Sistema de saúde pode colapsar e atrasar diagnóstico de câncer

Oncologistas alertam que o afastamento de médicos por conta do coronavírus pode comprometer o prognóstico dos futuros pacientes

O acesso aos serviços de diagnóstico, durante a pandemia, pode ser prejudicado e, por consequência, comprometer em até 100% do prognóstico dos futuros pacientes. Além disso, médicos temem pela falta dos insumos quimioterápicos – caso as empresas responsáveis pelo frete suspendam os serviços.

Durante o ano de 2020, o Brasil deve registrar 625 mil novos casos de câncer, revela a pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Este número deve se repetir também nos próximos dois anos.

Neste cenário da saúde pública, médicos do INCA (órgão auxiliar do Ministério da Saúde de referência para o tratamento da doença), estão preocupados com as consequências da pandemia do coronavírus.

Por ser um episódio novo para todos, ninguém sabe quais serão os desdobramentos no sistema de saúde. De fato, médicos já estão sendo afastados de suas funções por suspeita de estarem com a COVID-19.

“Não temos controle sobre a pandemia e nem sobre os médicos que poderão ficar doentes”, afirmou o doutor Alexandre Palladino, chefe do setor de oncologia da clínica 1 do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

“Existe a orientação para que sejam mantidos todos os tratamentos oncológicos, entretanto há a preocupação da sobrecarga do sistema de saúde devido ao afastamento dos médicos”, explicou à CNN.

Segundo informações, a ausência de médicos poderia provocar diversos outros contratempos no sistema de saúde.

De acordo com lei fixada em outubro do ano passado, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem até 30 dias para a realização dos exames de diagnóstico para câncer, após a primeira suspeita médica. Além deste prazo, são previstos outros 60 dias para o início do tratamento após o diagnóstico.

Mas na prática, isso não acontece. Pessoas chegam a esperar meses para iniciar o tratamento. E meio à pandemia este cenário pode ser ainda pior.

“Com o afastamento dos médicos, pode ocorrer a sobrecarga no setor da saúde. Por consequência, atrasar exames de diagnóstico para o câncer – prejudicando o tratamento do paciente”, relatou doutor Alexandre Palladino.

O diagnóstico no tempo certo garante até 100% de chance de cura. Quanto mais o tempo passa, as alternativas são menores; as doenças ficam mais agressivas; e o risco de letalidade aumenta.

Clínicas particulares

Em meio à pandemia, médicos também temem pela falta de medicamentos aos pacientes. “Parte dos insumos usados para produção das drogas quimioterápicas é importada. E se a cadeia de logística de transporte quebra; poderá faltar medicamentos aos pacientes”, revelou o doutor Bruno Ferrari, Fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas.

Além disso, as instituições privadas travam uma luta diária com as indústrias farmacêuticas para que não falte os insumos usados no tratamento dos pacientes, como as máscaras e luvas descartáveis.

Diferente do cenário que acontece na rede pública de saúde; a rede privada notou a ausência de pessoas nos exames de rotina. Segundo informações, elas estariam deixando de se cuidar por medo de contrair o coronavírus.

“As pessoas estão com medo de ir até hospitais e clinicas para fazer exames de diagnóstico. Estão deixando tudo para depois”, afirmou o doutor Bruno Ferrari.

Além dos exames que homens e mulheres devem fazer periodicamente; todos devem procurar um médico quando percebem algo de estranho no corpo. O médico alerta que o tempo pode ser decisivo para o sucesso do tratamento.

“O tumor de mama triplo negativo, por exemplo, se tratado até 30 dias após o diagnóstico tem maiores chances de cura”, explicou o doutor Bruno Ferrari.

A CNN questionou o Instituto de Nacional de Câncer sobre os frequentes atrasos para o início do tratamento de novos pacientes e também sobre qual estratégia o sistema de saúde público tomou para evitar que este prazo de 60 dias, previsto por lei, aumente durante a pandemia, mas não tivemos resposta até o momento.

A CNN também questionou a principal empresa de distribuição de medicamentos de alta complexidade e que atende demandas de hospitais e clínicas de todo o País sobre a possibilidade de atraso nas entregas dos insumos quimioterápicos. No entanto, a empresa disse não estar interessada em participar do assunto abordado nesta matéria.

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