Testes com vacina de Oxford contra Covid-19 podem levar um ano
Unifesp mantém conversas para testar em voluntários brasileiros uma vacina em pesquisa na Itália


Os estudos para comprovar a eficácia de uma potencial vacina contra o novo coronavírus desenvolvida na Universidade de Oxford podem levar até um ano na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A instituição brasileira mantém conversas adiantadas para também testar em voluntários brasileiros uma candidata a vacina criada na Itália, disse a reitora da Unifesp, Soraya Smaili.
Segundo ela, qualquer uma dessas vacinas que se provar eficaz contra a Covid-19 poderá ser produzida no Brasil, pois o país tem competência e infraestrutura técnica para isso.
Os testes com a potencial vacina da universidade britânica – uma das dez do mundo em estágio mais avançado de estudo – começaram nesta semana no Brasil e deverão incluir, inicialmente, 2 mil voluntários em São Paulo e outros mil no Rio de Janeiro.
Assista e leia também:
Voluntários brasileiros começam exames para receber testes de vacina de Oxford
Sanofi fecha acordo de US$ 2 bi para desenvolver vacina contra Covid-19
Covid-19: Fundação Lemann celebra início de testes da vacina de Oxford em SP
“Esta etapa, que é a fase 3, poderá levar até 12 meses”, disse Smaili. “Num prazo de seis meses, talvez a gente tenha um resultado preliminar. Mas não é possível dizer que em seis meses teremos a vacina. Isso não é possível dizer agora, temos que aguardar os resultados. Essa é uma etapa muito importante, é necessária concentração e a ciência tem o seu tempo.”
Após a aplicação da vacina nos voluntários (profissionais de saúde e funcionários do Hospital São Paulo, ligado à Unifesp, com idade entre 18 e 55 anos que estão expostos ao vírus), eles serão acompanhados por alguns meses, para detectar se a substância gerou a produção de anticorpos contra o vírus.
Os estudos em São Paulo estão sendo financiados pela Fundação Lemann, do empresário bilionário Jorge Paulo Lemann. No Rio, o programa é bancado pela Rede D’Or de hospitais.
Em vez de um vírus inativado, a vacina em estudo na Unifesp usa um vetor viral, com base em um vírus modificado que atinge chimpanzés, mas não humanos, ao qual é acrescida uma proteína que o novo coronavírus usa para invadir células e induzir a produção de anticorpos. O vírus inativado é a tecnologia adotada no candidato a imunizador desenvolvido pela empresa chinesa Sinovac e que será testado em voluntários brasileiros pelo Instituto Butantan a partir de julho.
A vacina britânica não é a única em estudo na Unifesp. A instituição participa de experimentos liderados pela Universidade de São Paulo (USP) para desenvolver uma vacina brasileira contra a Covid-19, que está em etapa pré-clínica.
Pesquisa na Itália
Além disso, a Unifesp pode fechar parceria para realizar no Brasil testes de comprovação de eficácia de uma candidata italiana para imunizar contra o novo coronavírus.
“Estamos já em fase avançada de conversas com o Instituto Nacional Lazzaro Spallanzani, da Itália, de Roma, que é um instituto voltado totalmente para doenças infecciosas e já produziu diversas vacinas, inclusive contra o ebola”, disse Smaili, que também é doutora em Farmocologia pela Unifesp e pesquisadora da instituição.
“Eles estão interessados para termos a fase 2 e depois a fase 3 também. É possível que nós tenhamos um número grande de voluntários envolvidos e esse esforço poderá envolver mais do que uma instituição, não só a Unifesp, o que é desejável”, afirmou ela.
A fase 2 dos testes com uma vacina, segundo Smaili, inclui ensaios em um grupo mais restrito de voluntários. Além disso, o fato de ela ter chegado neste ponto já indica um grau de segurança para a aplicação em humanos, com a necessidade de monitoramento dos pacientes.
Já a potencial vacina cujo estudo é liderado pela USP é desenvolvida desde o início no Brasil e está em um estágio anterior, pré-clínico. “Essa vacina está caminhando bem, ela foi construída de uma outra forma e ela também será promissora”, disse Smaili.
Produção local
De acordo com a reitora da Unifesp, qualquer vacina que se provar eficaz na proteção contra a Covid-19, doença que já infectou quase 1,2 milhão de pessoas e matou mais de 53 mil no Brasil, poderá ser produzida no país, em instituições como a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan, por exemplo.
“Tendo o registro, nós temos a capacidade no Brasil de produção, sem sombra de dúvida, como já fizemos com inúmeras vacinas e fazemos”, disse ela.
Nesta semana, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou em audiência em comissão mista do Congresso Nacional que o governo federal pode assinar ainda nesta semana uma parceria para produzir no Brasil a potencial vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, em parceria com a empresa biofarmacêutica AstraZeneca.
A reitora da Unifesp acredita que, pelo fato de ter participado do estudo da vacina potencial, o Brasil fica em posição privilegiada para recebê-la, assim os estudos clínicos comprovarem sua eficácia.