Trump está tomando hidroxicloroquina; o que é e o que dizem estudos recentes
Medicamento utilizado para tratar a malária ainda divide muitos especialistas


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nessa segunda-feira (18) que está tomando hidroxicloroquina, um medicamento que foi aprovado para tratar pacientes infectados pelo novo coronavírus, ainda que não existem evidências suficientes de que a substância previna a doença.
“Há algumas semanas, eu comecei a tomar”, afirmou Trump, acrescentando que vem tomando o remédio, diariamente, por uma semana e meia. Questionado se houve uma recomendação médica, o presidente disse apenas que “não”.
O que é a hidroxicloroquina?
A hidroxicloroquina e a cloroquina derivam da substância quinina, que os franceses isolaram em 1820 após extração da planta cinchona, segundo informações da fundação Medicines for Malaria Venture. Em 1934, cientistas alemães criaram a cloroquina sintética como parte de uma classe de medicamentos usados para prevenir ou tratar a malária.
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Qual a diferença entre cloroquina e hidroxicloroquina?
As duas substâncias são basicamente a mesma coisa. A diferença é que a hidroxicloroquina é considerada uma versão menos tóxica da cloroquina.
Para que serve a hidroxicloroquina?
Ela é utilizada para prevenir ou tratar a malária, além de outras doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatóide. Contudo, desde 2006 não se tem recomendado o uso desse medicamento para pacientes com malária em estado grave, por causa de problemas de resistência da doença, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para a Escola Americana de Reumatologia, ainda não se sabe por que a hidroxicloroquina é eficaz no tratamento de doenças autoimunes, mas acredita-se que ela interfira na comunicação das células do sistema imunológico.
A hidroxicloroquina pode ser usada em pacientes com Covid-19?
Segundo os estudos mais recentes, ainda não há evidências de que tomar esse medicamento possa prevenir ou curar a doença, mas efeitos colaterais graves já foram registrados nesse período.
O que dizem os estudos?
Uma nova pesquisa mostra que a hidroxicloroquina não funciona contra o novo coronavírus e poderia até mesmo causar problemas cardíacos. Esse estudo foi publicado recentemente no Jornal da Associação Médica Americana. Pouco antes, uma outra pesquisa, publicada no Jornal de Medicina da Nova Inglaterra, também mostrou que o medicamento não combate o vírus.
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Outro estudo indicou que os pacientes com o novo coronavírus, que tomaram hidroxicloroquina, tinham a mesma chance de precisar de ventilação mecânica e apresentaram taxas de mortalidade mais altas em comparação àqueles que não tomaram o medicamento, de acordo com a análise feita com centenas de pacientes na Administração de Saúde de Veteranos dos EUA.
Pesquisas no Brasil e na Suécia também identificaram efeitos colaterais nos pacientes, como o desenvolvimento de problemas cardíacos. Além disso, um estudo da França determinou que a hidroxicloroquina não combate a Covid-19 e também associou a substância a complicações cardíacas.
Antes desses estudos mais recentes, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, em inglês) e Institutos Nacionais de Saúde do país emitiram alertas sobre o uso do medicamento por pacientes com o novo coronavírus. A FDA disse que a hidroxicloroquina só deveria ser usada em hospitais ou ensaios clínicos porque pode ser fatal ou causar efeitos colaterais graves.
Quais os efeitos colaterais causados pelo uso da hidroxicloroquina?
Segundo especialistas, além de graves problemas no ritmo cardíaco dos pacientes – principalmente quando combinada com o uso do antibiótico azitromicina ou outros medicamentos que possam afetar o coração –, também já foram registrados efeitos colaterais gastrointestinais.
A hidroxicloroquina está autorizada no Brasil?
O Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina em pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19, mas somente para aqueles em estado grave e sempre após um consenso entre médico e paciente.
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O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, revisou, nessa segunda, um novo protocolo de uso da cloroquina. Fontes do Ministério da Saúde com quem a CNN conversou disseram que ele deve padronizar o uso do medicamento para pacientes entre os casos leves e na atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar disso, a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) divulgou, no mesmo dia, um parecer contrário ao uso do medicamento. O comitê científico e a diretoria da entidade afirmam que é “precoce” recomendar o uso dos dois remédios para pacientes com o novo coronavírus, pois, reafirmam, além dos possíveis efeitos adversos graves, “diferentes estudos mostram não haver benefícios” comprovados.