandemia do novo coronavírus nos povos isolados.
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A Sesai registrou 156 mortes de indígenas por Covid-19 até esta quarta-feira. A secretaria também registrou 6.846 casos de coronavírus entre indígenas. O número foi atingido três meses desde o registro do primeiro caso, em 1º de abril, quando uma agente indígena de saúde da etnia Kokama, no DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) Alto Rio Solimões (AM), testou positivo.
No Brasil como um todo, já foram registradas 60.632 mortes por Covid-19, assim como 1.448.753 casos confirmados da doença, de acordo com o Ministério da Saúde.
Segundo o boletim epidemiológico, o maior número de mortes (25) foi contabilizado justamente DSEI Alto Rio Solimões. A Sesai também registrou alto número de mortes no distrito de Xavante (15), no Mato Grosso; Leste de Roraima (11); Alto Rio Negro (11), no Amazonas; Guamá-Tocantins (10), no Pará; Maranhão (10); e Tapajós (10), no Pará. A primeira morte por Covid-19 entre indígenas foi confirmada pelo Ministério da Saúde em 3 de abril.
O DSEI com o maior número de casos é o do Maranhão (748), seguido pelo Alto Rio Solimões (733), Rio Tapajós (572), Guamá-Tocantins (561), Leste de Roraima (378), Amapá e Norte do Pará (368), e Alto Rio Negro (357).
A Sesai também registrou 776 casos suspeitos de coronavírus entre indígenas atendidos pelos DSEI e inscritos no Subsistema de Atenção à Saúde Indígenas, além de 3.383 indígenas recuperados da doença.
A unidade Kaiapó, no Pará, apresentou a maior taxa de incidência (4.062,6 casos por 100.000 habitantes) e a maior taxa de mortalidade (96,7 por 100.000 habitantes), enquanto a maior taxa de letalidade foi identificada na Xavante (13,8%).
Todas as informações dos boletins da Sesai são repassadas pelo SasiSUS, com informações apenas dos indígenas atendidos pelos 34 DSEIs do país. Os DSEI realizam o atendimento com base no território das terras indígenas.
Já segundo a Apib, que contabiliza casos também de fora das áreas dos DSEIs — ou seja, dos que não são atendidos pela Sesai — o número de indígenas com coronavírus é de 9.983, enquanto o de mortes por Covid-19 sobe para 407.
As informações foram reunidas pela Apib e divulgadas nesta quarta, com informações repassadas pelo Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, organizações indígenas e frentes de enfrentamento ao coronavírus nas comunidades.
Os dados, segundo a Apib, são somados com os dados da Sesai, das secretarias estaduais e municipais de Saúde, além do Ministério Público Federal. Até o momento, 119 povos já foram atingidos.
De acordo com a organização, o estado do Amazonas é o que teve mais mortes por Covid-19 entre indígenas (160), seguido pelo Pará (71), Roraima (42), Mato Grosso (35), Maranhão (23), Acre (15), Pernambuco (12), Ceará (9), Amapá (8), São Paulo (7), Rondônia (6), Alagoas (3), Rio Grande do Norte (3), Mato Grosso do Sul (2), Rio Grande do Sul (2), Paraíba (2), Espírito Santo (1), Rio de Janeiro (1) e Bahia (1).